É Lisboa que tem mais árvores monumentais do país apenas porque tem quem as reconheça
Estudo de Paulo Reis Mourão indica que identificação de árvores ocorrem onde estas são mais valorizadas, até por razões turísticas, o que significa que haverá muitas que preenchem os critérios em muitos locais do país mas que permanecem desconhecidas.
O maior número de árvores de interesse público situa-se no distrito de Lisboa e não em áreas com maior densidade e diversidade florestal. “Porquê?” é a questão que é explorada num artigo de investigação de Paulo Reis Mourão, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. A resposta é sobretudo social e económica: porque é nesta região, assim como noutras zonas litorais ou com maior dimensão, que se está mais atento aos tesouros arbóreos. O trabalho, em co-autoria com Vítor Martinho, do Instituto Politécnico de Viseu, foi publicado na revista científica Environment, Development and Sustainability e aborda os desequilíbrios da valorização florestal no país.
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O maior número de árvores de interesse público situa-se no distrito de Lisboa e não em áreas com maior densidade e diversidade florestal. “Porquê?” é a questão que é explorada num artigo de investigação de Paulo Reis Mourão, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho. A resposta é sobretudo social e económica: porque é nesta região, assim como noutras zonas litorais ou com maior dimensão, que se está mais atento aos tesouros arbóreos. O trabalho, em co-autoria com Vítor Martinho, do Instituto Politécnico de Viseu, foi publicado na revista científica Environment, Development and Sustainability e aborda os desequilíbrios da valorização florestal no país.
A investigação Choosing the best socioeconomic nutrients for the best trees: a discussion about the distribution of Portuguese Trees of Public Interest” foi realizado com base na identificação das árvores classificadas como “de interesse público” pelos municípios em articulação com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). “Observámos que, no fundo, a identificação anda a par da dinâmica turística”, explica Paulo Reis Mourão, “assim como de alguma proximidade com a delegação do ICNF”.
A identificação pode ser feita por privados ou por municípios em articulação com o ICNF e o que se tem passado é que são sobretudo os municípios antigos, costeiros, capitais de distrito e com boa dinâmica turística que mais iniciativa têm. As zonas com muita densidade populacional e florestal, ou com um pólo do ICNF, também garantem pelo menos uma referência na lista.
Lisboa conta, neste momento, com um terço dos quase 400 registos da lista. “Lisboa é um caso de sucesso”, afirma o também membro do Núcleo de Investigação em Ciências Políticas e Empresariais da Universidade do Minho. “A ideia é que as outras áreas do país repliquem esse sucesso e valorizem as suas árvores”. Neste sentido, o artigo refere que esta herança precisa de “ser ajustada a planos de manutenção e atenção de conservação”, reforçando que “é importante preservar a herança natural para as gerações futuras, criando legislação activa, mais controlo, mais relevo para as instituições relacionadas”.
Muitas das árvores identificadas pelo ICNF como de “interesse público” foram já “pintadas” ou “retratadas na literatura”, como especifica o professor e investigador, o que não acontece nas freguesias rurais. Contudo, “se perguntarmos, nas freguesias rurais, se há árvores históricas, a maioria das pessoas conhece e guia-nos” - o problema, esclarece Paulo Reis Mourão, são os “custos associados à manutenção das árvores”. Assim, o professor apela a “uma leitura diferenciada de como gerimos a floresta”.
Num momento em que o turismo está a ser “redescoberto”, Paulo Reis Mourão aponta para a “ausência de rotas de árvore de interesse público”, sublinhando ainda que cada vez mais se recupera a “ligação com a natureza” e, mais particularmente, com as árvores, ligação que nos remonta para épocas em que as comunidades se reuniam em torno dos arvoredos, percepcionando-os muitas vezes como “elementos religiosos”.
Para ser reconhecida como árvore de “interesse público”, uma árvore terá de reunir características que a identifiquem como algo impressionante, havendo interesse por parte dos promotores locais e da comunidade para tal. A classificação de “arvoredo de interesse público” confere à árvore um estatuto equiparável ao de monumento nacional e com protecção legal, como uma distância de 50 metros ao seu redor. Os critérios de selecção do arvoredo abrangem o seu porte, idade, raridade e simbolismo. Entre os “monumentos vivos” de Portugal destacam-se o carvalho de Calvos (Póvoa de Lanhoso), a oliveira de Pedras d'el Rei (Tavira), a alameda de freixos (Marvão), o maciço de rododentros (Vouzela) e a oliveira do Mouchão (Abrantes).
Texto editado por Ana Fernandes