Erro humano causou acidente com Alfa Pendular em Soure. Operadores da máquina passaram o sinal vermelho
Relatório preliminar sobre o acidente que fez duas mortes e 43 feridos concluiu que a máquina de trabalho passou um sinal vermelho e que os maquinistas do comboio já não conseguiram impedir a colisão. “Não existiram quaisquer indícios de anomalias na infra-estrutura, incluindo os sistemas de sinalização, ou no comboio Alfa Pendular”, diz o GPIAAF.
A causa do acidente que esta sexta-feira envolveu um Alfa Pendular e uma máquina de trabalho, no concelho de Soure, em Coimbra, foi um erro humano. Os dois trabalhadores que estavam a operar a máquina de trabalho ultrapassaram um sinal vermelho e os maquinistas do Alfa já não conseguiram impedir a colisão. A investigação ao acidente concluiu que “as evidências recolhidas até ao momento permitem afirmar não existiram quaisquer indícios de anomalias na infra-estrutura, incluindo os sistemas de sinalização, ou no comboio Alfa Pendular e sua operação que tenham influído no acidente”.
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A causa do acidente que esta sexta-feira envolveu um Alfa Pendular e uma máquina de trabalho, no concelho de Soure, em Coimbra, foi um erro humano. Os dois trabalhadores que estavam a operar a máquina de trabalho ultrapassaram um sinal vermelho e os maquinistas do Alfa já não conseguiram impedir a colisão. A investigação ao acidente concluiu que “as evidências recolhidas até ao momento permitem afirmar não existiram quaisquer indícios de anomalias na infra-estrutura, incluindo os sistemas de sinalização, ou no comboio Alfa Pendular e sua operação que tenham influído no acidente”.
As conclusões figuram num documento divulgado este sábado de manhã pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) que já tinha anunciado, na sexta-feira à noite, que ia investigar as causas do acidente.
O relatório preliminar descreve, ao detalhe, os minutos antes do acidente acontecer: a máquina de trabalho, um Veículo de Conservação de Catenária (VCC), ia deslocar-se entre o Entroncamento e Mangualde. Era tripulado por dois trabalhadores, um com a função de agente de condução e outro com a função de agente de acompanhamento. Esta máquina não tinha planos para realizar quaisquer trabalhos no decurso da viagem. Pelas 15h09, o VCC aproximava-se da estação de Soure, para onde tinha caminho estabelecido pelo posto de comando da circulação de Pombal para uma via de resguardo, a fim de ser ultrapassado pelo comboio rápido Alfa, operação que o gabinete diz ser “corrente na gestão da circulação ferroviária”.
O VCC percorreu o caminho estabelecido até parar na linha 3 da estação, que estava sinalizada com o semáforo vermelho. "A imobilização do VCC na linha 3 de Soure, a uma distância ainda indeterminada antes do sinal ocorre pelas 15h12”, lê-se no documento. Cerca de 12 minutos depois, pelas 15h24, após o comando da circulação estabelecer o caminho para o Alfa Pendular através da via directa da estação de Soure (linha 1), o respectivo sinal de saída fica verde para deixar o comboio passar.
“Alguns momentos depois deste evento, por razões que neste momento estão indeterminadas e que serão aprofundadas no decurso da investigação, o VCC reinicia a marcha, ultrapassando o sinal que se mantinha vermelho. Os VCC, tal como a generalidade dos veículos de manutenção de via no nosso país, não estão equipados com o CONVEL [sistema de controlo de velocidade], motivo pelo qual não foi desencadeada a frenagem automática resultando na consequente imobilização do VCC antes de atingir um ponto de perigo”, refere a entidade que levou a cabo a investigação.
Quando o VCC passou o sinal vermelho, o sinal luminoso na linha 1, onde circulava o Alfa, passou automaticamente a vermelho. “Porém, uma fracção de segundo antes, o comboio AP 133 tinha acabado de ultrapassar o referido sinal de entrada com o aspecto verde que lhe correspondia nesse instante, motivo pelo qual o sistema CONVEL do comboio recebeu informação de que a via se encontrava livre, o que naquele momento correspondia à verdade”, detalha ainda o relatório.
