Covid-19: Reino Unido faz pausa na divulgação de mortes por dúvidas nos cálculos

Inglaterra conta como morto de covid-19 qualquer pessoa que antes tenha tido um teste positivo; no resto do Reino Unido, só quando passaram menos de 28 dias entre o teste e o óbito. Metodologia vai ser revista.

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Matt Hancock anunciou uma revisão urgente do método de contabilizar mortes por covid em Inglaterra Reuters/SIMON DAWSON

Londres vai deixar temporariamente de divulgar os dados diários sobre mortes de covid-19 por haver dúvidas sobre o modo como estavam a ser contados estes casos em Inglaterra, que não é o mesmo método usado no resto do Reino Unido, e por isso podem introduzir distorções e dificultar comparações.

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Londres vai deixar temporariamente de divulgar os dados diários sobre mortes de covid-19 por haver dúvidas sobre o modo como estavam a ser contados estes casos em Inglaterra, que não é o mesmo método usado no resto do Reino Unido, e por isso podem introduzir distorções e dificultar comparações.

A agência Public Health England (PHE), responsável pela gestão de doenças infecciosas, está a contabilizar qualquer morte de uma pessoa que tivesse sido infectada pelo SARS-CoV-2 como tendo sido causada pela covid-19, mesmo que a infecção tivesse ocorrido muito antes da morte.

“Neste momento, as mortes diárias contabilizam todas as pessoas que tiveram testes positivos para o coronavírus e desde então morreram, sem nenhum limite de tempo entre a data do teste e a data da morte”, dizia uma mensagem no site do Governo britânico, citada pela agência Reuters. “Tem havido alegações de que a falta de um limite de tempo possa distorcer o número diário actual de mortes. Por isso, estamos a fazer uma pausa na publicação do número diário enquanto resolvemos a questão”, concluía a nota oficial.

O Reino Unido tem sido o país europeu mais afectado pelo coronavírus, com um número oficial de mais de 45 mil mortes. O Governo de Boris Johnson diz, no entanto, que é difícil fazer comparações internacionais porque cada país conta o número de mortos de modo diferente.

Doentes que tenham sido testados e tido um resultado positivo, e que tenham entretanto recuperado, entram nestas contas, “mesmo que tenham tido um ataque cardíaco ou tenham sido atropelados por um autocarro três meses mais tarde”, escreveram Yoon K. Loke e Carl Heneghan, do Center for Evidence-Based Medicine, da Universidade de Oxford.

“Segundo esta definição da PHE, não é permitido a ninguém com covid em Inglaterra recuperar da doença”, declarou Carl Heneghan à BBC.

Depois da confirmação da PHE, o ministro da Saúde, Matt Hancock, ordenou uma revisão urgente da metodologia de registo das mortes de covid-19 em Inglaterra.

No resto do Reino Unido, mortes que ocorram mais de 28 dias depois do registo da infecção já não entram na contabilização de óbitos de covid-19, diz a BBC.

A responsável da PHE Susan Hopkins explicou: “Embora possa parecer simples, não há nenhum método resultante de um acordo na OMS para contar as mortes de covid-19. Em Inglaterra, contamos todos os que morreram e que tiveram um teste positivo, para termos a certeza de que os nossos dados são o mais completos possível”. Hopkins argumentou que “esta é uma infecção nova e há cada vez mais sinais de problemas de saúde a longo prazo para alguns dos afectados”, disse, citada pelo diário britânico The Guardian

No Twitter, a PHE esclareceu ainda que das 40.528 mortes relatadas até 15 de Julho como resultantes de covid-19, cerca de 90% ocorreram dentro do prazo de 28 dias após o registo de um teste positivo. Entre os restantes que morreram após 28 dias do resultado do teste, a covid-19 era, ainda assim, declarada como a principal causa de morte na certidão de óbito em 47%.

Robert Cuffe, especialista em estatísticas da BBC, diz que este modo de contar mortes não quer dizer que a maioria das certidões de óbito registadas em Inglaterra sejam erros. Sublinha que, para evitar erros de interpretação, e até para que sejam considerados casos de morte em pessoas cuja infecção não tenha sido confirmada por um teste, vários especialistas em estatística preferem analisar o aumento de registos de mortes em relação a anos anteriores. E quando se olha para esses dados, afirma Cuffe, Inglaterra continua a ter uma das maiores taxas de mortalidade da Europa.