OMS preocupada com papel dos jovens no recente aumento de casos de covid-19 na Europa
Aumento das infecções entre os mais jovens é comum a vários países da Europa, mas também está a acontecer nos EUA. Responsável europeu da Organização Mundial da Saúde diz que aumento de casos não está ligado a mudanças no comportamento do vírus, mas sim a alterações “no comportamento humano” e pede responsabilidade aos jovens.
Os jovens podem ser responsáveis pelo aumento de casos da covid-19 em vários países europeus nas últimas semanas, algo que preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS). O alerta foi deixado esta quarta-feira pelo director regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, em entrevista à emissora BBC Four.
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Os jovens podem ser responsáveis pelo aumento de casos da covid-19 em vários países europeus nas últimas semanas, algo que preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS). O alerta foi deixado esta quarta-feira pelo director regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, em entrevista à emissora BBC Four.
Kluge afirmou que as autoridades de cada país precisam de se esforçar mais para comunicar assuntos relacionados com a covid-19 aos mais jovens, uma vez que a OMS tem recebido alertas de várias autoridades da Saúde de vários países sobre o aumento de infecções nestes grupos populacionais. “Estamos a receber alertas de várias autoridades sanitárias sobre uma maior proporção de novas infecções entre os mais jovens. Na minha opinião, é mais do que óbvio que precisamos de repensar a maneira de envolver os mais jovens [nas comunicações sobre a covid-19]”, afirmou.
O responsável avançou à emissora britânica que um número cada vez maior de países está a assistir a surtos localizados e a ressurgimento de casos, algo que parece não estar ligado a mudanças no comportamento do vírus, mas sim a alterações “no comportamento humano”. O director regional disse que entende que os jovens “não querem perder o Verão”, mas apelou ao sentido de responsabilidade. “Eles têm uma responsabilidade para com eles próprios, para com os pais, avós e para com as suas comunidades. Agora sabemos como adoptar comportamentos seguros, vamos aproveitar esse conhecimento”, disse.
Este aumento de casos entre os jovens parece estar a coincidir com o começo das férias de Verão (atípicas) para muitos cidadãos. Esta quarta-feira, em comunicado, a Direcção-Geral da Saúde francesa alertou para o facto de “a circulação do vírus continuar activa em França” e afirmou que novos surtos de infecção foram detectados nos últimos dias, “especialmente entre jovens adultos”. A autoridade da Saúde avisa que é necessário continuar a “respeitar rigorosamente o distanciamento social”, até porque a propagação do vírus pode ser pouco visível nas camadas mais jovens por existirem muitos casos assintomáticos”.
Dias antes, em entrevista ao diário Le Parisien, o ministro da Saúde francês, Olivier Véran, tinha afirmado que enquanto as faixas etárias mais velhas mantiveram “um nível elevado de cautela”, os jovens não o fizeram e chegam aos hospitais sem saber como ficaram infectados.
O governante admitiu a possibilidade de vir a encerrar bares e cafés em determinadas regiões, se a circulação do vírus continuar a acelerar-se. Véran afirmou que as viagens podem ajudar a explicar o aumento de casos e, ainda que diga entender que os jovens necessitam de “mudar de ares”, apelou à “vigilância da juventude”. “O vírus não tira férias”, lembrou.
Também o Instituto Nacional de Saúde Pública dos Países Baixos refere, na última actualização aos números da covid-19 no país, feita esta terça-feira, que além de um aumento do número de infecções, foi detectada também “uma mudança na estrutura etária”. “Nas últimas semanas, assistimos a um aumento maior entre as faixas etárias mais jovens do que entre as faixas etárias mais velhas”, refere o instituto. O aumento de casos é mais notório nas faixas etárias entre os 20 e os 29 anos e entre os 30 e os 39 anos.
A Austrália e o Japão, países que divulgaram novos recordes de casos diários esta semana, também alertaram para o aumento de infecções entre os jovens, escreve a agência Reuters, que diz que muitos deles têm comemorado o fim das medidas de contenção da propagação do vírus em bares e festas.
