Ocean Vuong: uma história de dor e exuberância
Imigrante, refugiado, filho de iletrados, 31 anos, escreveu um romance de formação a olhar para trás, como uma carta de um filho à sua mãe que nunca o irá ler. Na Terra Somos Brevemente Magníficos é a estreia do autor na prosa depois da poesia ter mudado a sua vida. O narrador faz perguntas incómodas num estilo que o autor quis como se fosse uma interpretação drag. Tudo é excessivo como conta numa entrevista a partir de Massachusetts, onde vive.
Ocean Vuong tem história invulgar. A começar pelo nome. A mãe, uma manicure vietnamita a trabalhar nos Estados Unidos, descrevia o mar de uma praia a uma cliente e o som que saía não era o de beach (praia), mas de bitch (cabra, prostituta). A mulher sugeriu que ela dissesse ocean, desse modo não haveria confusão. A mãe gostou da palavra e do significado e renomeou o seu filho, Vuong Quôc Vinh. Ele passou a ser Ocean no novo país onde chegou aos dois anos, refugiado, imigrante, neto de um soldado americano que gostava de Miles Davis e foi combater no Vietname. O soldado apaixonou-se por uma trabalhadora rural de uma quinta de arroz e os dois tiveram três filhas. Um dia o soldado regressou aos Estados Unidos para visitar a família no Michigan e não conseguiu voltar ao Vietname. A guerra terminara, e a mulher, para sobreviver, pôs as filhas em três orfanatos separados. As irmãs cresceram sem se conhecerem. A mãe de Ocean lavava cabelos de homens na antiga Saigão e teve um filho aos 18 anos, em 1988. Descobriu que pertencia a uma raça mista e, segundo as leis do então novo regime comunista, não podia trabalhar no Vietname. Com a mãe e as irmãs, que reencontrou, exilou-se nas Filipinas à espera de poder viajar para os Estados Unidos ao abrigo de uma lei que recebia filhos de ex-soldados americanos.