Trump quer reabrir as escolas. É “cruel” e “imprudente”, diz sindicato de professores
Randi Weingater, presidente da Federação Americana de Professores, disse que parece que o Presidente quer “criar o caos” ao querer forçar a reabertura das escolas nos Estados Unidos.
Faltam poucas semanas para o próximo ano escolar começar nos Estados Unidos e um dos maiores sindicatos dos professores acusou a Administração Trump, que quer reabrir as escolas, de ser “imprudente” e “cruel”, pondo em causa a saúde dos estudantes e dos professores. Randi Weingarten, presidente da Federação Americana de Professores, disse que parece que o Presidente Donald Trump quer “criar o caos”.
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Faltam poucas semanas para o próximo ano escolar começar nos Estados Unidos e um dos maiores sindicatos dos professores acusou a Administração Trump, que quer reabrir as escolas, de ser “imprudente” e “cruel”, pondo em causa a saúde dos estudantes e dos professores. Randi Weingarten, presidente da Federação Americana de Professores, disse que parece que o Presidente Donald Trump quer “criar o caos”.
“É como se Trump e Betsy DeVos [secretária da Educação] quisessem criar o caos e prejudicar a reabertura”, disse ao Guardian Weingarten. “Não há qualquer razão para serem tão imprudentes, tão insensíveis, tão cruéis”.
O Presidente Trump tem insistido que a pandemia de covid-19 está sob controlo nos Estados Unidos, elogiando a sua própria gestão, apesar de os números de infecções e mortes apresentarem uma realidade diferente (mais uma vez foi batido o número de novos casos diários, 77.300), e fez da abertura das escolas uma prioridade da sua gestão da crise sanitária.
Se as escolas permanecerem fechadas, com os alunos a terem aulas virtuais, isso seria um sinal contrário à tese divulgada da Casa Branca. E a secretária de Imprensa da Casa Branca, chegou a dizer que a “ciência não se deve meter no caminho da abertura das escolas”.
“A ciência é clara: as escolas podem reabrir em segurança no Outono”, disse Angela Morabito, porta-voz do Departamento de Educação, citada pelo Washington Post. “Pode não ser a mesma situação em todos os lados. De facto, esperamos que os responsáveis estaduais e municipais pela Educação aproveitem a oportunidade para oferecer às famílias opções com base nas suas situações pessoais e nas realidades de saúde local”.
Os planos de regresso às aulas estão a ser delineados pelas escolas a nível local, tendo em conta os seus contextos particulares, e o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) emitiu linhas de orientação com recomendações para as instituições serem seguras para os alunos e professores. Mas o Presidente criticou estas linhas orientadoras, considerando-as “muito duras e caras”, pois exigem “coisas muito pouco práticas”. E a secretária da Educação não delineou qualquer plano federal.
“Todas estas recomendações vêm do CDC. É preciso lembrar que DeVos é há muito defensora da autonomia local das escolas e de dar possibilidades de escolha às famílias”, disse na NPR o jornalista de educação Cory Turner.
Para o jornalista, a posição de DeVos está a pô-la numa situação muito desconfortável politicamente: a secretária da Educação sempre defendeu o ensino virtual, sendo mesmo investidora nesse sector, e Trump já veio a público argumentar que este modelo provou ser “péssimo” para os alunos, afastando-o como alternativa à reabertura das escolas.
A secretária da Educação pressiona para a reabertura e o chefe de Estado ameaça reter os fundos federais das escolas que não aceitem reabrir, apesar de não ter poderes constitucionais para o fazer, situação semelhante à do embate que teve com os governadores sobre o confinamento. Sabendo-o, congressistas republicanos estão agora a tentar inserir condições para o usufruto do fundo de emergência das escolas, uma das principais prioridades dos directores das instituições.
É que os orçamentos estaduais estão sobrecarregados com os gastos da resposta sanitária à pandemia e os orçamentos das escolas não são suficientes para procederem às transformações estruturais necessárias para os alunos e professores terem a distância de segurança necessária, além de todos os processos de desinfecção. Os pavilhões e as salas de aulas têm de ser readaptados e as cadeiras desinfectadas constantemente.
Os pais terão a opção de aceitar ou recusar o regresso dos filhos às aulas presenciais, mas os professores, por causa das suas obrigações contratuais, não têm essa escolha. São obrigados a escolher entre a sua própria segurança e dos seus familiares e o vínculo laboral. A maioria dos professores é a favor de um regresso presencial em part-time, uma vez que existe um consenso alargado de o ensino virtual ser insuficiente para o desempenho dos alunos, e uma sondagem da Morning Consult/Politico, revelada esta semana, mostrou que a maioria (53%) dos americanos é contra a reabertura das escolas
A Federação Americana de Professores realizou inquéritos aos seus membros e concluiu que, em Junho, dois terços dos seus 1,7 milhões de filiados preferiam ensinar presencialmente em regime de part-time, desde que fossem garantidas todas as condições de segurança. Os professores americanos são, em geral, uma população de risco para a covid-19, derivado da sua idade, e Weingarten teme que muitos optem por deixar de ensinar, evitando o regresso à escola, por receio de contágio.
“A imprudência [de Trump] assustou tantas pessoas que agora temo uma fuga de cérebros, por as pessoas simplesmente optarem não ensinar, porque não querem prejudicar as suas próprias famílias”, disse a presidente do sindicato de professores.
Os Estados Unidos tinham até esta quinta-feira mais de 3,5 milhões de casos confirmados e mais de 138 mil mortes, de acordo com a contagem da americana Universidade Johns Hopkins. É o país com mais casos e mortes em todo o mundo. O número de casos diários identificados não pára de subir e, na quinta-feira, foram registados mais de 77 mil infecções em apenas 24 horas, o número mais elevado desde o início da pandemia no país, segundo dados recolhidos pelo Washington Post.