“O fascismo é como um fungo, cresce na sombra”
No mesmo dia para o qual foi agendado um encontro de “nacionalistas e patriotas” junto ao Padrão dos Descobrimentos, a Frente Antifascista saiu à rua para lembrar o Parlamento da petição contra a legalização de organizações “racistas ou fascistas” e defender a Constituição.
No mesmo dia em que junto do Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, se marcou um encontro de “nacionalistas e patriotas portugueses”, a Frente Unitária Antifascista (FUA) saiu às ruas para defender a Constituição e dar um “sinal claro” de que “o ódio não pode correr solto”. À manifestação antifascista associaram-se também membros do Livre e do Movimento Alternativa Socialista. De máscaras no rosto e de cartazes no ar, cerca de uma centena de pessoas juntaram-se no Príncipe Real de onde desceram até ao Cais do Sodré, tentando manter o distanciamento imposto pela pandemia.
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No mesmo dia em que junto do Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, se marcou um encontro de “nacionalistas e patriotas portugueses”, a Frente Unitária Antifascista (FUA) saiu às ruas para defender a Constituição e dar um “sinal claro” de que “o ódio não pode correr solto”. À manifestação antifascista associaram-se também membros do Livre e do Movimento Alternativa Socialista. De máscaras no rosto e de cartazes no ar, cerca de uma centena de pessoas juntaram-se no Príncipe Real de onde desceram até ao Cais do Sodré, tentando manter o distanciamento imposto pela pandemia.
Debaixo de um dia quente, a luta fez-se ao sol contra “o fungo que cresce na sombra”: o “fascismo”. O percurso escolhido foi curto, mas simbólico. A meio do trajecto, no Bairro Alto, o silêncio substituiu os gritos de ordem. O motivo? Homenagear a memória de Alcindo Monteiro, que há 25 anos ali foi assassinado por um grupo de skinheads. Durante um minuto, os cartazes desceram e foram substituídos por punhos no ar. A homenagem terminou com palmas, mas também com vozes críticas, que com emoção e revolta protestaram que um dos envolvidos na morte de Alcindo Monteiro, Mário Machado, continua politicamente activo na liderança do movimento Nova Ordem Social.
Para o colectivo, a existência deste e de outros movimentos congéneres reflecte a complacência dos partidos e associações em relação organizações de índole nacionalista e fascista, não só a nível nacional, mas também a nível europeu. “Vemos a extrema-direita a crescer e as instituições do Estado não estão interessadas em combater este crescimento”, declarou Vasco Santos, um dos coordenadores da FUA, ao PÚBLICO.
Já em 2019, o grupo saiu à rua pelas mesmas razões e criou uma petição que visa impedir que saiam às ruas a organizações racistas ou fascistas, sejam elas legalizadas em partido ou não. “A nossa Constituição diz que a existência destes movimentos não é permitida”, lembra Vasco Santos, referindo-se ao artigo 46.º. Num país que “é estruturalmente racista” ter “um deputado a fazer saudações romanas enquanto diz que não há racismo” é um problema que precisa de resposta, e “não de assobios para o lado”. “Quem mete a cabeça na areia em democracia, acorda em ditadura”, conclui.
Os receios dos activistas aumentam à medida que crescem também os impactos da crise económica trazida pela pandemia. “Ao não tomar as acções de apoio necessárias, o Estado está a contribuir indirectamente para que estes discursos extremistas encontrem uma base de apoio”, considera Vasco Santos. “Quem aparece como contestatário, mesmo que o sendo de forma ardilosa e para poder implementar algo bem pior, acaba por radicalizar pelo menos parte da população”, acrescenta, exemplificando com o crescimento do partido Chega. “Aconteceu o mesmo com o Brasil. A maior parte das pessoas que votaram no Bolsonaro com certeza não são fascistas. Mas estavam desesperadas”, diz.
O activista nota que a estratégia dos partidos tem sido, maioritariamente, “não dar palco” a estes movimentos e declarações. “Eles sabem que há um problema, mas acham que a opção é não dar palco. Ele cresce na sombra. Não queremos dar foco. Queremos apontar as incongruências, as mentiras e vigarices que fazem. E muitas têm surgido nas notícias”, nota, antes de esclarecer que “ninguém quer ilegalizar o pensamento”. “As pessoas irão ter as ideias que têm. Mas manifestar publicamente e vender o ódio como opção isso não pode acontecer”, vincou. E se a Constituição não chega para proteger a luta antifascista, então “que se melhore”, pediram.
Em representação do Livre, Isabel Mendes Lopes notou que estes movimentos “não são só sementes, são ervas”. Por isso, é preciso “cortar o mal pela raiz”, disse. O partido, que com a retirada de confiança política à sua única deputada eleita perdeu representação parlamentar, lamentou também o fim dos debates quinzenais, receando que uma menor presença do primeiro-ministro signifique menos possibilidades de fazer o contraditório “às teorias da conspiração” levadas ao Parlamento.
À chegada ao Cais do Sodré, o grupo de manifestantes cruzou-se com alguns dos membros do grupo de nacionalistas que se juntaram a alguns quilómetros de distância, mas foram dadas indicações para que se evitasse o confronto.