PIB: Governo admite rever previsões do Orçamento Suplementar
Para o CDS e PCP, a queda histórica do PIB não reflecte apenas o impacto da pandemia, mas as más respostas dadas pelo Governo.
A queda sem precedentes do Produto Interno Bruto (PIB) neste segundo semestre do ano em 14,1% é, para o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, “uma confirmação do que já se sabia”. Em reacção aos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) esta sexta-feira, o ministro da Economia centrou o seu discurso na ainda “ligeiríssima recuperação" registada em Junho e, admitindo que muitas empresas não vão conseguir aguentar as consequências da crise, Siza Vieira acredita que os apoios comunitários terão um papel fundamental para “voltar a crescer da forma mais positiva possível”. Mas admite rever as previsões de crescimento do Orçamento Suplementar. Do lado dos partidos, o PCP e CDS foram os únicos a reagir. Enquanto os comunistas culpam o Governo pelas “medidas erradas” que conduziram “à queda brutal” do PIB, os centristas lamentam o "trambolhão muito significativo”.
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A queda sem precedentes do Produto Interno Bruto (PIB) neste segundo semestre do ano em 14,1% é, para o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, “uma confirmação do que já se sabia”. Em reacção aos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) esta sexta-feira, o ministro da Economia centrou o seu discurso na ainda “ligeiríssima recuperação" registada em Junho e, admitindo que muitas empresas não vão conseguir aguentar as consequências da crise, Siza Vieira acredita que os apoios comunitários terão um papel fundamental para “voltar a crescer da forma mais positiva possível”. Mas admite rever as previsões de crescimento do Orçamento Suplementar. Do lado dos partidos, o PCP e CDS foram os únicos a reagir. Enquanto os comunistas culpam o Governo pelas “medidas erradas” que conduziram “à queda brutal” do PIB, os centristas lamentam o "trambolhão muito significativo”.
Para o ministro da Economia, os níveis de contracção da economia, que colocam o PIB a recuar 14,1% face ao trimestre anterior e a cair 16,5% quando comparado com o período homólogo, ou seja, com o mesmo trimestre do ano anterior, confirmam o impacto da pandemia e das medidas de confinamento aplicadas, que se traduziram na “queda da actividade económica, a quebra do consumo privado, a quebra do investimento” e “sobretudo uma grande quebra das exportações”.
Para Siza Vieira insistiu que foi especialmente a descida de exportações que explicou o recuo brutal da economia portuguesa, uma vez que a pandemia atingiu duramente alguns dos “maiores clientes" do país “como é o caso de Espanha, Itália, França e Alemanha”, todos eles “com quedas superiores às que estavam estimadas”, justificou o governante.
Depois da “queda muito abrupta no segundo trimestre”, o Governo espera que o terceiro e quatro trimestres sejam de “recuperação”, mas não arrisca traçar um ritmo de crescimento.
O ministro da Economia garante que durante os próximos meses o Governo irá “continuar a apoiar as empresas relativamente ao alívio de um conjunto de custos importantes, continuar a apoiar o rendimento dos trabalhadores que perderam o emprego ou dos trabalhadores independentes e trabalhadores informais que não têm sequer acesso ao subsídio de desemprego”, incluindo através do "alívio do sistema bancário”.
Mas o governante vincou que é preciso “manter a capacidade produtiva das empresas”: “A retoma vai acontecer a um ritmo que não vai permitir recuperar totalmente o potencial produtivo das empresas”, mas ainda assim o esforço será para que a retoma seja “o menos dolorosa possível”. Apesar dos apoios, Siza Vieira “não ignora” e reconhece que “é provável que algumas empresas não consigam aguentar e que com isso haja um crescimento de insolvências e de desemprego”. Ainda que seja um cenário “lamentável”, é também o cenário “expectável”, apontou.
Questionado sobre o impacto da queda do PIB no défice, Pedro Siza Vieira admitiu que “estes números vão obrigar a reflectir sobre as projecções que constam no Orçamento Suplementar”, mas sublinhou que “todos os apoios que a União Europeia disponibiliza vão permitir recuperar muita da despesa que tivemos este ano" na resposta à pandemia. O próximo ano trará “recursos muito importantes” para resolver “problemas de insolvência das empresas e apoiar o investimento, que vai dar um estímulo à actividade económica e criar crescimento as bases do crescimento futuro”.
PCP culpa “medidas erradas” do Governo
Além da pandemia, o PCP considera que a “brutal queda” do PIB é um efeito das medidas “erradas, limitadas e insuficientes” para dar resposta à crise. Numa nota do dirigente do PCP Agostinho Lopes, o ex-deputado aponta três explicações para esta quebra, a começar pelo “contributo negativo da procura interna”, o que, para o PCP, aponta para “o erro” que foi a “adopção do layoff e o insuficiente combate aos despedimentos, fruto do oportunismo de algum grande patronato traduzido numa quebra de salários e logo do poder de compra das famílias”.
O PCP critica "as limitadas e insuficientes medidas” adoptadas pelo executivo, incluindo “as restrições de acesso para o apoio de milhares de micro, pequenas e médias empresas que se viram sem vendas e receitas” devido à “drástica redução ou encerramento da sua actividade”.
CDS-PP fala em “trambolhão muito significativo"
Do lado dos centristas, a perspectiva é “muito pessimista”. Francisco Rodrigues dos Santos, presidente do CDS-PP, considerou que a queda do PIB representa “um trambolhão muito significativo” e antecipa uma “derrapagem económica” a partir de Setembro. “Há uma discrepância entre o país de Costa e o país que encosta”, considerou Francisco Rodrigues dos Santos.
Para o líder do CDS, o Governo tem “planos a mais” e “planeamento a menos”. Os centristas consideram que o executivo socialista devia, em contrapartida, “falar menos de obras públicas e mais de investimento privado”, “menos de distribuição e mais de crescimento e competitividade da economia” e “mais de trabalhadores e menos de funcionários”.