Covid-19: Unicef alerta para risco de desnutrição de 6,7 milhões de crianças

A Unicef estimou que cerca de 47 milhões de crianças sofreram com a falta de nutrição em 2019, antes da pandemia, e alertou que, se não houver acções urgentes, esse número poderá chegar aos 54 milhões em 2020.

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Crianças numa zona de acolhimento de deslocados em Cabo Delgado, Moçambique RICARDO FRANCO/EPA

Cerca de 6,7 milhões de crianças com menos de cinco anos correm o risco de sofrer níveis perigosos de desnutrição este ano devido à pandemia do novo coronavírus. A partir de uma análise publicada na revista The Lancet, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) observou que 80% das crianças em risco vivem na África subsaariana e no sul da Ásia.

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Cerca de 6,7 milhões de crianças com menos de cinco anos correm o risco de sofrer níveis perigosos de desnutrição este ano devido à pandemia do novo coronavírus. A partir de uma análise publicada na revista The Lancet, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) observou que 80% das crianças em risco vivem na África subsaariana e no sul da Ásia.

“Faz sete meses desde que os primeiros casos da covid-19 foram relatados e é cada vez mais claro que as repercussões da pandemia estão a prejudicar as crianças mais do que a própria doença”, afirmou, em comunicado, a directora executiva da Unicef, Henrietta Fore.

A mesma responsável lembrou que as taxas de pobreza das famílias e a insegurança alimentar aumentaram, com cortes nos serviços essenciais de nutrição e nas cadeias de abastecimento, e com acentuados aumentos nos preços dos alimentos em alguns lugares. “Como resultado, a qualidade da dieta das crianças piorou e a taxa de desnutrição aumentará”, salientou.

A análise publicada na The Lancet apontou para um possível aumento do desperdício, uma forma de desnutrição que põe em risco a vida das crianças, deixando-as muito magras e fracas. “Desperdiçar não só pode causar a morte, mas também causa deficiências no crescimento, desenvolvimento e aprendizagem”, diz a agência da ONU.

A Unicef estimou que cerca de 47 milhões de crianças sofreram com esse problema em 2019, antes da pandemia, e alertou que, se não houver acções urgentes, esse número poderá chegar aos 54 milhões em 2020. Isso, sublinhou, colocaria o lixo global em níveis nunca vistos até agora neste século.

O aumento do desperdício nos países em desenvolvimento como resultado da covid-19 pode chegar a 14,3%, o que se traduz em mais de dez mil mortes infantis por mês, mais de 50% delas na África subsaariana, de acordo com a Unicef. Além disso, a mesma responsável sublinhou que o agravamento da dieta e a interrupção dos serviços de nutrição vão piorar outras formas de desnutrição em crianças e mulheres, como o nanismo, deficiência de micronutrientes, sobrepeso e obesidade.

Segundo a Unicef, nos primeiros meses da pandemia houve uma redução geral de 30% na cobertura de serviços vitais de nutrição, com alguns países a registarem uma interrupção muito maior. Entre outros, no Haiti, o medo de contágio e a falta de equipamento de protecção para os profissionais de saúde levaram a uma redução estimada de 73% nos internamentos para tratar subnutrição grave em crianças.

De acordo com as estimativas da agência das Nações Unidas, mais de 250 milhões de crianças em todo o mundo não estão a receber suplementos de vitamina A devido à covid-19.