“Oferta de diplomados na área florestal não satisfaz necessidades do mercado”
Os números da Pordata revelam que o sector primário, florestas incluídas, é o que emprega menos pessoas em Portugal (5%). A perda de efectivos ronda os 56% na última década. Fontainhas Fernandes, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, alerta para a necessidade de “trabalhar em rede”, preparando “novas ofertas educativas para a área florestal, mais apelativas e envolvendo novos domínios do conhecimento”.
O sector primário, que compreende agricultura, produção animal, caça, silvicultura e pesca, empregava em 1974 mais de um milhão e duzentas mil pessoas em Portugal. Passados 30 anos, em 2004, empregava cerca de 50% menos, ou seja, perto de 622 mil profissionais.
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O sector primário, que compreende agricultura, produção animal, caça, silvicultura e pesca, empregava em 1974 mais de um milhão e duzentas mil pessoas em Portugal. Passados 30 anos, em 2004, empregava cerca de 50% menos, ou seja, perto de 622 mil profissionais.
Hoje, de acordo com os números revelados no início de Julho pela Pordata (dados de 2019), o sector primário é o que emprega menos pessoas no país (5%), pouco mais do que 270 mil, o que representa uma perda de efectivos que ronda os 56% nos últimos 10 anos (2009-2019).
É certo que a existência de um menor número de trabalhadores do sector primário não quer necessariamente significar uma menor relevância económica das respectivas actividades. E os números confirmam-no. Olhando para trás (2009), e de acordo com a Pordata, o volume de negócios da agricultura, produção animal, caça, silvicultura e pesca somava 4.599,6 milhões de euros. Em 2018, cresceu para os 7.448,5 milhões de euros.
Dados mais recentes, publicados em Fevereiro de 2019 pelo Banco de Portugal, mostravam que o sector agrícola (actividades agrícolas em sentido estrito e actividades a jusante relacionadas com os produtos agrícolas, designadamente no âmbito da indústria e do comércio) representava, em 2017, 9% das empresas no nosso país (37 mil), 9% das pessoas ao serviço das empresas não financeiras (266 mil) e 14% do volume de negócios (49 mil milhões de euros). Só a agricultura reunia 46% das empresas do sector agrícola, 10% do volume de negócios e 23% do número de pessoas ao serviço do mesmo. A fileira agro-alimentar, representou, aliás, nos últimos cinco anos, 10,7% das exportações portuguesas e é hoje um dos maiores sectores exportadores.
Porém, e apesar deste salto qualitativo, também é certo que a escassez de profissionais, qualificados e mesmo não qualificados, para operar no sector primário tem sido um constrangimento nos últimos anos, apontado por todos os sub-sectores ligados à fileira, actividade silvícola incluída – a qual compreende a produção de bens e serviços como a madeira, a cortiça, as plantações florestais e os serviços silvícolas, em particular os serviços de exploração florestal.
“Oferta educativa em valores mínimos”
O PÚBLICO questionou o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) sobre essas carências no sector florestal, desde a exploração de madeira às serrações e à indústria, e sobre o que está a falhar neste domínio.
António Fontainhas Fernandes é taxativo. “A mão-de-obra no sector florestal tem vindo a escassear, em especial a qualificada, nos diferentes contextos de trabalho.” O reitor assume que o “problema tem vindo a acentuar-se, desde logo porque é uma área com baixa capacidade de atracção de jovens” e porque, “provavelmente, o enfoque na problemática dos incêndios florestais tem passado uma imagem muito centrada em aspectos negativos e não nas conhecidas vantagens económicas e de sustentabilidade ambiental da floresta”.
Para além disso, “as instituições que têm apostado neste domínio de conhecimento, já de si poucas, não têm conseguido passar a mensagem da relevância da formação nesta área”. Por esse motivo, acredita existir uma ideia – que “deve ser desconstruída pelos órgãos centrais” – de que as profissões associadas ao sector primário são pouco apelativas. Ao contrário do que se possa pensar, o presidente do CRUP não duvida: essas profissões “são estruturantes para o país”.
Mas ao nível das universidades também há um problema, pois “a oferta educativa está neste momento em valores mínimos para satisfazer as necessidades do mercado”. É que, explica Fontainhas Fernandes, do lado das universidades, “apenas a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Norte, e o Instituto Superior de Agronomia, a Sul, oferecem vagas de Engenharia Florestal”. E isso, diz, “coloca problemas sérios às empresas, entidades públicas, proprietários e associações de proprietários que procuram quadros qualificados”.
Concursos repetidos por falta de concorrentes
Há saídas profissionais suficientes para os licenciados nestas áreas que saem das universidades? A resposta é paradoxal: “Actualmente, a oferta de diplomados não satisfaz as necessidades do mercado.” Mais. “Existem diversos casos de ofertas de trabalho para jovens engenheiros florestais que não têm tido candidatos”, assim como concursos de recrutamento que têm de ser “repetidos pela inexistência de licenciados a concorrer”.
O presidente do CRUP acrescenta outro dado: “Nos próximos anos, as autarquias, as empresas e os próprios serviços do Estado têm necessidade de capacitar os seus quadros e apostar na sua renovação”, pelo que o problema da escassez de profissionais ainda mais se vai fazer sentir.
Fontainhas Fernandes é peremptório: é preciso “trabalhar em rede para dar resposta a este desafio”. Revela, aliás, que instituições como a UTAD têm vindo a fazê-lo. Mas o desafio é maior. É preciso “preparar novas ofertas educativas na área florestal, mais apelativas e envolvendo novos domínios do conhecimento”. A biotecnologia e as tecnologias de informação e de comunicação, por exemplo.