A covid fez do mundo uma bizarria
A covid-19 já era um pretexto para a continuação por outras vias da tensão entre EUA e China ou da corrida à abertura de fronteiras. Agora, é um pretexto para os ciberataques.
Os hackers — essa nova variação da espionagem da Guerra Fria — já não se limitam a tentar obter segredos de Estado fechados a sete chaves ou a tentar influenciar eleições democráticas dos dois lados do Atlântico. A covid-19 já era um pretexto para a continuação por outras vias da tensão entre EUA e China, da corrida à abertura de fronteiras a pensar no turismo e no PIB e da corrida à descoberta da primeira vacina contra este coronavírus, que ameaça ficar entre nós e obrigar-nos a oscilar entre ciclos de confinamento e de desconfinamento.
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Os hackers — essa nova variação da espionagem da Guerra Fria — já não se limitam a tentar obter segredos de Estado fechados a sete chaves ou a tentar influenciar eleições democráticas dos dois lados do Atlântico. A covid-19 já era um pretexto para a continuação por outras vias da tensão entre EUA e China, da corrida à abertura de fronteiras a pensar no turismo e no PIB e da corrida à descoberta da primeira vacina contra este coronavírus, que ameaça ficar entre nós e obrigar-nos a oscilar entre ciclos de confinamento e de desconfinamento.
Esta quinta-feira, o Reino Unido veio não só queixar-se dos esforços russos de interferir nos resultados eleitorais de Dezembro, mas também de alegados ciberataques destes a universidades, empresas farmacêuticas e investigadores britânicos, com a intenção de se apoderarem de informação sobre o desenvolvimento de uma vacina. A acusação é singular e ocorre no mesmo dia em que se soube que a vacina contra a covid-19 que a Universidade de Oxford está a desenvolver teve “resultados prometedores” e que desencadeou a resposta imunitária que se pretendia.
Os bastidores do combate à pandemia em países como os Estados Unidos ou o Brasil são risíveis e bizarros. Para além de outros pontos em comum, Trump e Bolsonaro continuam a promover a hidroxicloroquina e a desprezar o conhecimento científico.
Os EUA batem recordes diários de infecções e o Brasil tem um Presidente infectado pela covid-19, que contraria qualquer confinamento preventivo. Trump aumentou o tom de críticas ao principal imunologista do país, por o querer transformar em bode expiatório das consequências do “vírus amarelo”. Anthony Fauci, director do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecto-contagiosas dos EUA, diz que os ataques de que tem sido objecto são contraproducentes e “bizarros”.
Rio concorda com Costa em que a resposta à pandemia “não é momento” para avaliar a democraticidade da União Europeia; o PSD defende um mandato municipal para obrigar ao uso de máscara nas ruas de Lisboa, a ADSE pagou por um tratamento enganador para a covid-19 e a PJ deteve cinco pessoas por burla qualificada; e o coordenador do combate ao novo coronavírus no Norte do país, o secretário de Estado da Mobilidade, não se apercebeu da concentração despreocupada dos adeptos do FC Porto nas ruas da cidade.
Fauci tem razão: a covid-19 está a transformar o mundo num sítio muito bizarro.