Lares estão “a funcionar com recursos abaixo do mínimo”, alertam enfermeiros
A Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros alertou este sábado para a possibilidade de situações semelhantes à ocorrida em Reguengos de Monsaraz (Évora) se repetirem, se os lares continuarem a funcionar com “recursos abaixo do mínimo exigido”. Em comunicado, aqueles enfermeiros avisam para “o risco de os surtos continuarem a atingir os lares para idosos” também se a maioria destas estruturas continuar a “violar a lei no que toca ao número de enfermeiros contratados”.
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A Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros alertou este sábado para a possibilidade de situações semelhantes à ocorrida em Reguengos de Monsaraz (Évora) se repetirem, se os lares continuarem a funcionar com “recursos abaixo do mínimo exigido”. Em comunicado, aqueles enfermeiros avisam para “o risco de os surtos continuarem a atingir os lares para idosos” também se a maioria destas estruturas continuar a “violar a lei no que toca ao número de enfermeiros contratados”.
No mesmo comunicado, os enfermeiros denunciam o incumprimento, que dizem impune, da lei que estabelece o rácio enfermeiro/utente. E insistem que o risco de a propagação do vírus se descontrolar é maior se os ajudantes de lar continuarem a assumir funções que são próprias do profissional de saúde”, a mando dos responsáveis, e se “a generalidade destas estruturas residenciais para idosos (ERPI) não tiver planos de contingência de acordo com as orientações das autoridades de saúde”.
Por falta de profissionais nos seus quadros e com o objectivo de obter “maiores lucros”, algumas estruturas residenciais continuam a solicitar aos centros de saúde locais, do Serviço Nacional de Saúde (SNS), a deslocação de enfermeiros às suas instalações para prestação de cuidados de enfermagem aos utentes, alertam, para concluírem que "esta situação permite alguma promiscuidade entre o público e o privado, facilitando que os privados lucrem à custa do erário público”.
A Ordem acusa ainda o SNS de continuar “a suprir as faltas de profissionais nas ERPI, nomeadamente enfermeiros que, em cumprimento das normas legais, deveriam estar ali a trabalhar a tempo inteiro”.
“É necessária uma atenção especial a estes idosos institucionalizados, são os nossos pais, os nossos avós, não os podemos deixar ao abandono, são uma franja da população particularmente vulnerável ao contexto epidemiológico em que vivemos. O número de utentes mortos nas ERPI é demasiado elevado. Mas se nada mudar, a tragédia vai seguramente permanecer”, salientam os enfermeiros.
Estes alertas surgem reforçados pela propagação da covid-19 em Reguengos de Monsaraz, no distrito de Évora, num surto detectado no dia 18 de Junho, com origem num lar privado, e que causou, até sexta-feira, 16 mortos e 130 casos activos.
A Ordem refere que se encontra no terreno a colaborar nas “estratégias de combate”. Mas, e assumindo-se preocupada com o cansaço dos enfermeiros mobilizados para a resposta ao surto de Reguengos de Monsaraz, lembra que “a dignidade, a humanidade e a segurança dos cuidados degradam-se quando um só enfermeiro tem de assegurar cuidados a 70, 80 e até a mais de 100 utentes na mesma estrutura residencial”, no que diz ser “uma realidade muito comum em Portugal”.
No país “quase um terço do total dos óbitos associados à infecção pelo novo coronavírus corresponde a utentes institucionalizados em lares.