Milhares pedem guerra contra Arménia nas ruas do Azerbaijão

Mais de 30 mil pessoas marcharam pelas ruas de Baku a exigir a mobilização total contra o país vizinho, com um grupo de manifestantes a invadir o Parlamento. Combates no enclave de Nagorno-Karabakh já causaram pelo menos 16 mortos.

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Funeral, em Baku, a capital do Azerbaijão, de um dos militares mortos Vali Shukurov/Reuters

O Azerbaijão e a Arménia envolveram-se em combates na zona fronteiriça e, na terça-feira à noite, mais de 30 mil azeris marcharam pelas ruas de Baku para exigir ao seu Governo que faça guerra com o país vizinho. Querem que mobilize tropas e reconquiste o enclave de Nagorno-Karabakh, controlado por rebeldes separatistas apoiados pelo executivo arménio. Os combates já mataram pelo menos 16 pessoas, incluindo um general azeri. 

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O Azerbaijão e a Arménia envolveram-se em combates na zona fronteiriça e, na terça-feira à noite, mais de 30 mil azeris marcharam pelas ruas de Baku para exigir ao seu Governo que faça guerra com o país vizinho. Querem que mobilize tropas e reconquiste o enclave de Nagorno-Karabakh, controlado por rebeldes separatistas apoiados pelo executivo arménio. Os combates já mataram pelo menos 16 pessoas, incluindo um general azeri. 

Os manifestantes, ostentando a bandeira nacional, começaram por se concentrar na Praça Azadliq e depois marcharam pela capital até chegarem ao Parlamento. “Karabakh é Azerbaijão!”, “Acabem com a quarentena, comecem a guerra!”, “Mobilização!”, gritou quem protestava, pouco antes de um pequeno grupo invadir o órgão legislativo, partindo janelas e candeeiros no seu interior.

Foi a maior manifestação dos últimos anos no país e a polícia reagiu à invasão dispersando quem protestava, disparando canhões de água e gás lacrimogéneo e detendo sete pessoas. Pelo menos sete polícias ficaram feridos nos confrontos com os manifestantes e as autoridades já anunciaram a abertura de uma investigação à violência e à própria manifestação, uma vez que todos os ajuntamentos estão proibidos por causa da pandemia de covid-19. 

O protesto foi convocado na sequência de combates militares na fronteira entre o Azerbaijão e a Arménia. No domingo, e sem aviso, forças de Baku atacaram fortificações arménias para “capturar posições”, acusou o Governo de Ierevan, que, por sua vez, retaliou matando três soldados azeris. Os combates não pararam e pelo menos 16 pessoas, das quais um civil e 11 militares (um deles general) azeris e quatro soldados arménios, morreram até ao momento.

A Arménia acusou ainda o Azerbaijão de fazer ciberguerra e de ter lançado um ataque com drone contra a vila de Berd, na província arménia de Tuvush; Baku negou-o e respondeu ter abatido um drone

As informações sobre o desenrolar dos combates são contraditórias e acontecem quando os dois lados trocam acusações de responsabilidade e de bombardearem civis. “A liderança política e militar da Arménia vai arcar com a responsabilidade pela provocação”, disse o Presidente do Azerbaijão. Já o primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, recusa ter qualquer responsabilidade na escalada da situação, deixando, no entanto, claro que “as provocações não vão ficar sem resposta”. 

Washington e Moscovo apelaram entretanto à calma e condenaram os combates, enquanto a Turquia, que apoia o Azerbaijão, se posicionou contra a Arménia. “Apelamos a ambas as partes que mostrem contenção e que respeitem as suas obrigações de cessar-fogo”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, referindo-se ao cessar-fogo que terminou com quatro dias de intensos combates em 2016, mediado pela Rússia. 

Os combates diminuíram nas últimas 24 horas e a situação mantém-se relativamente calma, disse esta quarta-feira com a porta-voz do Ministério da Defesa arménio, Sushan Stepanyan. Mas qualquer episódio, por mínimo que seja, pode levar a uma renovada escalada da tensão numa região caracterizada por guerras e escaramuças, apesar de analistas dizerem que uma guerra em grande escala é improvável. Obrigaria potências estrangeiras a intervir e iria desestabilizar o fornecimento de gás para fora da região. 

Desde o colapso da União Soviética, em 1991, que as duas antigas repúblicas soviéticas do Cáucaso se envolvem em combates (em 1994 e 2016) e escaramuças por causa do enclave de Nagorno-Karabakh, controlado por rebeldes arménios apoiados por Ierevan, mas cujo território é internacionalmente reconhecido a Baku. É um dos conflitos congelados no mundo e quem vive na área está num permanente estado de alerta, sem saber qual será o próximo rastilho, diz o Guardian.

“Tantos anos já passaram e aqui estamos. Estou tão cansada disto. As nossas crianças cresceram nesta situação e os nossos netos também o estão. Não está a melhor, está a piorar”, disse em 2016 Kima Alipyan, residente na aldeia de Movses, alvo de ataques nesse ano.

Os Estados Unidos e a Rússia têm tentado negociar uma solução política para o diferendo e, no final deste mês, o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, disse que as negociações de paz atingiram o impasse.

Parece ter sido o tiro de partida para uma situação já de si tensa e que vinha a agravar-se desde 2018, quando o Azerbaijão deu início à movimentação de tropas para a área do enclave e da fronteira com a Geórgia, estabelecendo fortificações. A Arménia encarou-o como sinais de uma possível ofensiva e mobilizou tropas para a região disputada.