Não existe um pedófilo em cada esquina. Mas é preciso falar sobre isto
Prevenir o abuso sexual não é criar alarmismos nem fechar a criança a sete chaves. É mostrar à criança que não deve sentir culpa nem vergonha de falar sobre isto e que nós, adultos, estaremos sempre aqui para as proteger.
Nas férias as crianças andam mais em rédea solta, o que as torna em alvos mais fáceis para agressores sexuais. O tempo de descanso convida a uma rotina com menos regras e mais divertimento, o que permite a muitas crianças saírem um pouco debaixo da alçada dos pais e interagirem mais com primos e amigos. O que é fantástico mas exige, ao mesmo tempo, uma abordagem preventiva.
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Nas férias as crianças andam mais em rédea solta, o que as torna em alvos mais fáceis para agressores sexuais. O tempo de descanso convida a uma rotina com menos regras e mais divertimento, o que permite a muitas crianças saírem um pouco debaixo da alçada dos pais e interagirem mais com primos e amigos. O que é fantástico mas exige, ao mesmo tempo, uma abordagem preventiva.
Alguns pais mostram-se alarmistas e catastrofizam, transmitindo aos filhos a mensagem que existe um pedófilo em cada esquina. Esta abordagem apenas gera medo e ansiedade e em nada ajuda a saber identificar e lidar com potenciais situações de risco.
Outros pais optam por prender os miúdos numa redoma de vidro, vigiando com mil olhos todos os passos que dão. A verdade é que esta estratégia acaba por inibir a necessidade perfeitamente saudável que as crianças têm em crescer e explorar o mundo.
É preciso encontrar um ponto de equilíbrio.
Antes de mais, é preciso que os pais assumam que esta realidade existe e que os agressores sexuais não são feios, porcos e maus que saltam detrás de um arbusto para violar criancinhas e que, por isso mesmo, se topam a léguas. São pessoas, não raras vezes, simpáticas, bem falantes e amigas. Sim, amigas.
Depois, é preciso que os pais entendam de uma vez por todas que este assunto tem necessariamente de ser abordado com as crianças, de uma forma tranquila e sem tabus. Com a mesma naturalidade com que falamos sobre os cuidados a ter com as ondas do mar ou ao atravessar uma estrada, devemos alertar para os perigos associados ao abuso sexual: perigos associados ao olhar, ao falar e ao tocar (ver também https://life.dn.pt/o-abuso-sexual-explicado-por-uma-crianca-de-8-anos/opiniao/343646/).
E quando falamos em olhar, não podemos deixar de pensar nas crianças que, na praia, andam nuas ou semi-nuas. Sim, sabemos que são pequenas e inocentes. Mas não são inocentes os adultos que, ao longe, as olham e fotografam. E o que fazem com aquelas fotos? Com quem as partilham?
Prevenir o abuso sexual não é criar alarmismos nem fechar a criança a sete chaves. É conversar sobre o corpo e as suas partes privadas, os tipos de toques e os bons e maus segredos. É ajudar a criança a identificar potenciais situações de risco e a saber o que fazer. Aprender a dizer “não” e pedir ajuda, contrariando o código de silêncio que caracteriza estas situações. É mostrar à criança que não deve sentir culpa nem vergonha de falar sobre isto e que nós, adultos, estaremos sempre aqui para as proteger.