Covid-19: Mortes no Irão são quase o triplo dos números do Governo

Governo tinha conhecimento de 42 mil mortes causadas pela covid-19, mas, oficialmente, só divulgou 14 mil. Há quase duas vezes mais infecções pelo novo coronavírus do que Teerão admite, diz a BBC. No Irão, morre uma pessoa a cada sete minutos devido à doença.

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Orações da Eid al-Adha (Festa do Sacrífico) numa mesquita em Teerão LUSA/ABEDIN TAHERKENAREH

O número de mortes causadas pela covid-19 no Irão pode ser quase três vezes superior aos números oficiais divulgados por Teerão, o que indica que as autoridades iranianas podem ter tentado esconder a gravidade da pandemia no país, afirma a BBC.

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O número de mortes causadas pela covid-19 no Irão pode ser quase três vezes superior aos números oficiais divulgados por Teerão, o que indica que as autoridades iranianas podem ter tentado esconder a gravidade da pandemia no país, afirma a BBC.

De acordo com os dados obtidos pela emissora britânica, enviados por uma fonte anónima, até final de Julho, o Governo iraniano tinha conhecimento de 42 mil mortes causadas pela covid-19. No entanto, oficialmente, só anunciou 14.405. Já o número de infecções é quase o dobro: 451.024 em oposição às 278.827 reveladas por Teerão.

A lista enviada à BBC inclui detalhes quanto aos internamentos diários nos hospitais do Irão, incluindo nomes, idade, género, sintomas e dados sobre o período de internamento. A emissora não conseguiu verificar a origem da lista, contudo, confirma que muitos detalhes de doentes coincidem com a informação que já tinha.

Além disso, a discrepância entre os números oficiais e as mortes no Irão durante aquele período coincide com os cálculos de excesso de mortalidade. Por isso, a BBC considera que as autoridades iranianas relataram números significativamente mais baixos, apesar de terem um registo de todas as mortes, sugerindo que os dados “foram deliberadamente suprimidos”. 

A possibilidade de os números divulgados pelas autoridades de saúde não corresponderem à realidade já tinha sido colocada em Abril, depois da publicação de um relatório do Parlamento iraniano que admitia que o número de infectados poderia ser quase o dobro dos números do Ministério da Saúde.

Depois de o coronavírus ter sido detectado pela primeira em Wuhan, na China, o Irão tornou-se o epicentro do vírus no final de Fevereiro. No início, Teerão esteve em negação e desvalorizou a gravidade da doença, demorando a impor medidas para conter a propagação do vírus, o que levou a uma rápida disseminação da doença.

O início do surto no país coincidiu com o aniversário da Revolução Islâmica de 1979, que levou os ayatollahs ao poder, e com as eleições legislativas, dois marcos políticos importantes para o regime tentar demonstrar estabilidade, numa altura em que atravessava uma crise económica, agravada pelas sanções económicas impostas pelos Estados Unidos.

“O Governo tinha medo que os pobres e os desempregados saíssem às ruas”, afirmou a BBC Nouroldin Pirmoazzen, ex-deputado que também trabalhou no Ministério da Saúde iraniano.

O primeiro caso de covid-19 foi anunciado, oficialmente, no Irão a 19 de Fevereiro. No entanto, segundo a lista a que a emissora britânica teve acesso, a primeira morte causada pelas infecções de SARS-CoV-2 deu-se a 22 de Janeiro. Nos 28 dias entre a primeira morte e o anúncio oficial do primeiro caso, morreram 52 pessoas.

A mesma lista revela que Teerão foi a cidade mais afectada até final de Julho, com 8120 mortes causadas pela covid-19, enquanto a cidade santa de Qom registou 1419 óbitos – uma morte por cada mil pessoas. De salientar ainda que morreram 1916 estrangeiros no país, sobretudo migrantes e refugiados provenientes do Afeganistão.

Após a introdução de medidas de confinamento, no final de Março, as infecções diminuíram e o Irão conseguiu controlar a pandemia. Mas, no final de Maio, com o levantamento de algumas destas medidas, o número de casos voltou a subir, o que levou o Governo a recuar e a impor novas restrições, incluindo a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços fechados, medidas que, conta a Reuters, não estão a ser cumpridas nas ruas de Teerão, onde circulam milhares de pessoas sem máscara e sem manter o distanciamento físico. 

No domingo, segundo as autoridades, o Irão registou mais 2685 casos de infecção pelo SARS-CoV-2, o maior número desde 8 de Julho, e 208 mortes causadas pela covid-19. Esta segunda-feira, foram contabilizados mais 2598 novos casos e 215 mortes, o que segundo a televisão estatal iraniana significa que morre uma pessoa a cada sete minutos devido à covid-19. No total, segundo os dados oficiais, o país regista de 312 mil casos e mais de 17 mil mortos.