Covid-19: União Audiovisual apoia “entre 150 e 160” trabalhadores da cultura por semana

The Legendary Tigerman juntou-se à “causa” e deu um concerto no Village Underground, em Lisboa, neste domingo.

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The Legendary Tigerman Paulo Pimenta

A União Audiovisual, grupo informal criado para apoiar os trabalhadores do sector da cultura, está a apoiar, em todo o país, “entre 150 e 160 pessoas” por semana, adiantou à Lusa Ricardo Queluz. “Só em Lisboa ajudamos entre 50 e 70 pessoas por semana”, acrescentou o voluntário do grupo de ajuda alimentar neste domingo, no final do concerto do músico The Legendary Tigerman (nome artístico de Paulo Furtado), que se juntou à “causa” da União Audiovisual.

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A União Audiovisual, grupo informal criado para apoiar os trabalhadores do sector da cultura, está a apoiar, em todo o país, “entre 150 e 160 pessoas” por semana, adiantou à Lusa Ricardo Queluz. “Só em Lisboa ajudamos entre 50 e 70 pessoas por semana”, acrescentou o voluntário do grupo de ajuda alimentar neste domingo, no final do concerto do músico The Legendary Tigerman (nome artístico de Paulo Furtado), que se juntou à “causa” da União Audiovisual.

O Village Underground, em Lisboa, acolheu o concerto — para o qual não se pagava entrada, pedindo-se em contrapartida contribuições alimentares, que depois vão ser distribuídas pela União Audiovisual aos mais necessitados.

Ricardo Queluz refere que é “a meio do mês” que o grupo recebe mais pedidos e assinala que, neste momento, está “a ter um bocadinho menos de ajuda”, admitindo que possa ter que ver com o período de férias, mas também com algo que já se antecipava: alguns dos que têm ajudado podem agora não estar em condições de o fazer ou até estarem, eles próprios, a precisar de ajuda.

Isto porque estamos a falar de uma área — a da cultura, artes e espectáculos — em que proliferam os “trabalhadores independentes”, que têm trabalho num mês e no seguinte já não, mas que, como todos os outros, precisam de “trabalhar para sobreviver e pagar as contas”, vinca Ricardo Queluz. “No início, tivemos muita gente a ajudar, muitas semanas de grande suporte das pessoas”, realçou.

À saída do concerto deste domingo, um músico-técnico-fotógrafo comentava a sorte que tinha tido por poder levar a família para uma quinta na zona de Aljezur. Estava de regresso a Lisboa por um dia, e “para um só trabalho, ‘o’ trabalho”. De resto, “tudo foi cancelado”.

“As pessoas agora começam a ter noção de que o espectáculo não é só o artista, e o artista não é só aquela pessoa que aparece na revista ou num jornal. Isto envolve muito trabalho, mais dias de trabalho do que só aquela hora ou hora e meia em que o artista está no palco”, destaca Ricardo Queluz.

A ideia de criar um grupo de entreajuda no Facebook surgiu em Março, quando a pandemia se instalou e o sector paralisou. “Dois, três dias depois, já tinha seis mil pessoas” aderentes, recorda Ricardo Queluz, contando que o grupo chegou a receber donativos em dinheiro, mas optou depois por aceitar bens alimentares apenas.

A União Audiovisual criou uma estrutura para fazer as recolhas e as entregas dos cabazes alimentares. O grupo foi criado “só para este efeito” e, “quando esta crise acabar”, também “irá terminar”, frisou Ricardo Queluz.

Até meados de Maio, a crise no sector da cultura tinha dado origem a pelo menos dois grupos de ajuda alimentar, que começaram por Lisboa, mas criaram depois núcleos no resto do país. Para além da União Audiovisual, também o nosSOS, promovido pela companhia de teatro Palco 13, faz entregas semanais. Quem quiser ajudar, ou precisar de ajuda, pode contactar estes grupos usando a Internet. A União Audiovisual tem um grupo no Facebook, que é fechado, mas basta pedir para aderir, e um site. O nosSOS também tem um site e pode ser contactado através do Facebook da Palco 13.

Os espaços culturais começaram a encerrar e, consequentemente, a adiar ou cancelar espectáculos no início de Março, quando a opção era ainda apenas uma recomendação do Governo, que viria a instaurar o estado de emergência apenas no dia 18.

De acordo com a Associação de Promotores de Espectáculos, Festivais e Eventos (APEFE), desde meados de Março e até ao final de Abril foram cancelados, suspensos ou adiados cerca de 27 mil espectáculos. Livrarias, bibliotecas e arquivos reabriram a 4 de Maio, seguindo-se museus, palácios, galerias e monumentos. Cinemas, teatros, auditórios e salas de espectáculos voltaram a abrir portas a 1 de Junho, “com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico”.

De acordo com um inquérito promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, Audiovisual e Músicos (Cena-STE), divulgado no início de Abril, 98% dos trabalhadores de espectáculos tiveram trabalhos cancelados, 33% dos quais por mais de 30 dias. Para as 1300 pessoas que responderam ao questionário, as perdas por trabalhos cancelados representaram dois milhões de euros, apenas para o período de Março a Maio.