Portugal, a estratégia e o consenso
Prossigamos o caminho do consenso e façamos um pacto de regime político envolvendo todos os partidos e movimentos de cidadania e definamos, num plano de total convergência, dois ou três sectores estratégicos para Portugal. É hora de agir!
Hoje já ninguém tem dúvidas que a pandemia provocada pela covid-19 trará graves consequências para as empresas portuguesas, privadas ou públicas e, consequentemente, para os cidadãos e as famílias por efeito das insolvências e do desemprego.
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Hoje já ninguém tem dúvidas que a pandemia provocada pela covid-19 trará graves consequências para as empresas portuguesas, privadas ou públicas e, consequentemente, para os cidadãos e as famílias por efeito das insolvências e do desemprego.
Muito recentemente, e praticamente em simultâneo, o Presidente da República alertou para o facto de ser ainda desconhecido o alcance da crise e avisou que a mesma se pode estender até 2022 ou mesmo 2023. Ao mesmo tempo, António Costa e Silva, o especialista a quem o Governo encomendou um documento estratégico para uma resposta nacional ao impacto transversal da crise, avisou também que “o que vem aí ainda será pior”, estimando que “o país pode vir a enfrentar uma das piores crises da sua história e a queda do PIB em 2020 chegar aos 12%”. Sendo que, na sua análise, são indispensáveis consensos para a implementação da estratégia e a prossecução das soluções.
Estes alertas emitidos pelos dois responsáveis citados vêm ao encontro das preocupações da maçonaria regular, que tem debatido em conjunto com a sociedade civil os cenários que enfrentamos a curto e médio prazo. No cerne da resposta está a indispensabilidade de uma atuação justa e equilibrada, entre os apoios que deverão existir às empresas estatais e ao sector privado. Seguramente que as consequências serão sempre mais gravosas para as empresas privadas, dado que, sem a mão protetora do Estado, muitas terão de declarar insolvência e encerrar as suas portas.
Mas, por outro lado, é fundamental que o Estado não “sacuda” a responsabilidade e secundarize as preocupações políticas mais imediatistas, não se deixando gerir pelos ‘prime times’ televisivos e os jogos de interesses político partidários.
Com efeito, passados quatro meses sobre o início da pandemia, os responsáveis governamentais continuam diariamente com o malabarismo dos números e das estatísticas de infetados e mortes, assumindo os políticos o papel que deveria pertencer aos membros da comunidade científica, e estes a opinar como se de políticos se tratassem.
A situação da pandemia não está, infelizmente, controlada. Não por falta de meios, mas por ausência de uma estratégia global. Continuamos a reagir, incidente a incidente, e não atuamos como se exige, de forma global e estruturada nas regiões, nos concelhos, nas freguesias, bairros e instituições, e onde a fragilidade é maior e as carências sociais mais acentuadas.
Ninguém ousa pôr em causa a bondade, a dedicação e a seriedade dos responsáveis das autoridades sanitárias do país. Mas hoje, mais do que nunca, é preciso ter à frente dos organismos e autoridades de saúde responsáveis que falem verdade, que saibam do que falam, que sejam credíveis e que estejam bem preparados. A gestão por impulsos e imediatista não resolve o futuro do país, das empresas e dos cidadãos e suas famílias.
A nossa quase total dependência do Turismo trouxe à evidência aquilo que muitos vaticinavam: a euforia iria morrer apesar no nosso país de brandos costumes, do sol, do mar, das belas paisagens e da nossa excelente gastronomia.
A pergunta que agora se coloca é simples: então o que é que foi feito ou pensado em termos estratégicos e de planeamento de médio/longo prazo? Ao que parece, nada.
Basta lembrar o Relatório Porter, datado de há 25 anos. A aposta era, como todos se recordam, nos sectores tradicionais da Economia (calçado, têxtil, vestuário, vinhos e mobiliário). Que é feito da “task force” que iria implementar as medidas do relatório Porter? Mudam-se os governos, mudam-se as vontades…
Outros dirão que esta leitura é injusta. E citarão as energias alternativas, as eólicas, a aposta na economia verde e a mais recente na economia do hidrogénio, que alguns agora agarram como boia de salvação nacional mas que ainda não se encontra numa fase madura que permita massificar o investimento.
É preciso abandonar a letargia que habitualmente nos tolhe os movimentos e o pensamento e o determinismo, esse “fado” individual e coletivo, que também serve para justificar o nosso insucesso.
Prossigamos então o caminho do consenso e façamos um pacto de regime político – já que ele, aparentemente, existe a propósito da pandemia – envolvendo todos os partidos e movimentos de cidadania e definamos, num plano de total convergência, dois ou três sectores estratégicos para Portugal. Apostemos na educação, não como uma paixão, mas como o principal investimento e vetor da riqueza e desenvolvimento de um país.
Portugal precisa que o Governo governe bem, procurando olhar para o futuro e prosseguindo um plano estratégico forte e exequível para lá chegar. Os fundos comunitários podem ajudar no imediato (quando chegarem...), mas é preciso que a nossa economia cresça, que o desemprego desça e que os mais carenciados e frágeis possam viver acima do limiar de pobreza. É inadmissível, em pleno século XXI, a existência de assimetrias entre o litoral e o interior, entre as grandes cidades e as vilas ou aldeias. Há que pensar no país como um todo, numa visão integrada e integradora.
Não podemos aceitar que os mais idosos sejam abandonados e institucionalizados. Tem de haver respeito pela vida humana. Temos que pensar não como políticos, mas como cidadãos, conscientes das nossas responsabilidades sociais e solidárias.
É hora de agir! Agir com competência e compromisso num futuro melhor, mais justo e mais solidário. Sem solidariedade não teremos futuro.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico