Este machado tem 1,4 milhões de anos e é feito de osso de hipopótamo
A “caixa de ferramentas” pré-históricas ganhou um novo biface de osso que seria usado pelas primeiras espécies Homo que viviam no sul da Etiópia.
O utensílio biface com 13 centímetros de comprimento foi encontrado na região de Konso-Gardula, na Etiópia. Os cientistas acreditam que este invulgar machado feito de osso de uma perna de hipopótamo (e não de pedra como era mais comum) tenha sido utilizado há mais de um milhão de anos pelo Homo erectus que vivia neste território. Além de rara, a peça que se encontra bem preservada e com alguns sinais de uso é uma prova do recurso a uma tecnologia mais sofisticada e versátil do que se pensava existir nesta altura.
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O utensílio biface com 13 centímetros de comprimento foi encontrado na região de Konso-Gardula, na Etiópia. Os cientistas acreditam que este invulgar machado feito de osso de uma perna de hipopótamo (e não de pedra como era mais comum) tenha sido utilizado há mais de um milhão de anos pelo Homo erectus que vivia neste território. Além de rara, a peça que se encontra bem preservada e com alguns sinais de uso é uma prova do recurso a uma tecnologia mais sofisticada e versátil do que se pensava existir nesta altura.
É mais uma peça da cultura acheulense (utensílios bifaces do Paleolítico Inferior) que é desenterrada na região do Konso. Mas, desta vez, não se trata de uma ferramenta de pedra, mas de osso de hipopótamo, mais precisamente de uma parte do fémur deste animal. A descoberta foi feita por cientistas da Universidade de Tóquio e Tohoku, no Japão, que calculam que este fragmento tenha 1,4 milhões de anos e é descrita num artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Seria, dizem os especialistas, uma espécie de machado usado pelo Homo erectus e as marcas de desgaste confirmam o uso desta ferramenta. “Os padrões de danos nas bordas, polimento e estrias são consistentes com o uso em movimentos longitudinais, como no abate”, lê-se no artigo que destaca o valor desta peça que alarga o “reportório tecnológico” desta espécie extinta de hominíneos que viveu em África.
“Durante o Pleistoceno, as espécies Homo desenvolveram machados de pedra e, ocasionalmente, de osso, um estilo de produção de ferramentas conhecido como acheulense”, explica um resumo do trabalho. A equipa de cientistas refere no artigo que “o machado ósseo está soberbamente preservado, permitindo uma variedade de avaliações macroscópicas e microscópicas”.
Assim, os autores analisaram o osso observando que ele mostrava fazer parte da superfície de um fémur do hipopótamo e exibia “extensas cicatrizes” nas lâminas, que sugerem que o osso foi moldado deliberadamente. “Os autores também analisaram o desgaste no machado, encontrando o arredondamento macroscópico próximo à ponta e nas duas faces, sugerindo actividades de corte e serragem”, refere o mesmo resumo do trabalho adiantando ainda que os padrões de polimento e estrias no osso são semelhantes aos que encontramos em ferramentas de pedra usadas para açougue.
“O machado ósseo de Konso que relatamos aqui é feito com uma substancial sofisticação, como evidenciado, por exemplo, pelo grande número de remoções laterais corticais pequenas e bem controladas na formação da forma”, escrevem os cientistas. A lasca bifacial mais fina produzia uma aresta adequada a um corte eficiente, adiantam. A peça “mostra que em Konso, não apenas na tecnologia lítica, mas também na modificação óssea, os indivíduos de H. erectus eram suficientemente habilidosos para criar e usar uma aresta de corte durável”.
Apesar de sugerirem que se tratava de uma ferramenta usada para a matança de animais, tal como as que eram feitas de pedra, os autores notam que dado o pequeno número de ferramentas ósseas desenterradas e a escassez de conhecimento sobre os padrões de polimento ósseo, fica por esclarecer em definitivo a função deste machado e o tipo de materiais em que era usado. O artigo refere ainda que até agora apenas um outro machado ósseo de idade comparável foi encontrado, referindo que essa outra peça terá entre 1,3 a 1,6 milhão de anos e foi descoberta no desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia.