BCE não recua na compra de dívida pública
Christine Lagrade diz que incerteza em relação à retoma é ainda demasiado elevada e que o plano é mesmo cumprir na sua totalidade o programa de compra de activos no valor de 1,3 biliões de euros
Apesar dos sinais de retoma que a economia da zona euro já tem vindo a revelar, a incerteza em relação à evolução da economia é ainda muito elevada, forçando o Banco Central Europeu a levar até ao fim o seu plano de compra de 1,3 biliões de euros em activos para combater os efeitos da pandemia.
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Apesar dos sinais de retoma que a economia da zona euro já tem vindo a revelar, a incerteza em relação à evolução da economia é ainda muito elevada, forçando o Banco Central Europeu a levar até ao fim o seu plano de compra de 1,3 biliões de euros em activos para combater os efeitos da pandemia.
Como se esperava, Christine Lagarde não anunciou, no final da reunião do Conselho de Governadores do BCE, novas medidas de estímulo à economia. Mas, da forma mais clara possível, também fez questão de passar a mensagem que a autoridade monetária não se está a preparar para recuar na política extraordinariamente expansionista que tem vindo a aplicar desde o passado mês de Março.
Em particular, para além das taxas de juro de depósito negativas e dos empréstimos em condições muito favoráveis oferecidos aos bancos, a presidente do BCE reafirmou a sua intenção de cumprir por completo o programa extraordinário de compra de activos (especialmente dívida pública dos países da zona euro) que lançou para ajudar a recuperar a economia e para evitar que as taxas de juro de países como a Itália, Espanha ou Portugal pudessem começar a subir.
Com as economias da zona euro a começarem a oferecer alguns sinais positivos e os governos a negociarem o lançamento de um fundo de recuperação europeu, poder-se-ia colocar a dúvida se o BCE aproveitaria para recuar um pouco mais cedo do que o inicialmente previsto.
Uma dúvida aliás alimentada por declarações anteriores de outros membros do conselho executivo do BCE como Isabel Schnabel e Yves Mersch. No entanto, Lagarde recusou que exista para já qualquer intenção desse tipo.
Embora reconhecendo que existem sinais de uma retoma “significativa”, disse também que esta era, para já, “desigual e parcial”. E, acima de tudo, salientou que “a incerteza em relação à força da retoma permanece muito elevada”.
Perante isto, o plano de comprar 1,3 biliões de euros de activos até ao final do ano mantém-se. “A não ser – e nós francamente ainda não vemos isso – que haja surpresas positivas significativas, o nosso cenário base é que vamos precisar de usar todo o envelope do programa de compras de activos da pandemia”, afirmou Christine Lagarde na conferência de imprensa, defendendo que as medidas tomadas pelo banco central durante esta crise estão a ser “efectivas, adequadas e estão a funcionar”.
A presidente do BCE, como já vem sendo hábito, virou-se depois para os governos. Um dia antes da cimeira europeia onde será discutido o fundo de recuperação, Lagarde reiterou que “é importante que os líderes europeus cheguem rapidamente a um acordo para um pacote ambicioso”.
A reunião do conselho de governadores desta quinta-feira, realizada através de videoconferência, foi a última em que Carlos Costa participou como governador do Banco de Portugal. Ao fim de 10 anos de mandato, marcados por crises difíceis na zona euro e profundas mudanças de política do BCE, Carlos Costa despediu-se dos seus colegas da autoridade monetária europeia. Na próxima reunião, já estará presente Mário Centeno, que na segunda-feira toma posse como governador do Banco de Portugal.