O que é o nitrato de amónio, a substância que terá destruído o porto de Beirute?

É um fertilizante muito utilizado na agricultura, por fornecer azoto às plantas, mas também é usado para fabricar explosivos.

O Presidente do Líbano, Michel Anoun, revelou que na origem da enorme explosão no porto de Beirute estiveram 2700 toneladas de nitrato de amónio. O primeiro-ministro, Hassan Diab, confirmou esta tese e adiantou mais alguns detalhes: aquela quantidade de fertilizante estava armazenada há mais de seis anos. Diab considerou “inadmissível” que o material estivesse guardado sem as devidas medidas de precaução e prometeu punir os responsáveis.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Presidente do Líbano, Michel Anoun, revelou que na origem da enorme explosão no porto de Beirute estiveram 2700 toneladas de nitrato de amónio. O primeiro-ministro, Hassan Diab, confirmou esta tese e adiantou mais alguns detalhes: aquela quantidade de fertilizante estava armazenada há mais de seis anos. Diab considerou “inadmissível” que o material estivesse guardado sem as devidas medidas de precaução e prometeu punir os responsáveis.

O nitrato de amónio é um dos fertilizantes mais utilizados na agricultura, fornecendo azoto às plantas. Por si só, não é explosivo – é um oxidante que intensifica a combustão –, mas pode explodir quando entra em contacto com outros combustíveis ou com fontes de calor, daí também ser utilizado no fabrico de explosivos. Julga-se que tenha estado na origem da violenta explosão em 2015 na zona portuária da cidade chinesa de Tianjin, que matou pelo menos 114 pessoas.

Foto
WAEL HAMZEH/EPA

“Quando aquecido a uma temperatura superior a 170 ºC, [o nitrato de amónio] decompõe-se violentamente em óxidos de azoto e vapor de água, sendo por essa razão também usado como explosivo industrial”, explicou ao PÚBLICO, por e-mail, Mário Berberan e Santos, professor catedrático de química-física, materiais e nanociêncas do Instituto Superior Técnico (IST).

“Ele não explode sozinho. É preciso um gatilho muito grande para que uma explosão ocorra. No caso do Líbano, se foi isso que aconteceu, acredito que a explosão possa ter sido causada por um incêndio que tenha ocorrido antes”, acrescentou Reinaldo Bazito, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo à edição brasileira da BBC.

O que terá originado a ignição que levou à explosão é, até ao momento, uma incógnita. Certo é que, devido às suas características, o fertilizante necessita de muitas precauções e regras rígidas no seu armazenamento, devendo ficar afastado de combustíveis e fontes de calor. “Os armazéns precisam de ser feitos de maneira a que não haja acumulação de nitrato de amónio. É preciso garantir que não haja pontos quentes no material armazenado, evitando a decomposição térmica”, acrescentou Bazito.

Quanto à cor alaranjada e vermelha que se viu após a explosão, Mário Berberan e Santos explica que “um dos óxidos de azoto, o NO2, dióxido de azoto, é alaranjado e confere essa cor às nuvens da explosão”. Em relação às consequências para a saúde, o docente do IST alerta que “alguns óxidos de azoto são tóxicos e atacam fortemente as mucosas e o aparelho respiratório (caso do NO2)”.  No entanto, sublinha, “tratando-se de uma explosão em espaço aberto, são diluídos pela explosão e dissipados pelo vento, uma vez que se trata de gases”. 

Outra questão que está a levantar dúvidas é o motivo de uma quantidade tão grande de fertilizante estar armazenada no porto há tanto tempo. “Quem precisa de 2750 toneladas de nitrato de amónio?”, questiona, citada pela BBC, Lina Khatib, responsável pelos programas da Chatham House, em Londres, para o Médio Oriente e o Norte de África.

Fotogaleria

Um armazém de material pirotécnico explodiu esta terça-feira em Beirute, causando pelo menos 100 mortos e mais de 4000 feridos.

“É sabido que esta substância é utilizada para fabricar explosivos e também é sabido que o Hezbollah, o grupo armado libanês, faz contrabando desse material para o Líbano através do porto. Por isso, é plausível que o Hezbollah possa ter alguma ligação, apesar de ainda ser muito cedo para saber”, afirmou Lina Khatib.