Covid-19: ONU alerta para “catástrofe geracional” e pede reabertura das escolas em segurança

Em Julho, as escolas estavam fechadas em 160 países, deixando mais de mil milhões de estudantes fora das salas de aula. “Devolver os alunos aos estabelecimentos de ensino de forma segura” é prioritário, diz António Guterres.

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Milhares de crianças em Mecklenburg, no estado federado da Pomerânia Ocidental (Alemanha) voltaram à escola este mês LUSA/FELIPE TRUEBA

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para uma “catástrofe geracional” devido ao encerramento das escolas forçado pela pandemia de covid-19, que afectou mais de mil milhões de crianças em todo o mundo. Por isso, a reabertura das escolas, em segurança, deve ser uma “prioridade”, defendeu António Guterres.

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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou para uma “catástrofe geracional” devido ao encerramento das escolas forçado pela pandemia de covid-19, que afectou mais de mil milhões de crianças em todo o mundo. Por isso, a reabertura das escolas, em segurança, deve ser uma “prioridade”, defendeu António Guterres.

“Vivemos um momento decisivo para as crianças e jovens de todo o mundo. As decisões que os governos venham a tomar agora vão ter um efeito duradouro em centenas de milhões de jovens, assim como nas perspectivas de desenvolvimento dos países, durante décadas”, assinalou António Guterres, através de uma mensagem em vídeo.

Esta terça-feira, foi apresentado um relatório da ONU com o objectivo de analisar o impacto do encerramento das escolas, institutos e universidades, deixando recomendações aos governos.

De acordo com este documento, em meados de Julho, as escolas estavam fechadas em pelo menos 160 países, afectando mais de mil milhões de estudantes, enquanto pelo menos 40 milhões de crianças ficaram sem acesso a educação pré-escolar.

Antes da pandemia, a situação já era catastrófica: mais de 250 milhões de crianças estavam afastadas das escolas e apenas um quarto dos estudantes do ensino secundário nos países em desenvolvimento tinham terminado os estudos com “competências básicas”, segundo a ONU.

A SARS-Cov-2 agravou o cenário complexo existente e, refere o mesmo relatório, “criou a maior disrupção nos sistemas educativos na história, afectando cerca de 1,6 mil milhões de estudantes em mais de 190 países e continentes”. O encerramento de espaços de ensino impactou 94% da população estudantil e mais de 99% dos jovens e crianças nos países mais pobres, o que põe em causa décadas de desenvolvimento e constitui

“Agora, enfrentamos uma catástrofe geracional que pode vir a desperdiçar um potencial humano incalculável, minar décadas de progresso e exacerbar as desigualdades instaladas”, alertou António Guterres.

Devolver os alunos às escolas 

Neste momento, segundo a ONU, pelo menos 100 países ainda não anunciaram uma data para reabrirem as escolas, o que tem “implicações sociais e económicas enormes e terá efeitos duradouros nos educadores, nas crianças, nos pais – especialmente nas mulheres – e na sociedade como um todo”.

Além disso, alerta o relatório, a pandemia está a exacerbar as desigualdades já existentes, “reduzindo as oportunidades para as crianças, jovens e adultos mais vulneráveis” – nomeadamente aqueles que vivem em áreas pobres ou rurais, mulheres, refugiados, pessoas com deficiência e deslocados forçados – prosseguirem os seus estudos.

Perante esta situação, a ONU pede a aplicação de medidas, começando pela reabertura das escolas o mais rapidamente possível, uma questão que está a gerar amplos debates em vários países.

“Assim que a transmissão local de covid-19 esteja controlada é preciso devolver os alunos às escolas e aos estabelecimentos de ensino de forma segura: esta deve ser uma das prioridades fundamentais”, afirmou Guterres.

Para a ONU “é essencial encontrar um equilíbrio entre os riscos para a saúde e os riscos para a educação e protecção das crianças e ter em conta também a repercussão da situação na participação das mulheres na força do trabalho”. 

A ONU pede também especial atenção aos estudantes em situação mais vulnerável e pede para que seja “aproveitada” a pandemia para se transformar os sistemas educativos através de infra-estruturas digitais, revitalizando a aprendizagem ou usando métodos de ensino mais flexíveis.

“Temos uma oportunidade geracional de recriar a educação e o ensino. Podemos dar um salto e avançar para sistemas progressistas que consigam educação de qualidade para todos, como um ‘trampolim’ para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse Guterres.