Zeinal Bava e vizinhos em guerra com empresa amiga do ambiente que abriu no prédio

Criador da empresa Wyze diz que o ex-presidente da PT lhe disse que o seu negócio de partilha de scooters eléctricas e um espaço de coworking com um café não são compatíveis com aquele condomínio de luxo na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa.

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Os condóminos de um prédio na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa, estão contra a utilização do espaço de uma das suas lojas por parte de uma empresa que promove a partilha de scooters eléctricas e onde está também instalado um local de coworking (espaço de trabalho partilhado), que é servido por um café e tem também uma galeria de arte, acusa o inquilino da loja. Os condóminos dizem que o dono da empresa cometeu várias irregularidades e confirmam terem feito queixas.

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Os condóminos de um prédio na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa, estão contra a utilização do espaço de uma das suas lojas por parte de uma empresa que promove a partilha de scooters eléctricas e onde está também instalado um local de coworking (espaço de trabalho partilhado), que é servido por um café e tem também uma galeria de arte, acusa o inquilino da loja. Os condóminos dizem que o dono da empresa cometeu várias irregularidades e confirmam terem feito queixas.

A Wyze e o Unobvious Lab, que estão a funcionar há pouco mais de um ano, foram criados por Tiago Pereira, que não entende a oposição que diz que os condóminos lhe estão a fazer, sendo um deles Zeinal Bava, o ex-presidente da Portugal Telecom (PT).

Tiago Pereira contou ao PÚBLICO que esta guerra começou há um ano, praticamente desde que os seus negócios estão instalados na loja C, e que até recebeu a visita de Zeinal Bava para lhe dar conta do mal-estar que a sua presença no prédio estava a causar.

“Foi uma visita muito hostil. Disse-me que não podíamos usar a garagem para guardar motas (temos direito a quatro lugares) e que o negócio que íamos instalar não era compatível com este condomínio de luxo, porque as pessoas tinham pago muito para estar aqui”, contou Tiago Pereira, sublinhando que Zeinal Bava falava em nome do condomínio e que lhe disse que iriam avançar com uma providência cautelar para impedir que o negócio continuasse.

Esta visita ocorreu ainda as obras estavam a decorrer e, segundo o criador da Wyze, teve lugar entre Abril e Maio de 2019.

“Desde aí já tive a visita da polícia municipal várias vezes devido a queixas”, disse, explicando que uma vez se queixaram do barulho das obras e que numa outra a queixa foi porque tinham visto entrar quatro botijas de gás.

“Temos quatro aquecedores e as botijas eram para os aquecedores”, afirmou, salientando que encontrar o espaço ideal para os seus projectos não foi fácil. Recorreu a várias imobiliárias até encontrar a loja onde agora está. Garante que o senhorio sabia que tipo de negócio ia lançar, tanto que tem um contrato para dez anos.

“Só a melhorar o espaço gastei cerca de 50 mil euros”, diz, lamentando a oposição que lhe está a ser feita.

Tiago Pereira alega que a Wyze é uma empresa portuguesa empreendedora. “É uma startup a favor do ambiente, uma vez que promove a descarbonização através do uso de scooters eléctricas, e apoia também o empreendedorismo e as artes.”

O empresário diz ainda que teve e tem uma grande preocupação com a estética no local para que esteja enquadrada no sítio onde está instalada a Wyze.

“Alegam que não posso carregar as baterias das scooters aqui e que também não posso ter um bar”, sublinha Tiago Pereira. “Toda a instalação eléctrica foi verificada e fiscalizada e está segundo todas as normas e o que temos no espaço não é um bar, é um café que serve quem aqui vem trabalhar e onde as pessoas podem consumir comida, bebidas e até trazer a sua própria refeição para aquecer aqui.”

Para Tiago Pereira, qualquer espaço de cowork decente tem de ter um espaço para servir refeições e bebidas.

Há uma sala para reuniões e locais de trabalho (há vários sofás e mesas disponíveis) e o espaço tem acessibilidade à Internet. Além disso, há obras de arte espalhadas pelas paredes da loja.

“Criei este projecto para contribuir para um mundo mais sustentável, com o objectivo de ‘capitalizar’ o conceito de pegada ecológica”, diz. “Por exemplo, cada viagem que for feita nas nossas scooters vai gerar uma poupança de dióxido de carbono [que não é emitido] e que vai ter uma conversão directa em moeda virtual”, explicou, acrescentando que a ideia é usar a plataforma Ayr, desenvolvida pela CEiiA, Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel.

“Cada quilograma de CO2 (dióxido de carbono) equivale a 10 ayr, que podem ser convertidos em minutos grátis para utilizar nas scooters ou até aqui no espaço de cowork”, disse, acrescentando que não entende como é que o seu negócio não se enquadra “neste condomínio de luxo”.

“Esta guerra é movida por muita má vontade e por quem não quer perceber o negócio”, sustenta o empresário, que sonha levar o conceito a mais cidades do país e criar até um conceito de franchising.

O PÚBLICO fez vários contactos, mas não foi possível obter mais esclarecimentos nem de Zeinal Bava nem de Jorge Almeida, administrador do condomínio.

Fonte ligada ao condomínio confirma que Zeinal Bava teve uma conversa com o dono da empresa, “mas que foi de boa-fé, apenas para o avisar que os estatutos de condomínio não permitiam a instalação de determinadas situações que a empresa parecia estar a preparar, nomeadamente a existência de um bar/restaurante”. A mesma fonte confirmou que as lojas pertencem ao construtor do prédio, os estatutos foram definidos por este e a conversa serviu para o alertar para a possibilidade de estar a prosseguir um negócio a que não poderia dar continuidade. Este condómino, que pediu o anonimato, disse que foi Tiago Pereira que depois iniciou uma guerra com os vizinhos e chegava a deixar a música alta durante a noite. Além disso, adiantou também que houve um incêndio no dia 22 de Dezembro de 2019 relacionado com o facto de terem estado a carregar as baterias das scooters. A loja não tem saída de fumos e são preparadas lá refeições, acrescenta, tendo já sido feitas queixas na ASAE e na própria câmara, “que até hoje nada fizeram”.