E o mesmo parece estar a acontecer em Espanha. Segundo o New York Times, em Córdova, 91 casos de infecção recentes estão ligados a uma festa numa discoteca onde estiveram mais de 400 pessoas. As autoridades de Saúde ainda estão a tentar identificar todas as pessoas que possam ter estado em contacto com os infectados nessa noite ou em datas posteriores. Menos de um mês depois de Espanha levantar o estado de emergência, cidades como Barcelona, Saragoça e Madrid estão a assistir a um aumento de casos, o que já levou à imposição de novas medidas de contenção.
Em Madrid, o uso de máscaras passou a ser obrigatório em todos os espaços públicos, para todas as pessoas com mais de seis anos e em qualquer circunstância, com excepção da prática de exercício físico. Quanto às actividades nocturnas, os bares passam a fechar à 1h30 e os espaços são obrigados a recusar novos clientes a partir da uma hora. Os restaurantes terão de registar o número do bilhete de identidade do cliente e o seu contacto, para que seja possível o rastreamento de novas cadeias de transmissão. Na Catalunha, o Governo também está a ponderar fechar bares e espaços de diversão nocturna nas próximas duas semanas.
Em Portugal, como em muitos países, a covid-19 é mais mortal na faixa etária acima dos 70 anos: a doença matou 1489 pessoas com estas idades — em todas as faixas etárias foram registadas 1722 mortes. Ainda assim, é mais nas camadas mais jovens que se detectam mais casos de infecção. Os jovens entre os dez e os 29 anos foram um dos grupos que mais casos de infecção somaram desde o dia 4 de Maio, data do início da primeira fase de desconfinamento, e até esta quarta-feira — as infecções subiram 168%.
Segundo o boletim da Direcção-Geral da Saúde desta quarta-feira, já foram confirmados cerca de dez mil casos nestas faixas etárias, um quinto do total de casos confirmados. Se incluirmos nestas contas a faixa etária dos 30 aos 39, este número sobe para 18 mil, cerca de 36% do total de infecções do país.
Jovens (também) demoram semanas a recuperar
Apesar de o alerta da OMS ter sido dirigido principalmente aos jovens europeus, o aumento de casos nas faixas etárias mais baixas também se verifica no outro lado do Atlântico. Nos Estados Unidos, os mais jovens estão a representar uma percentagem crescente de novos casos nas cidades e estados onde o vírus continua a multiplicar-se, uma tendência que preocupa as autoridades de saúde pública.
De acordo com os dados obtidos pelo New York Times, no estado do Arizona, onde os centros de testes à covid-19 em regime de drive-thru estão sobrecarregados, as pessoas entre os 20 e os 44 anos representam quase metade de todos os casos. Na Florida, que bate recordes de casos quase todos os dias, a média das idades dos residentes infectados caiu para 35, quando em Março era de 65 anos. Também no Texas, onde o governador interrompeu o processo de reabertura na semana passada, os jovens constituem a maior parte dos novos casos em vários centros urbanos. E não é só nos estados do Sul que esta situação se repete: o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, disse na quinta-feira que as taxas de infecção em todas as faixas etárias eram estáveis ou até diminuíram no estado, excepto no grupo populacionais dos 21 aos 30 anos. Esta faixa etária representa uma fracção cada vez maior dos novos casos das últimas duas semanas.
O padrão de infecções — que coincide com a reabertura de bares, restaurantes e alguns negócios e com um “aumento da socialização”, principalmente por parte dos mais jovens — está a chamar a atenção dos governadores e das autoridades de saúde pública e é um sinal preocupante para as cidades e instituições que se prepararam para a reabertura de escolas e universidades e para o regresso de eventos desportivos.
Na sexta-feira, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla inglesa) afirmou, no seu relatório semanal de morbilidade e mortalidade, que mesmo os jovens que antes de ficarem infectados eram saudáveis podem demorar semanas a recuperar-se totalmente, ainda que tenham manifestações menos graves da doença.
A investigação do CDC, que incluiu questionários a adultos sintomáticos de 13 estados norte-americanos, concluiu que 35% não tinham voltado ao estado normal de saúde quando entrevistados três semanas depois de serem diagnosticados e que os sintomas da covid-19 — tosse, fadiga e falta de ar — ainda persistiam. Os resultados indicam que a recuperação pode ser prolongada mesmo em jovens sem problemas de saúde crónicos prévios. Os peritos do CDC defendem que é necessário fazer campanhas com mensagens de saúde pública específicas para grupos etários que ainda não perceberam a gravidade da doença.