Jazz 2020 na Gulbenkian quer reflectir “uma fase bastante criativa do nosso jazz”
O festival que esta sexta-feira começa, e que excepcionalmente se estende a Coimbra e Porto, é o reflexo de um ano atípico, o da pandemia. A aposta vai para as mais recentes revelações do género em Portugal.
O jazz está de volta à Gulbenkian, em dois fins-de-semana consecutivos. Mas a pandemia, com tudo o que ela impôs (cancelamentos de viagens, distanciamento, precauções várias), obrigou também a mudar os planos. Em lugar do Jazz em Agosto, o Jazz 2020; em vez de músicos de vários países, só músicos portugueses; e onde havia um só palco, agora há três: em Lisboa, em Coimbra e no Porto.
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O jazz está de volta à Gulbenkian, em dois fins-de-semana consecutivos. Mas a pandemia, com tudo o que ela impôs (cancelamentos de viagens, distanciamento, precauções várias), obrigou também a mudar os planos. Em lugar do Jazz em Agosto, o Jazz 2020; em vez de músicos de vários países, só músicos portugueses; e onde havia um só palco, agora há três: em Lisboa, em Coimbra e no Porto.
José Pinto, director-adjunto da Gulbenkian Música, que partilha com o director artístico Rui Neves a responsabilidade pelo festival, recorda ao PÚBLICO como tudo se passou: “A 37.ª edição do Jazz em Agosto estava programada e pronta a ser divulgada quando fomos apanhados no meio da pandemia.” Grande parte dos músicos viria dos Estados Unidos, o que desde logo tornava impossível cumprir o programa. Pensaram em cancelar, mas… “Ao mesmo tempo, a Fundação Gulbenkian lançou o fundo de emergência para a cultura e começámos a perceber o impacto que a pandemia estava a ter na comunidade artística e em concreto no meio musical. A partir daí pensámos que seria importante fazer qualquer coisa para trazer os músicos portugueses para o palco, para os apoiar. Daí o Jazz 2020 e não o Jazz em Agosto, centrando o foco quer nos músicos portugueses quer no ano atípico que estávamos a ter.”
O espírito de sempre
A ideia de alargar o festival a outras cidades também nasceu aí, diz José Pinto: “Propusemos parceria a duas associações que se têm distinguido no meio do jazz nacional, a Jazz ao Centro de Coimbra e a Porta-Jazz do Porto. Aderiram de imediato.” E tudo isto se insere, afirma, “na linha de acção que a Fundação Gulbenkian tem assumido desde o início da pandemia, primeiro com o fundo de emergência, depois com o Festival Jardim de Verão, onde houve a participação de músicos nacionais, agora com o Jazz 2020 e com o apoio à apresentação de artistas plásticos portugueses em França”.
Em Lisboa, todos os concertos decorrem, como habitualmente, no Anfiteatro ao Ar Livre, sempre às 21h30, com este programa: Coreto Porta-Jazz (sexta-feira, dia 31), Susana Santos Silva, Impermanence (sábado, dia 1), Angélica Salvi/The Selva (domingo, dia 2), Daniel Bernardes & Drumming GP, Liturgy of the Birds (sexta-feira, dia 7), João Lencastre, Parallel Realities (sábado, dia 8) e Lantana/João Mortágua (domingo, dia 9). Em Coimbra, na Casa das Artes Bissaya Barreto, sempre às 18h, estarão os trios Luís Vicente, Hugo Antunes e Pedro Melo Alves (sábado, dia 1) e TGB III, Sérgio Carolino, Mário Delgado e Alexandre Frazão (sábado, dia 8). Por fim, no Porto, na Sala Porta Jazz (Quintal), sempre às 19h, actuam um quarteto composto por Ricardo Toscano, Rodrigo Pinheiro, Miguel Mira e Gabriel Ferrandini (este domingo) e o André Rosinha Trio, a apresentar o disco Árvore (domingo, dia 9).
Rui Neves, director artístico deste Jazz 2020 como do Jazz em Agosto, diz que os princípios são os mesmos: “O Jazz em Agosto tem um espírito, que é dar a conhecer coisas novas, projectos recentes do jazz internacional, e essa ideia é aplicada neste caso à realidade do jazz nacional. Decidimos adoptar o critério de escolher projectos relevantes de 2019: não só discos que foram bastante aplaudidos, mas também concertos. E fizemos uma programação de actualidade. Há cinco anos não seria possível apresentar um nível de programação idêntico. Felizmente, isto coincide com uma fase bastante criativa do nosso jazz.”
“Quebrar este torpor”
Sem querer destacar em particular nenhum dos nomes da programação, “todos muito diferentes”, Rui Neves chama ainda assim a atenção para o projecto da trompetista Susana Santos com o Impermanence, e para o concerto duplo de Angélica Salvi com The Selva. Mas também nomeia “um grupo já veterano, caso do TGB (tuba, guitarra e bateria), com três músicos super importantes da nossa cena”, a repetição, desta vez no Porto, de um quarteto de improvisação que se apresentou no Jazz em Agosto de 2019 (Ricardo Toscano, Rodrigo Pinheiro, Miguel Mira e Gabriel Ferrandini). “Também de improvisação, temos um trio absolutamente novo que tocou só uma vez em Coimbra, composto pelo trompetista Luís Vicente, o contrabaixista Hugo Antunes e o baterista Pedro Melo Alves”, nota.
Nos concertos de Lisboa, o anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian está reduzido a 300 e poucos lugares, um terço da sua lotação habitual, devido à pandemia. Mas, voltando a José Pinto, “o importante é trazer os músicos de volta”. Com os seus projectos e a sua música. “Para quebrarmos um bocado este torpor, este quase interregno existencial. Para, como dizia a personagem do Michael Caine no filme Interstellar, citando Dylan Thomas, não nos deixarmos entrar docilmente nesta noite escura.”