Cidades turísticas usam vazio pós-covid para atrair visitantes locais
Nova Iorque e Paris apostam em vender momento único. Veneza tenta reinventar-se, mas não é claro como.
Antes, era impossível encontrar ruas sem turistas: Nova Iorque sempre foi uma das cidades mais procuradas por turistas e em 2019 quebrou o recorde com 66 milhões de visitas de todo o mundo. Mas em 2020, a cidade, o primeiro epicentro da pandemia nos EUA, está vazia e a tentar encontrar modos de compensar a quebra de receitas: segundo o Wall Street Jornal, o dinheiro gasto pelos turistas no ano passado ajudou a criar ou manter 400 mil empregos.
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Antes, era impossível encontrar ruas sem turistas: Nova Iorque sempre foi uma das cidades mais procuradas por turistas e em 2019 quebrou o recorde com 66 milhões de visitas de todo o mundo. Mas em 2020, a cidade, o primeiro epicentro da pandemia nos EUA, está vazia e a tentar encontrar modos de compensar a quebra de receitas: segundo o Wall Street Jornal, o dinheiro gasto pelos turistas no ano passado ajudou a criar ou manter 400 mil empregos.
Algumas atracções turísticas, como o Empire State Building ou a Estátua da Liberdade, começaram agora a reabrir, mas com a maioria dos turistas internacionais impedida de entrar no país e quem vier de 31 dos 50 estados dos EUA sujeito a quarentena obrigatória de duas semanas depois de entrar em Nova Iorque, está a fazer campanha para atrair turistas locais e de estados perto, com o argumento de que assim é possível ver a cidade como nunca: quase vazia.
Na Europa, Veneza tem uma das maiores discrepâncias entre habitantes (270 mil) e turistas por ano (25 milhões), e se o debate pré-pandemia era se a cidade iria sobreviver ao turismo em massa, a discussão é agora sobre o modo como poderá sobreviver com muito menos turismo. “Quase parece vingança divina”, desabafava Alberto Zen, 32 anos, organizador de eventos, ao site EUObserver. “Durante anos não conseguíamos suportar a cidade demasiado cheia de turistas, e agora não temos nenhum.”
A responsável do pelouro do turismo da câmara de Veneza, Paola Mar, disse ao Guardian que não foram tomadas grandes medidas — “agora é altura de pensar” — mas foram dados pequenos passos: “Proprietários que antes arrendavam a turistas assinaram acordos com a câmara e com as universidades de Veneza para arrendar a estudantes”, exemplificou.
A aposta no turismo de proximidade é repetida noutras cidades muito turísticas como Paris. Ninguém espera que os 50 milhões de turistas regressem em breve — a taxa de ocupação dos hotéis foi de apenas 18% em Junho. A piorar os problemas económicos da cidade, antes do confinamento muitos parisienses com segunda casa fora da capital saíram da cidade e muitos ainda não voltaram. E é também com o campo e a praia que Paris está a competir para atrair os turistas franceses.
Mas “é uma hipótese que não se deverá repetir de apreciar Paris e os seus hotéis, restaurantes, lojas, museus e parques sem as multidões de turistas estrangeiros,” sublinhou à France 24 Vangelis Panagiotis, presidente do grupo de consultoria de turismo MKG. Algumas atracções já estão a recuperar: a Torre Eiffel, por exemplo, tem tido o seu restaurante com reservas para todos os jantares.
Em Barcelona, a retórica é diferente. “Há pessoas que acham que a cidade é maravilhosa assim, sem turistas”, disse Xavier Marcé, responsável pelo turismo no executivo da cidade. “Mas talvez mudem de ideias quando o estado deixar de pagar 80% do seu salário em Setembro, e o desemprego chegar aos 18%.” Associações de comércio prevêem que um em cada quatro restaurantes no centro de Barcelona encerrem permanentemente por causa do coronavírus.
Londres, outra das mais visitadas cidade da Europa, está a sofrer também com a falta de turistas, especialmente no sector das artes e espectáculo. Mas a consequência mais inusitada foi a necessidade de, pela primeira vez nos seus mais de 500 anos de história, serem dispensados do serviço alguns guardas da Torre de Londres, conhecidos por Beefeaters. A organização que gere o local vive das verbas das entradas e o seu chefe executivo, John Barnes, disse ao Washington Post que não havia outra escolha “excepto reduzir o gasto em ordenados”. “Temos muita pena de ter tido que chegar a isto”, concluiu.