Covid-19: surto em Xinjiang chama a atenção para trabalhos forçados de uigures nas fábricas

Província esteve cinco meses sem novos casos de infecção, que dispararam nos últimos dias. Uigures estão a ser transferidos para fábricas, onde produzem máscaras e outros equipamentos para serem vendidos na China e noutros países.

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Pequim registou mais de 300 casos de covid-19 após surto detectado em Junho EPA/STRINGER

Quase cinco meses depois de ter registado o último caso de SARS-CoV-2, a província de Xinjiang, no Noroeste da China, que tem estado sob o olhar atento da comunidade internacional devido aos campos de doutrinação e à violação dos direitos dos uigures, enfrenta um surto que já passou as barreiras da capital da região, Urumqi, e levou as autoridades a imporem medidas de confinamento.

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Quase cinco meses depois de ter registado o último caso de SARS-CoV-2, a província de Xinjiang, no Noroeste da China, que tem estado sob o olhar atento da comunidade internacional devido aos campos de doutrinação e à violação dos direitos dos uigures, enfrenta um surto que já passou as barreiras da capital da região, Urumqi, e levou as autoridades a imporem medidas de confinamento.

Na sexta-feira, um dia depois de ser detectado o primeiro caso, foram registados mais 16 casos positivos, mais 13 no sábado e outros 17 no domingo, todos na capital da região. Esta segunda-feira, as autoridades reportaram mais 22 casos, cinco deles importados, e um dos casos na cidade de Kashgar. Teme-se agora que o coronavírus chegue às fábricas onde milhares de uigures trabalham. 

Apesar de ser uma área de baixa densidade populacional, o aumento repentino de infecções está a gerar preocupação em Pequim e, segundo o Guardian, está a levantar suspeitas de que o China possa ter tentado esconder o surto na província de Xinjiang, numa altura em que a violação dos direitos humanos dos uigures tem sido denunciado internacionalmente. 

Assim que foi detectado o primeiro caso em Urumqi, as autoridades locais implementaram várias medidas de prevenção, nomeadamente o cancelamento de centenas de voos e a suspensão do metro. Os centros comerciais e os hotéis foram encerrados temporariamente e os 3,5 milhões de habitantes da cidade de Urumqi foram aconselhados a ficar em casa. Para sair da cidade, é preciso apresentar um teste negativo à covid-19.

Segundo a CNN, mais de 1600 profissionais de saúde foram mobilizados para Urumqi para aumentar o número testes ao coronavírus. O governo local está a seguir uma estratégia semelhante a Pequim que, no passado mês Junho, enfrentou o seu primeiro surto desde que conseguiu controlar a disseminação do vírus em Março.

No último mês, Pequim registou mais de 300 casos de infecção, tendo o surto começado no mercado de Xinfadi, no Sudoeste da capital. As autoridades impuseram várias medidas de contenção, desde o cancelamento de voos ao encerramento das escolas, e há 14 dias que Pequim não regista qualquer caso de transmissão local. Segundo o Guardian, as autoridades diminuíram o nível de emergência, apesar de a maioria das medidas continuar em vigor.

Trabalhos forçados

Antes deste último surto na China, Xinjiang registou apenas 76 casos de infecção e três mortes devido à covid-19 e até ao passado dia 16 de Julho, quando registou o seu primeiro caso, esteve 149 dias sem que fosse reportada qualquer infecção.

A província, no entanto, tem sido notícia devido às denúncias de várias organizações de defesa dos direitos humanos de e vários países ocidentais, particularmente os Estados Unidos, que acusam a China de perseguição religiosa e de deter arbitrariamente mais de um milhão de uigures, uma minoria muçulmana, em campos de doutrinação política e de trabalhos forçados, uma acusação que Pequim nega. 

Numa altura em que a pandemia continua a bater recordes em todo o mundo e o número de casos de infecção tem aumentado substancialmente em Xinjiang, o New York Times revelou no domingo que centenas de uigures estão a ser obrigados a trabalhar em fábricas para produzir equipamentos de protecção individual, como máscaras, para consumo interno na China, mas também para exportar para outros países.

De acordo com o jornal norte-americano, várias empresas chinesas estão a aceder a um programa patrocinado pelo Governo do Partido Comunista chinês para utilizarem trabalhadores da minoria uigur nas suas fábricas, o que, segundo especialistas ouvidos pelo jornal, pode ser considerado como trabalho forçado à luz do direito internacional, uma vez que este trabalho decorre sob medidas “coercivas”.

Antes da pandemia de SARS-CoV-2, na província de Xinjiang existiam apenas quatro empresas que produziam equipamentos de protecção individual. Desde 30 de Junho, o número aumentou para 51 e, segundo os documentos analisados pelo New York Times, 17 dessas empresas estão a beneficiar do programa de transferência de trabalhadores uigures.

O material produzido nestas fábricas é depois enviado para vários locais na China, mas também para outros países, incluindo os próprios Estados Unidos.

No passado mês de Março, o Instituto Australiano de Políticas Estratégicas já tinha feito uma denúncia semelhante, afirmando que pelo menos 80 mil uigures foram transferidos de Xinjiang para fábricas noutras regiões da China que fornecem produtos para várias marcas internacionais.

A China, no entanto, nega as acusações e considera que os centros de detenção são necessários para ajudar os uigures a encontrarem emprego e a integrarem-se na sociedade, mantendo-os afastado do extremismo islâmico. Quanto ao programa destinado 

Os Estados Unidos discordam e decidiram impor sanções a várias figuras do Partido Comunista chinês, incluindo Chen Quanguo, secretário-geral do partido em Xinjiang e considerado o mentor dos centros de doutrinação. Pequim respondeu na mesma moeda e impôs sanções a Washington, visando, particularmente, os senadores republicanos Marco Rubio e Ted Cruz.