Aos 96 anos, Giuseppe tornou-se o licenciado mais velho do mundo. E já sonha com o mestrado
Com quase cem anos e no meio de uma pandemia, Giuseppe Paternò licenciou-se em História e Filosofia pela Universidade de Palermo. A covid-19 ameaçou travar um sonho antigo, mas o italiano não querer parar por aqui.
Sobreviveu ao fascismo de Mussolini, à Segunda Guerra Mundial e à pobreza de quem viveu esses tempos difíceis. A vida não deixou Giuseppe Paternò licenciar-se mais cedo, mas, aos 96 anos, cumpriu um sonho: licenciou-se esta semana em História e Filosofia pela Universidade de Palermo, em Itália.
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Sobreviveu ao fascismo de Mussolini, à Segunda Guerra Mundial e à pobreza de quem viveu esses tempos difíceis. A vida não deixou Giuseppe Paternò licenciar-se mais cedo, mas, aos 96 anos, cumpriu um sonho: licenciou-se esta semana em História e Filosofia pela Universidade de Palermo, em Itália.
Cresceu na Sicília nos anos 1930. Era o mais velho de sete irmãos e sempre sonhou estudar. “Poder estudar sempre foi a minha grande aspiração, mas a minha família nunca foi capaz de pagar a minha educação. Éramos uma família grande e muito pobre”, disse ao Guardian.
O italiano licenciou-se na sexta-feira, como um dos melhores alunos da turma. Na hora de receber o diploma, Paternò disse que “era um dos dias mais felizes” da sua vida e lamentou apenas que a mulher, que morreu há 14 anos, não estivesse viva para o ver como licenciado.
“O conhecimento é como uma mala que levo comigo”
Giuseppe Paternò é veterano da Segunda Guerra Mundial. Em 1943, quando os Aliados chegaram à Sicília, trabalhava como tipógrafo no exército italiano. Com o fim da guerra, passou a trabalhar para os caminhos-de-ferro italianos, emprego que não lhe agradava, mas acabou por aceitar para poder sustentar a família.
“Não estava entusiasmado com o meu trabalho, mas sabia que tinha de o fazer porque na altura estava casado e tinha uma família para sustentar. Ao mesmo tempo, tinha um desejo avassalador de mergulhar nos livros e ler, estudar e aprender”, disse à Reuters. “O conhecimento é como uma mala que eu levo comigo, é um tesouro.”
Só aos 31 anos, nos anos 1950, conseguiu acabar o ensino secundário, em horário pós-laboral. Tinha aulas à noite e continuava a estudar madrugada dentro para poder conciliar com a vida difícil de trabalho e pobreza.
Passados mais de 60 anos, em 2017, Giuseppe Paternò inscreveu-se na Universidade de Palermo, no curso de História e Filosofia. “Era agora ou nunca”, disse à Reuters. Começou uma licenciatura para incredulidade dos vizinhos, que o ouviam estudar de manhã e à noite na velha máquina de escrever, dada pela mãe em 1984, quando se reformou.
“Acordava às sete para estudar. Usava uma máquina de escrever velha para acabar os meus trabalhos. Descansava durante a tarde e à noite estudava até à meia-noite. Os meus vizinhos perguntavam-me: ‘Porquê tanto trabalho com a tua idade?’. Eles não conseguiram perceber a importância de alcançar o sonho, independentemente da minha idade”, contou o estudante.
Covid-19 atrasou, mas não assustou
A pandemia quase travou o sonho. Com 96 anos em 2020, e com a covid-19 à porta de casa, Paternò foi obrigado a pousar a máquina de escrever e adoptar o computador, para acabar o curso à distância.
À Reuters, confessou que a transição para as aulas por videochamada não foi fácil, mas a doença não assustou, muito menos depois de tudo o que passou nos anos 40. “Tudo isso [a guerra] deu-nos força, a todos os meus pares, a todos os que ainda estão vivos. [A covid-19] Não assustou tanto quanto isso”, garante.
A família também temeu pela saúde do estudante quase centenário, que faz parte do grupo de risco da covid-19. O filho, Ninni, disse ao Guardian que tentou convencer o pai a fazer os exames e a acabar o curso, presencialmente, no Outono. Mas o pai recusou. “Ele disse que, devido à sua idade avançada, temia que não sobrevivesse ao Verão.”
Com o curso tirado e agora um filósofo licenciado, Giuseppe Paternò não quer parar por aqui. Já passou por quase cem primaveras e cem invernos, mas continua a sonhar: “Estou a considerar continuar para um mestrado. A minha mãe viveu até aos cem anos. Se os números e a genética estiverem do meu lado, ainda me restam quatro anos.”