Pandemia provoca redução brusca no crescimento dos salários em Portugal

O efeito negativo mais significativo e imediato nos salários foi sentido nas empresas que recorreram ao layoff. Nas outras empresas, a tendência de crescimento que se registava antes da crise ainda não foi anulada.

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Paulo Pimenta

A quebra nos vencimentos dos trabalhadores abrangidos pelo layoff simplificado conduziu, durante os meses da pandemia, a uma redução do ritmo de crescimento das remunerações praticadas em Portugal para um valor que é metade daquele que se verificava antes da crise.

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A quebra nos vencimentos dos trabalhadores abrangidos pelo layoff simplificado conduziu, durante os meses da pandemia, a uma redução do ritmo de crescimento das remunerações praticadas em Portugal para um valor que é metade daquele que se verificava antes da crise.

De acordo com os dados publicados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística com base na informação disponibilizada pela Segurança Social, o salário bruto médio em Portugal registou, durante o segundo trimestre deste ano, um crescimento nominal de 1,6% face ao período homólogo do ano anterior. Em termos reais, uma vez que a taxa de inflação apresenta neste momento valores negativos, a variação foi de 1,8%.

Em Março, quando a pandemia chegou ao país, a taxa de crescimento do salário bruto médio nacional situava-se em 3,2%, um valor em linha com aquilo que vinha acontecendo em Portugal nos últimos dois anos, período de uma maior aceleração salarial, provocada pela combinação do crescimento da economia com as taxas de desemprego relativamente baixas.

Agora, com a crise, que provocou uma queda da economia e deverá fazer subir o desemprego, a tendência será, de forma quase inevitável, um abrandamento dos salários. O facto de os salários, em média, continuarem a apresentar uma variação positiva no segundo trimestre até pode surpreender, tendo em conta a dimensão do choque económico, mas é explicado por, nas empresas onde não houve um recurso ao layoff, o nível salarial não ter sido ainda afectado nestes meses iniciais de crise. Isto faz com que, quando se calculam as variações face ao período homólogo, a tendência de subida que se registava antes da crise ainda se fazer sentir.

Já no que diz respeito aos trabalhadores das empresas que, por serem mais afectadas pela crise, recorreram ao layoff simplificado, a diminuição das remunerações, mesmo em relação ao ano passado, é já uma realidade.

O INE apresenta dados para demonstrar a diferença entre estes dois tipos de empresas. Assim, se nas empresas que não recorreram ao layoff simplificado a taxa de crescimento do salário bruto médio foi de 5,5%, não revelando uma deterioração face aos valores registados antes da crise, no que diz respeito às empresas que recorreram ao layoff, o mesmo indicador caiu já 2%.

Para o futuro, à medida que as empresas vão saindo do regime de layoff, alguns trabalhadores podem recuperar o seu nível de remuneração. No entanto, em contrapartida, assumindo-se que se irá assistir a uma evolução da economia menos favorável e o número de trabalhadores no desemprego será maior (reduzindo a capacidade de reivindicação salarial), a tendência no mercado de trabalho poderá ser de uma um crescimento bem mais moderado dos vencimentos dos trabalhadores.