Entre 120 bebés de mães com covid-19 nenhum nasceu infectado
Estudo publicado na revista The Lancet Child & Adolescent Health envolveu a realização de testes a recém-nascidos logo após o parto, com uma semana de vida e com duas semanas.
Todos nasceram entre os dias 22 de Março e 17 de Maio, em três hospitais de Nova Iorque, nos EUA. São “apenas” 120 bebés, mas são uma amostra suficiente para a equipa de investigadores concluir que a transmissão da infecção por SARS-CoV-2 entre mãe e filho “é improvável” e para apoiar as recomendações a favor da amamentação. Situações que, no entanto, exigem sempre que as mães usem máscara e outras medidas de protecção, sublinham os cientistas. O estudo, publicado esta quinta-feira na revista The Lancet Child & Adolescente Health, relata que foram realizados testes à covid-19 a este grupo de mais de uma centena de recém-nascidos em três alturas diferentes e que todos os resultados foram negativos.
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Todos nasceram entre os dias 22 de Março e 17 de Maio, em três hospitais de Nova Iorque, nos EUA. São “apenas” 120 bebés, mas são uma amostra suficiente para a equipa de investigadores concluir que a transmissão da infecção por SARS-CoV-2 entre mãe e filho “é improvável” e para apoiar as recomendações a favor da amamentação. Situações que, no entanto, exigem sempre que as mães usem máscara e outras medidas de protecção, sublinham os cientistas. O estudo, publicado esta quinta-feira na revista The Lancet Child & Adolescente Health, relata que foram realizados testes à covid-19 a este grupo de mais de uma centena de recém-nascidos em três alturas diferentes e que todos os resultados foram negativos.
Há menos de uma semana foi notícia em Portugal o caso de um bebé que nasceu este mês e que terá sido infectado com o novo coronavírus durante a gravidez. “Era uma gravidez que tinha infecção confirmada, sabíamos que a grávida tinha covid-19. Como tal, o levantar da suspeita em relação ao bebé permitiu que as colheitas fossem feitas de imediato”, explicou ao PÚBLICO Fernando Cirurgião, director do serviço de obstetrícia do hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, acrescentando que a amostra de sangue retirada à criança logo após o nascimento indicava que houve transmissão vertical congénita in utero. Antes disso, a 10 de Julho, um estudo realizado em Itália revelou que as mães infectadas podem transmitir o novo coronavírus (SARS-CoV-2) aos filhos no útero. O estudo foi apresentado esta semana na 23.ª Conferência Internacional da Sida, que se realizou online pela primeira vez devido à pandemia de covid-19. Embora pouco ainda se saiba sobre o risco de transmissão do SARS-CoV-2 durante a gravidez, os autores daquele estudo detectaram a presença de anticorpos contra o novo coronavírus em dois recém-nascidos.
Agora, um novo estudo que acompanhou o nascimento de 120 bebés de mulheres infectadas com covid-19 aponta para uma “improvável transmissão entre mãe e filho" durante a gravidez e mesmo após o nascimento quando partilham o mesmo espaço e as mulheres optam pela amamentação.
As orientações para as mães infectadas com covid-19 são, como é fácil de perceber, confusas. Como se os estudos que vão sendo publicados não bastassem, as recomendações de órgãos colegiais e autoridades de saúde também nem sempre coincidem e, por vezes, mudam de um dia para o outro. Desde Abril e até ontem, por exemplo, a Academia Americana de Pediatria recomendava que mães e recém-nascidos fossem temporariamente separados ao nascer até que a mulher tenha resultados negativos no teste. Mas a orientação dos especialistas mudou esta quarta-feira e, afinal, a entidade agora defende que mãe e filho podem estar juntos e que, se possível, a mulher deve amamentar o bebé, com as precauções como o uso de mascara.
Por seu lado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou desde cedo recomendações que referem que as mães com covid-19 devem amamentar, se a mulher não estiver demasiado doente para o fazer, com as devidas precauções. Christine M. Salvatore, principal autora do estudo, do Hospital Infantil Komansky de Weill da Universidade Cornell, em Nova Iorque, reconhece que “os dados sobre o risco de transmissão de covid-19 durante a gravidez ou durante a amamentação são limitados a um pequeno número de estudos de caso”, concluindo, no entanto, que espera que este trabalho “forneça alguma garantia às novas mães de que o risco de passarem covid-19 aos seus bebés é muito baixo”.
De 1481 partos, 116 (8%) mães apresentaram resultado positivo para SARS-CoV-2, revela o artigo que apresenta os resultados do acompanhamento de 120 bebés nascidos em três hospitais na cidade de Nova Iorque. Mães e filhos puderam partilhar o mesmo espaço com o recurso a medidas de precaução, como o uso de máscara, e os bebés foram mantidos em berços, a uma distância de cerca de dois metros, excepto durante a amamentação. Além do uso de máscara sempre que pegavam nos bebés, as mães foram aconselhadas a fazer uma frequente lavagem das mãos e das mamas.
As zaragatoas feitas aos 120 recém-nascidos nas primeiras 24 horas de vida tiveram um resultado negativo. Os autores do estudo referem que a partir deste momento o grupo de bebés acompanhados acabou por baixar progressivamente, especulando que a desistência de alguns pais possa ter estado relacionada como o medo de exposição dos seus filhos nas visitas ao hospital durante a pandemia. Os dados mostram assim que 82 bebés “estavam disponíveis” para repetir o teste ao fim de cinco a sete dias. Todos tiveram um resultado negativo, sendo que 83% das mães (que correspondem a 68 bebés) partilharam o quarto com o filho e 64 bebés foram amamentados. Passados outros cinco a sete dias, os bebés foram de novo chamados para um novo teste. Desta vez, 72 bebés foram levados ao hospital e testados. E, mais uma vez, nenhum resultado foi positivo. Os investigadores referem ainda que 52 bebés que foram acompanhados por videoconferência ao longo de mais um mês continuavam clinicamente bem.
O estudo, obviamente, tem limitações e a equipa reconhece que apesar destes resultados, que indicam que o contacto próximo entre mãe e recém-nascido pode ser seguro, a amostra estudada é pequena. Além disso, a taxa de desistência também não contribuiu para a solidez dos resultados, uma vez que quase um terço dos bebés acabou por sair do projecto (38 dos 120). . “Os investigadores não foram capazes de rastrear a presença do vírus em amostras de sangue, urina ou fezes, porque esses testes não estavam validados no momento do estudo”, acrescenta o comunicado.
Melissa Medvedev, especialista na Universidade da Califórnia e que não participou neste estudo, defende que o trabalho fornece dados importantes que mostram que “a transmissão perinatal de SARS-CoV-2 é improvável”. Mas, nota, há ainda muitas dúvidas por esclarecer. É preciso mais dados que ajudem a “quantificar a incidência de complicações entre mulheres grávidas e recém-nascidos e a entender taxas e vias de transmissão vertical e horizontal, incluindo transmissão assintomática”. Também falta analisar com pormenor, diz a especialista, a eficácia das práticas de prevenção e controle de infecção no ambiente de cuidados neonatais.