Transplantes caíram 52% por causa da pandemia de covid-19

Suspensão das cirurgias programadas, por causa da covid-19, veio confirmar os receios que a Sociedade Portuguesa de Transplantação já tinha expressado numa carta aberta em Abril.

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Ao longo dos últimos meses surgiram vários avisos de que a suspensão de cirurgias programadas traria consequências Paulo Pimenta

O número de transplantes realizados em Portugal nos meses de Março, Abril, Maio e Junho deste ano caiu de 307 para 147, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Uma redução de 52%, para a qual a Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT) deixa um alerta, neste que é o Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação.

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O número de transplantes realizados em Portugal nos meses de Março, Abril, Maio e Junho deste ano caiu de 307 para 147, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Uma redução de 52%, para a qual a Sociedade Portuguesa de Transplantação (SPT) deixa um alerta, neste que é o Dia Nacional da Doação de Órgãos e da Transplantação.

Os dados fazem a manchete desta segunda-feira do Jornal de Notícias e vêm acompanhados de outro aviso: o regresso à normalidade, depois da paragem forçada causada pela pandemia, está a ser lento e os dadores não estão a ser sinalizados como deviam, por causa de múltiplos factores.

A informação agora veiculada pela SPT vem confirmar os receios que esta já expressava em Abril, numa carta aberta em que se apelava a que os doentes não-covid não fossem esquecidos. “No balanço que obrigatoriamente faremos, passado esta época, iremos com certeza ter a noção de que a transferência das atenções para os doentes com infecção covid-19 (unidades de cuidados intensivos, incluídas), compreensível para assegurar a capacidade de resposta aos doentes já internados e para futuras necessidades (aprendendo com o panorama vividos em outros países), têm e terão como consequência, a diminuição de sinalização de potenciais dadores. Se, por um lado isto se percebe pelos motivos acima descritos e também por questões de controlo e transmissão de infecção, por outro, acarreta no imediato, que doentes à espera de transplante de órgãos vitais como fígado, coração e eventualmente pulmão, vejam negada essa oportunidade e venham a falecer. Na realidade, estes tipos de transplantes salvam a vida no imediato”, escrevia-se na altura.

Segundo o JN, os dados do Instituto Português do Sangue a da Transplantação indicam que a doação de órgãos caiu em 55% nos dadores falecidos (passou-se de 121 neste período do ano passado para apenas 59 este ano), 78% nos dadores vivos e 100% nos dadores sequenciais.

O facto de a actividade cirúrgica programada ter sido suspensa durante semanas por causa da pandemia, realizando-se apenas intervenções urgentes, afectou também a realização de transplantes. A SPT diz que entre Janeiro e Abril os transplantes de rim vivo caíram de 20 para 12, comparando com 2019, e que a quebra só não foi mais expressiva porque nos dois primeiros meses do ano o número destes transplantes “correu muito bem”.

O atraso nos transplantes, mesmo quando não significa a morte imediata para os doentes, pode tirar-lhes “anos de vida”, defende a presidente da SPT ao JN, já que, por exemplo, o prolongamento de diálise acarreta mais riscos de doença cardiovascular. Susana Sampaio diz, por isso, que há pessoas “que podem ter perdido oportunidades únicas” de transplante.

Os especialistas procuram agora recuperar o tempo perdido e precaver-se para que o Inverno e uma eventual sobrecarga de novos pacientes covid-19 nos hospitais não venha a prejudicar ainda mais os que necessitam de um transplante.

No ano passado tinha-se assistido a um aumento dos transplantes e da doação de órgãos, em comparação com 2018. A excepção foi para o transplante cardíaco, que caiu 12%, enquanto o pulmonar cresceu 40%.