CGD lucra menos 40% e pandemia ameaça meta da recapitalização

Em plena pandemia, o banco público apresentou um resultado positivo de 249 milhões de euros no primeiro semestre. Caixa continua longe da meta de rentabilidade definida no plano de recapitalização para o final deste ano.

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Adriano Miranda

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) obteve um lucro de 249 milhões de euros entre Janeiro e Junho, um desempenho registado em plena pandemia de covid-19 que representa uma queda de 41% face ao período homólogo. O banco público revelou, em comunicado, a constituição de 156 milhões de euros em imparidades de crédito e provisões para garantias bancárias como resultado dos efeitos da pandemia de covid-19.

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A Caixa Geral de Depósitos (CGD) obteve um lucro de 249 milhões de euros entre Janeiro e Junho, um desempenho registado em plena pandemia de covid-19 que representa uma queda de 41% face ao período homólogo. O banco público revelou, em comunicado, a constituição de 156 milhões de euros em imparidades de crédito e provisões para garantias bancárias como resultado dos efeitos da pandemia de covid-19.

Sobre os efeitos do abrandamento económico nas contas do banco, Paulo Macedo mostrou-se, na apresentação dos resultados, “bastante preocupado” com esta crise, mas destacou o “conforto de ter capital substancial”. O gestor estimou que o crédito malparado vá aumentar no último trimestre do ano com o adensamento da crise após o Verão, mas sobretudo após o fim das moratórias que suspendem o pagamento dos créditos, que terminam em 31 de Março de 2021.

“A Caixa está-se a preparar para o aumento de crédito malparado no quarto trimestre deste ano, mas sobretudo no segundo trimestre do ano que vem”, afirmou, acrescentando, contudo, que o aumento do malparado a partir de Abril dependerá da retoma da economia, mas também de outros factores, por exemplo, caso seja decidido manter moratórias apenas para os sectores mais afectados pela crise pandémica. “Vamo-nos preparando para um cenário mau, mas a Caixa está preparada em termos de capital para esse cenário”, vincou Macedo.

O presidente executivo da CGD disse que as previsões do banco são de subida do malparado, “mas nada para valores que a Caixa teve anteriormente”.

O banco liderado por Paulo Macedo justificou também o desempenho do primeiro semestre com “um resultado extraordinário de 51 milhões de euros (depois de impostos) decorrentes de ganhos actuariais nas responsabilidades com benefícios pós-emprego”. Para além disso, nos resultados equivalentes do ano passado teve um impacto positivo a venda “do Banco Caixa Geral Espanha ocorrida nesse ano de 135 milhões de euros”, o que acabou por inflacionar o resultado homólogo.

Descontando estes efeitos extraordinários, “o resultado líquido corrente no primeiro semestre do corrente ano foi de 198,1 milhões de euros, que compara com 282,5 milhões de euros gerados nos primeiros seis meses de 2019, correspondendo a uma redução homóloga de 30%”.

Meta em risco

No comunicado em que revela os resultados, a CGD acompanha os números dos lucros com os da rentabilidade. Um sinal importante, dado que é um dos indicadores decisivos a ter em conta na execução do plano de recapitalização acordado com as autoridades europeias para autorizar a injecção de cerca de cinco mil milhões de euros de ajudas públicas. E, neste caso, a equipa de Paulo Macedo sublinha que “o resultado líquido positivo de 248,6 milhões de euros equivale a uma rendibilidade de capitais próprios (ROE) de 6,2%”, uma melhoria face ao primeiro trimestre, mas ainda longe da meta de 9% definida para o final deste ano. 

Sem efeitos extraordinários, o cenário é pior e já está afectado pelos efeitos da pandemia de covid-19. Diz o banco que o “ROE da actividade corrente foi assim de 5,0%, menos 2,4 pontos percentuais que o valor obtido no primeiro semestre de 2019”. Uma degradação da rentabilidade que o banco atribui ao "reforço de provisões e imparidades”.

Assim, “os resultados operacionais foram impactados negativamente (-36,6%) pelo acréscimo de provisões para garantias e outros compromissos assumidos, +70,6 milhões de euros face ao valor registado no primeiro semestre de 2019, tendo a imparidade de crédito líquida de recuperações tido um aumento de 75,2 milhões de euros, facto que não é alheio ao impacto da pandemia covid-19”. Esta evolução reflecte “uma atitude de prudência face à eventual degradação da carteira de crédito, com as novas imparidades de crédito a ascenderem a 146,7 milhões de euros”, isto tendo em conta que, no período em análise, houve um agravamento muito vincado do custo do risco do crédito, que chegou “aos 31 pontos base [p.b.], o qual compara com 1 p.b. no primeiro semestre de 2019”,

Nas outras metas, o banco está bem posicionado, em especial nos rácios de capital que, tal como Paulo Macedo destacou, estão em níveis “confortáveis": o rácio mais importante está nos 16,6%, ao passo que a meta é de 14%. Nos outros indicadores que serão avaliados pelas autoridades europeias - custos face às receitas e créditos problemáticos - a Caixa está em linha com os objectivos definidos para o final do ano.

48 mil moratórias

Por ocasião dos resultados, o banco público anunciou ainda que aprovou 48.326 moratórias de crédito até 28 de Julho no âmbito da pandemia de covid-19, num valor que totaliza 6982 milhões de euros.

Destes totais, 36.604 moratórias dizem respeito a particulares e 12.222 a empresas, ao passo que relativamente aos montantes, as moratórias concedidas aos particulares totalizam 3063 milhões de euros e as que dizem respeito às empresas 3919 milhões de euros.

Já no que diz respeito às linhas de crédito covid-19, o banco público informou que o seu valor ascende a 1226 milhões de euros (em 8805 operações), dos quais 927 dizem respeito à garantia pública (4927 operações) e 309 milhões da garantia do Fundo Europeu de Investimento (3878 operações).

O banco público contabilizou ainda 5.171 milhões de euros em crédito concedido respeitante a outras linhas de financiamento, dos quais 3.990 relativos a crédito concedido entre 01 de Janeiro e 28 de Julho, e 3039 de crédito pré-aprovado.

Por outro lado, a CGD fechou o final do primeiro semestre com menos 582 trabalhadores relativamente ao mesmo período do ano passado, contabilizando também menos uma agência. com Lusa