“Splashdown!” Cápsula da SpaceX regressa à Terra no primeiro voo espacial tripulado lançado por uma empresa privada
A Crew Dragon Endeavour amarou no Golfo do México, perto da costa da Florida, às 19h48 deste domingo.
A cápsula da empresa privada SpaceX, que partiu no sábado da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) trazendo a bordo os astronautas da NASA Bob Behnken e Doug Hurley, amarou este domingo no Atlântico, naquele que é o primeiro regresso à Terra de uma nave espacial de uma empresa privada com tripulantes.
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A cápsula da empresa privada SpaceX, que partiu no sábado da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) trazendo a bordo os astronautas da NASA Bob Behnken e Doug Hurley, amarou este domingo no Atlântico, naquele que é o primeiro regresso à Terra de uma nave espacial de uma empresa privada com tripulantes.
“Splashdown!”, ouviu-se na transmissão em directo da NASA, depois da amaragem bem sucedida às 19h48 (hora de Lisboa). “Em nome das equipas da SpaceX e da NASA, bem-vindos ao planeta Terra. Obrigado por viajarem pela SpaceX”, afirmou um dos membros da missão de controlo. A cápsula foi recolhida na costa de Pensacola, no estado norte-americano da Florida, no Golfo do México, por uma embarcação da SpaceX, empresa do milionário Elon Musk. Os astronautas acabaram por ser retirados da nave pouco depois das 21h, acolhidos por um grupo de médicos e enfermeiros, para serem submetidos a um conjunto de exames.
Segundo a agência espacial norte-americana, a Crew Dragon Endeavour separou-se da ISS às 19h35 de sábado (00h35 em Portugal), tal como estava já planeado. Às 18h52 (hora de Lisboa), a Dragon separou-se do seu “tronco”, numa região próxima da Austrália. A amaragem no Atlântico, que será o primeiro regresso à Terra de uma nave espacial de construção e gestão privada com tripulantes, está prevista para as 14h42 deste domingo — 19h42 em Lisboa. A cápsula deverá ser recolhida na costa de Pensacola, no estado norte-americano da Florida, no Golfo do México — um dos sete locais possíveis para a amaragem.
“Foram dois meses óptimos e nós agradecemos tudo o que vocês fizeram como tripulação para nos ajudar a testar a Dragon no seu voo inaugural”, disse Hurley a um dos membros norte-americanos da equipa da estação, Chris Cassidy, enquanto a cápsula se afastava autonomamente do porto de embarque da ISS para começar a viagem de 21 horas.
A NASA e a SpaceX — que estão a monitorizar o regresso da tripulação a partir de Houston, Texas, e na sede da SpaceX em Hawthorne, na Califórnia — descartaram durante esta semana a opções de amaragem no Atlântico por causa da tempestade tropical Isaias, que já levou a que o estado de emergência fosse declarado na parte leste da Florida. A região deverá ser atingida pela Isaias, que deverá evoluir para furacão, nos próximos dias.
Depois de uma amaragem bem-sucedida por volta das 19h48 deste domingo (pouco mais de 10 minutos mais tarde do que estava previsto), a cápsula completará o teste final para provar que pode transportar astronautas de e para o espaço — uma viagem que já realizou dezenas de vezes, mas apenas com carga.
“A parte mais difícil foi o lançamento, mas a parte mais importante é levar-nos para casa”, disse Behnken durante a cerimónia de despedida na tarde de sábado, ainda a bordo da estação espacial.
A NASA acredita que a Crew Dragon, uma cápsula em forma de bolota que pode acomodar até sete astronautas, está numa condição “muito saudável” desde o acoplamento à estação espacial, onde os astronautas têm realizando experiências e monitorizado o desempenho de naves espaciais desde Novembro de 2000.
A jornada da Crew Dragon e dos astronautas Doug Hurley e Bob Behnken começou a 30 de Maio quando, à segunda tentativa, foi lançado o foguetão da SpaceX. Este lançamento marcou o início de uma nova era no espaço já que, pela primeira vez, os EUA recorreram a uma empresa privada para colocar astronautas em órbita. “Foi feita história”, como descreve a NASA. Depois de um lançamento adiado pelo mau tempo (e de um acidente num outro projecto da SpaceX), o foguetão Falcon 9 partiu da plataforma 39 do Centro Espacial Kennedy, na Florida, nos EUA, às 20h22 (hora de Portugal continental). Depois de uma viagem de 19 horas, a cápsula acoplou à Estação Espacial Internacional e, mais de três horas depois, os astronautas entraram na ISS.
Durante a sua estadia de 62 dias, o par de astronautas fez quatro caminhadas espaciais de manutenção da ISS, completou 1024 órbitas terrestres, viu um veículo visitante a partir e outro a chegar e realizou 114 horas de pesquisa. Ainda assim, a grande missão de Doug e Bon era ficar de olho na “saúde” da cápsula e concentrar-se sobretudo na viagem de regresso. A bordo da ISS ficaram Chris Cassidy (NASA), Anatoly Ivanishin e Ivan Vagner (dois cosmonautas russos).
Quais são os planos para o resto da viagem?
Behnken e Hurley tiveram algumas horas para dormir durante a viagem para casa. Para os acordar, algo que aconteceu por volta das 15h da tarde deste domingo (em Portugal), a NASA preparou uma mensagem de voz surpresa dos filhos dos astronautas. Nas próximas horas, a cápsula vai diminuir gradualmente a sua altitude orbital através de uma série de disparos automáticos de propulsores. “Eles têm bastante comida e água a bordo da nave”, disse o engenheiro da SpaceX, Siva Bharadvaj, durante a transmissão live da partida.
Pouco antes desta última ignição (ou disparos dos propulsores), a Dragon separa-se do seu “tronco”, que se incendiará na atmosfera da Terra. Antes desta reentrada, a nave viajará a cerca de 27.500 quilómetros por hora e estará a uma temperatura de 1926 graus Celsius. Será mais ou menos por esta altura que se dará a abertura dos pára-quedas, dois accionados a cerca de 5500 metros da água e outros quatro, os principais, a menos de dois mil metros — estas duas aberturas faseadas vão permitir reduzir (em muito) a velocidade da cápsula.
Já na Terra (ou antes, no mar), e se tudo correr como planeado Doug e Bob serão recebidos em vários navios por engenheiros, especialistas treinados em recuperações em água, profissionais de saúde, especialistas em carga da NASA e outros funcionários que ajudarão no “resgate”.
O processo é muito parecido ao da recepção de astronautas que estiveram durante longos meses na estação e que regressam a casa na Soiuz, a nave russa que até aqui transportava “passageiros” até à ISS e que costuma aterrar no Cazaquistão. “Espera-se que todo este processo demora aproximadamente 45 a 60 minutos, dependendo das condições do mar e da nave espacial”, diz a agência espacial. Já na costa, os dois membros da tripulação embarcarão imediatamente num avião para Houston, no Texas, onde fica o Centro Espacial Johnson da NASA.