Palácio Restaurante-Bar: um toque de classe numa Espinho que se renova

Espinho já merecia uma casa assim. Dentro do espírito de renovação que se nota na zona mais nobre da cidade, um espaço de referência há muito desactivado transformou-se completamente e acolhe agora uma steak house com decoração cuidada e bar.

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Palácio Restaurante-Bar, Espinho Nelson Garrido

Sem salas oitocentistas como a do Café Chinês ou espaços republicanos como O Nosso Café, que durante décadas foram ponto de encontro da elite cultural do país em passagem pela cidade onde os comboios deslizavam sobre carris paralelos à praia, Espinho já há muito vinha perdendo o glamour quando, em 2008, a linha férrea do Norte passou a circular num túnel subterrâneo. Se antes uns criticavam a divisão que a ferrovia impunha à cidade, cortando-a com o tráfego intenso de carruagens de passageiros e mercadorias, o que se seguiu não foi o que a população idealizara.

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Sem salas oitocentistas como a do Café Chinês ou espaços republicanos como O Nosso Café, que durante décadas foram ponto de encontro da elite cultural do país em passagem pela cidade onde os comboios deslizavam sobre carris paralelos à praia, Espinho já há muito vinha perdendo o glamour quando, em 2008, a linha férrea do Norte passou a circular num túnel subterrâneo. Se antes uns criticavam a divisão que a ferrovia impunha à cidade, cortando-a com o tráfego intenso de carruagens de passageiros e mercadorias, o que se seguiu não foi o que a população idealizara.

O enterramento da linha deixou à superfície um vazio sem graça, desolador de tão mal acabado, e isso fez esmorecer o ânimo dos locais, afastando visitantes e retirando à cidade a freima vibrante de outros tempos. A empreitada para recuperar essa alameda só arrancou em 2017 e, se é verdade que nos 113.000 metros quadrados de área a intervencionar ainda há obras em curso, junto à antiga avenida já muito mudou: há prédios novos e ainda mais caros em construção, interiores que se renovam no comércio tradicional, um maior leque de serviços e, sobretudo, um entusiasmo empresarial que, embora cauteloso, até à pandemia resiste.

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Palácio Restaurante-Bar, Espinho nelson garrido

Prova disso é a abertura, esta quinta-feira, do Palácio Restaurante-Bar, que, com frentes amplas para a Alameda 8, o casino e o acesso à praia, vem conferir a um local de referência da cidade o toque de modernidade pelo qual essa ambicionava há muito – particularmente nos seus espaços de restauração.

A mudança deve-se a Rui Amorim e Luís César Correia. Depois de afirmarem no centro histórico de Santa Maria da Feira o irish pub Sideways, decidiram investir no imóvel de Espinho que, desactivado há alguns anos, ainda é uma referência da região, primeiro pelo seu passado como hotel e, mais tarde, já noutros moldes arquitectónicos, por ter acolhido a cafetaria cujos afamados croissants folhados perfumavam a avenida e motivavam longas filas de clientes. Mantendo a alusão ao nome Palácio, os proprietários honram a ligação emocional a essa memória colectiva, mas as semelhanças acabam aí.

Após dois meses de demolições e mais de um ano em obras, nada resta de cerâmicas brancas e alumínios frios e barulhentos na nova steak house de Espinho, que se apresenta nos tons escuros do microcimento envernizado, sob tectos de miniestalactites em pasta de papel e entre plantas naturais que demarcam as diferentes valências do recinto. Os sofás e cadeiras são nude, os candeeiros do bar em vidro pincelado de cobre, a iluminação regulável da sala privada em design próprio minimal e as paredes de madeira no queimado elegante do tratamento yakisugi.

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Palácio Restaurante-Bar, Espinho Nelson Garrido

Recomendando sempre reserva prévia, Rui Amorim orgulha-se ainda de uma carta que, definida com recurso à consultoria do chef João Ribeiro, “aposta em pratos de carne porque a cidade já tem demasiada oferta de peixe” e privilegia propostas em forno a carvão, na companhia de pães, manteigas e molhos sempre confeccionados in loco. Vazia maturada, costeletas em corte tomahawk e cachaço de bísaro são alguns dos pratos mais solicitados ao chef António Mota, que agora coordena a cozinha em permanência, mas a sua escolha de eleição é a salada de endívias com alface-gema grelhada, queijo roquefort, nozes caramelizadas e pickle de pêra, “por brincar com todos os sentidos da boca, num conflito de sabores entre ácido, doce, salgado e amargo”.

Seja no restaurante, nas esplanadas ou no club com DJ convidados, para beber há depois uma cuidada selecção de vinhos em garrafa ou a copo, cervejas industriais e artesanais, mojitos, mimosas e outros cocktails com prosecco, gin, tequila, amaretto, vodkas, portos, etc. Já as sobremesas da chef Sara Ataíde, são poucas mas pecaminosas, e, se é para haver penitência, Luís César Correia propõe uma culpa convicta: essa pastelaria pode saborear-se “em dose individual ou em harmonizações que só custam um pouco mais”, como a que combina um Eton Mess de frutos vermelhos, chantilly e merengue de manjericão com o cálice licoroso de um Robert Reynolds da casta Alicante Bouschet.

Excessivamente palaciano? Talvez... Mas Espinho já há muito merecia desafios de maior requinte.