FC Porto campeão. Mesmo presidente, mesmo treinador, uma equipa diferente

As semelhanças e as diferenças entre o campeão de 2020 e o de 2018.

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Reuters/RAFAEL MARCHANTE

Quando uma equipa ganha dois títulos de três possíveis em temporadas alternadas, é um sinal de que mudou alguma coisa, mas não mudou tudo. No caso do FC Porto, o título de 2020 foi conquistado com alguns componentes do de 2018, mesmo presidente e mesmo treinador com as mesmas ideias, mas com um plantel substancialmente diferente do que foi campeão há dois anos. Dos 30 jogadores que Sérgio Conceição utilizou em 2017-18 para o campeonato, apenas nove sobreviveram no plantel de 2019-20, sem que nem todos mantiveram o mesmo patamar de utilização.

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Quando uma equipa ganha dois títulos de três possíveis em temporadas alternadas, é um sinal de que mudou alguma coisa, mas não mudou tudo. No caso do FC Porto, o título de 2020 foi conquistado com alguns componentes do de 2018, mesmo presidente e mesmo treinador com as mesmas ideias, mas com um plantel substancialmente diferente do que foi campeão há dois anos. Dos 30 jogadores que Sérgio Conceição utilizou em 2017-18 para o campeonato, apenas nove sobreviveram no plantel de 2019-20, sem que nem todos mantiveram o mesmo patamar de utilização.

Jesus Corona, Alex Telles, Otávio, Marcano, Marega, Danilo Pereira, Tiquinho Soares, Sérgio Oliveira e Vincent Aboubakar são os jogadores que repetem o título de 2018, mas nem todos como primeiras figuras, sobretudo Aboubakar. O avançado camaronês foi o segundo melhor marcador da equipa em 2018 e o oitavo jogador mais utilizado por Conceição; na campanha do título de 2020, Aboubakar tem um total de 66 minutos em cinco jogos e zero golos marcados.

Quanto aos jogadores importantes em 2018 já não moram no Dragão em 2020, são muitos e em todos os sectores: Yacine Brahimi, Iker Casillas, Felipe, Héctor Herrera, Ricardo Pereira, José Sá, Maxi Pereira e Oliver Torres. Os cinco primeiros eram donos e senhores dos seus lugares e tiveram de ser substituídos com investidas ao mercado, nem todas com o mesmo nível de sucesso. Marchesín foi um substituto razoável para San Iker na baliza portista, o regressado Marcano foi competente no lugar de Felipe, Uribe cumpriu a fazer de Herrera e Luiz Diaz também provou ser uma alternativa decente a Brahimi (mas sem o brilhantismo do argelino).

A saída de Brahimi para o Qatar deixou Conceição com um problema de défice de criação para resolver. Sem o argelino a fazer-lhe sombra, Jesus Corona deu um salto estratosférico em termos de influência na equipa. Em 2017-18, o mexicano era o 11.º mais utilizado por Conceição, em 2019-20 foi o segundo, apenas atrás de Marchesín. Passou de três assistências e três golos para dez assistências (o segundo melhor do campeonato, atrás de Pizzi, com 12) e quatro golos.

E há outra diferença incontornável entre as duas equipas para lá dos nomes que foram mudando. Este FC Porto campeão de 2020 não tem um goleador de referência, daqueles que marcam dezenas de golos — o melhor marcador desta equipa foi Moussa Marega, que reencontrou a forma goleadora no pós-confinamento com 11 golos. Nos campeões de 2018, havia duas referências no ataque — Moussa Marega (22 golos) e Vincent Aboubakar (15) — e um “segunda linha” com bom rendimento — Soares (8). Nos campeões de 2020, depois de Marega, seguem-se Telles(10), Soares (8), Zé Luís (7), Marcano e Luis Díaz (com 5).

Este foi também um ano em que Sérgio Conceição começou a olhar com outros olhos para os jogadores da “cantera” portista. Sem contar com Sérgio Oliveira, que é das escolas do FC Porto, mas já tem muito andamento, em 2017-18, Conceição deu algumas oportunidades apenas a Diogo Dalot e a Gonçalo Paciência. E dos 26 campeões de 2020, oito jogadores (nove, se contarmos com Sérgio Oliveira) vieram da formação. Um deles (Bruno Costa) já saiu para o Portimonense, enquanto os outros sete faziam parte da equipa que ganhou a UEFA Youth League em 2019: Romário Baró, Diogo Leite, Fábio Silva, Tomás Esteves, Diogo Costa, Vítor Ferreira e Fábio Vieira.

Este texto não ficaria completo sem uma referência a um jogador que, 13 anos depois, voltou a ser campeão pelo FC Porto. Pepe tinha 24 anos em 2007 quando celebrou o seu segundo título pelo antes de ser vendido para o Real Madrid por 30 milhões de euros. O internacional português regressou a meio da época passada ao Dragão e, se o seu encaixe na equipa não foi um sucesso total (tinha de coabitar com Felipe e Militão), esta época um dos lugares no centro da defesa foi dele.

Equipa-tipo de 2017-18: Casillas, Ricardo Pereira, Felipe, Marcano, Alex Telles, Danilo Pereira, Héctor Herrera, Brahimi, Corona, Marega e Aboubakar.

Equipa-tipo de 2019-20: Marchesín, Mbemba, Pepe, Marcano, Alex Telles, Danilo Pereira, Uribe, Corona, Otávio, Marega e Tiquinho Soares.