Diz o GPIAAF que o atravessamento da estação de Soure foi feito à velocidade prevista de cerca de 190 quilómetro por hora, “momento em que os maquinistas [do comboio] viram que o sinal estava vermelho e o VCC estava a convergir para a via em que circulavam”. “O freio foi accionado, sem que tal pudesse impedir a colisão, que ocorreu às 15h26”, conclui a entidade.
Investigação ainda decorre
O GPIAAF, que afirma que a investigação ainda está a decorrer, diz que publicará o relatório final com as conclusões sobre as causas do acidente “num prazo não superior a doze meses”.
“No entanto, caso detecte, em qualquer fase da investigação, algum aspecto que entenda poder representar um potencial risco de segurança imediato cujas medidas de controlo implementadas não pareçam ser suficientes, o GPIAAF emitirá imediatamente um alerta urgente de segurança às entidades relevantes, para que estas possam tomar as medidas que entendam por adequadas”, lê-se no documento agora divulgado.
O descarrilamento em Soure fez dois mortos e 43 feridos, sete dos quais graves. O comboio seguia com 212 passageiros no sentido Sul - Norte e tinha como destino Braga. As vítimas mortais são os dois funcionários que estavam na máquina que estava na linha a reparar uma catenária.
Ao que o PÚBLICO apurou esta sexta-feira, o comboio colidiu pelas 15h26 com uma dresina (veículo de inspecção de via), tendo descarrilado, depois de ter saído de Lisboa pelas 14h com destino a Braga, onde deveria chegar às 17h30. O veículo de conservação de catenária tinha acabado de sair de uma linha de resguardo da estação de Soure quando foi abalroada pelo Alfa, que, com a violência do embate, descarrilou. O maquinista só teve tempo de accionar o freio de emergência (um manípulo que faz parar a composição no mínimo período de tempo possível), tendo conseguido sair da cabine de condução, o que lhe terá salvo a vida. Ainda assim, com a violência do impacto ficou inconsciente e foi transportado para o hospital — é um dos 43 feridos registados.
A gestão do tráfego ferroviário da Linha do Norte naquele local é feita a partir do Centro de Comando Operacional de Braço de Prata (em Lisboa). A infra-estrutura ferroviária é dotada de modernos sistemas de sinalização e telecomunicações, estando afastada qualquer hipótese que o acidente se tenha dado devido à existência de sistemas obsoletos.
Linha do Norte interrompida
Os trabalhos de remoção das composições envolvidas no acidente na linha ferroviária do Norte e de reabilitação da via e da catenária já começaram, mas ainda não é possível prever quando será restabelecida a circulação.
Numa nota enviada cerca das 10h à agência Lusa, a Infra-estruturas de Portugal refere que “ainda decorrem os trabalhos” no seguimento do acidente ocorrido na sexta-feira na Linha do Norte. Segundo a empresa, foi já “possível iniciar a remoção das composições” acidentadas e “em simultâneo decorrem também os trabalhos para reabilitação da via e da catenária”. Contudo, “devido à complexidade dos trabalhos”, ainda não é “possível prever quando será restabelecida a circulação na Linha do Norte”.
O descarrilamento provocou dois mortos e 44 feridos, oito dos quais graves, segundo a última actualização do Comando Distrital de Operações (CDOS) de Coimbra. Quarenta e um dos 44 feridos já tiveram alta e os outros três permanecem internados, disseram à Lusa fonte hospitalar. Os 12 feridos que foram transportados para o Hospital Distrital da Figueira da Foz já tiveram alta hospitalar.
O ministro das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos, chegou a Soure ao final da tarde de sexta-feira e, depois de dar as condolências às famílias dos dois trabalhadores que morreram, disse que queria esperar pelo relatório técnico para poder conhecer as causas do acidente.