Jornalismo de soluções
O jornalismo só tem a se beneficiar com o relato completo, em sintonia com a sociedade democrática, de soluções úteis e em conexão com as necessidades de seu público.
O jornalismo brasileiro vive um momento difícil. Há um pouco de tudo: tentativas de intimidação, agressões a jornalistas, ataques de militantes, pressão das redes sociais, tendo como cenário de fundo uma pandemia global. Manter a credibilidade e a qualidade é um desafio constante dos diferentes veículos de comunicação como resposta a essas críticas. A participação dos leitores na produção e distribuição de informações se mostra cada vez mais importante, uma vez que o jornalismo cidadão não somente ganha adeptos, mas evolui, mesmo de forma lenta, para a construção de um jornalismo voltado à busca de soluções.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O jornalismo brasileiro vive um momento difícil. Há um pouco de tudo: tentativas de intimidação, agressões a jornalistas, ataques de militantes, pressão das redes sociais, tendo como cenário de fundo uma pandemia global. Manter a credibilidade e a qualidade é um desafio constante dos diferentes veículos de comunicação como resposta a essas críticas. A participação dos leitores na produção e distribuição de informações se mostra cada vez mais importante, uma vez que o jornalismo cidadão não somente ganha adeptos, mas evolui, mesmo de forma lenta, para a construção de um jornalismo voltado à busca de soluções.
Essa prática surgiu nos Estados Unidos já há algum tempo, com a intenção de realizar a cobertura do que não é coberto pelos media, sob o enfoque de um problema e sua solução, capaz de despertar o interesse das pessoas. Pesquisa realizada ano passado pelo Center for Media Engagement, da Universidade do Texas, em Austin, apontou que essa vertente mais abrangente consegue gerar maiores taxas de engajamento dos leitores. Graças a um trabalho baseado em evidências e na busca da verdade, que capacita as pessoas por meio de informações. O público se cansou de sensacionalismo e tragédias, comuns nas matérias da imprensa tradicional, seja jornal, rádio ou televisão, seja nos media digital ou redes sociais. Sem falar no desgaste que as fakenews causam, levando à desinformação e à perda da confiabilidade, fator que acirra a crise jornalística, especialmente em época de medo do coronavírus.
Segundo a pesquisa, as pessoas se sentem mais bem informadas, otimistas e interessadas quando essa iniciativa jornalística é adotada. Percebem que estão sendo ouvidas. Muitas vezes, o único recurso que o cidadão comum possui é o seu apelo à imprensa. Quando ele é ouvido e o que denuncia repercute ao ponto de uma solução ser apresentada, esse cidadão retribui e passa a confiar naquele veículo de comunicação.
Ao invés de noticiar um drama da população, por exemplo, a reportagem vai além e traz mais informações sobre o assunto em agenda, como tentativa de solucionar o problema. Não se limita a conseguir audiência ou visualizações ou chocar as pessoas com a apresentação de um drama ou uma desgraça. Embora mais comuns nos Estados Unidos e na Europa, os trabalhos com foco em jornalismo de soluções se expandem pela América Latina.
La Voz de Guanacaste, um pequeno jornal bilíngue da Costa Rica decidiu assumir esse jornalismo em agosto de 2018. O Brasil também se lançou por esse caminho, a princípio por meio da imprensa alternativa e somente mais recentemente, pelos media tradicionais. Alguns jornalistas, inclusive, descobriram que já estavam publicando matérias com destaque para soluções e com a participação do público, antes mesmo de receberem treino nesse sentido.
Apesar de certa resistência por parte da grande imprensa, o SoJo (Solutions Journalism – jornalismo de soluções) passou a ser considerado uma abordagem cheia de potencial. A Rede de Jornalismo de Soluções (Solutions Journalism Network - SJN) e a Fundação Tinker fornecem apoio para implementação da técnica nas redações. Profissionais brasileiros oferecem workshops aos demais colegas jornalistas, editores, professores, profissionais de comunicação em cargos de chefia e estudantes de jornalismo interessados no assunto.
Em tempos da covid, fazer reportagens orientadas a soluções em torno da pandemia permite compartilhar ideias e lições, uma vez que matérias sobre respostas locais são importantes para contar a história do que ocorre em determinadas comunidades, aquilo que a maioria da grande imprensa não cobre.
A SJN mantém um banco de dados que cresce a cada dia, atualmente com mais de 9 mil reportagens jornalísticas de soluções de diversos países. Entre as mais recentes, a que questiona a utilidade do sistema legal criminal com relação à violência doméstica; a que compara os erros da pandemia de HIV com os da Covid na África do Sul; a que aponta as ações precoces do Vietename no combate ao coronavírus e a que sugere turnos alterados no Brasil como uma das ideias que podem mudar o ambiente de trabalho pós-pandemia.
Todas são histórias de respostas encontradas para problemas reais e que vão além do mero registro de um drama com viés sensacionalista, a fim de explicar ao público como indivíduos, instituições e comunidades envolvidos estão respondendo à situação.
O jornalismo só tem a se beneficiar com o relato completo, em sintonia com a sociedade democrática, de soluções úteis e em conexão com as necessidades de seu público. Principalmente em meio à pandemia, quando o mundo necessita confiar nas notícias publicadas por profissionais da área, as matérias com foco em soluções restauram a qualidade da informação apurada e divulgada pelos veículos de comunicação. Aos poucos, as pessoas começam a perceber onde podem encontrar informações corretas e precisas. Nesse contexto de crise, o trabalho dos media profissionais deve ser a fonte mais confiável para população se manter bem informada.