O contraditório da juventude: Os jovens não se estão nas tintas, ponto final
Para o que nos estamos verdadeiramente nas tintas é para divisionismos e sensacionalismos, porque temos perfeita consciência que só juntos ultrapassaremos esta crise e que somos parte da solução, não do problema.
Os jovens não se estão de facto nas tintas, pelo contrário. Somos 1,6 milhões de pessoas e não os 1% de todas as faixas etárias que ainda não compreenderam a sua responsabilidade individual. Somos 1,6 milhões que estão preocupados com o seu futuro, que vêm as suas oportunidades de emancipação diminuir dia após dia seja pela precarização do emprego, pelo desemprego ou pela falta de oportunidades, ou ainda pelas dificuldades em aceder a uma educação de qualidade. Somos 1,6 milhões que veem o seu futuro, o futuro de Portugal, ser decidido sem que lhes seja dada oportunidade de participar nessa construção, mas que serão chamados a pagar os investimentos que agora se fazem por via das suas contribuições no futuro. Somos 1,6 milhões de pessoas e não um chavão que nos últimos dias tem servido para aglomerar todas as pessoas infetadas entre os 20 e os 40 anos na região de Lisboa e Vale do Tejo.
A necessidade de encontrar um culpado para um vírus que se instalou no nosso sistema sanitário, económico e social e que nos transcende a todos é inaceitável. No início da crise sanitária a culpa dos números elevados de mortes e infetados eram dos idosos dos lares, agora aponta-se a espingarda da culpa à juventude. Entretanto já foi apontada aos migrantes, aos trabalhadores da construção civil, às empresas de trabalho temporário. Hoje a juventude divide a guilhotina com as famílias socialmente desprotegidas que não tem condições habitacionais ou financeiras para fazer quarentena e com aqueles que utilizam os transportes públicos “apinhados” da região de Lisboa e Vale do Tejo. Mesmo depois das mesmas figuras que lançaram o boato sobre a juventude como novos polinizadores do vírus já o terem vindo desmentir.
Amanhã serão os presos porque o vírus também já chegou às cadeias e a benevolência da pandemia que levou à redução de algumas (poucas) penas já não será a mesma. E claro, os especialistas, o governo, os técnicos de saúde pública... que tem de saber todas as respostas, que não são claros nas suas indicações, que enterraram o turismo mas ofereceram a Champions. Chegará o dia também em que a culpa será inteiramente do Ministério da Educação porque o plano de retoma do ano escolar não agradará nem pode agradar a todos. Para o que nos estamos verdadeiramente nas tintas é para divisionismos e sensacionalismos, porque temos perfeita consciência que só juntos ultrapassaremos esta crise e que somos parte da solução, não do problema.
Propomos que se faça o mesmo escrutínio de grupo que se tem feito à juventude à classe política sobre Tancos, sobre a TAP, sobre o BES/Novo Banco, sobre a nomeação para governador do Banco de Portugal, sobre o caso Marquês, sobre onde irão ser investidos os 50 mil milhões que Portugal irá receber entre “ajuda” à situação económica e social que resultou da pandemia e o novo quadro plurianual da União Europeia. É necessário que não se desvie atenções do que realmente importa. Isso sim interessa aos jovens, discutir o futuro. E ainda ninguém nos perguntou o que queremos para o Portugal que iremos herdar.
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Os jovens não se estão de facto nas tintas, pelo contrário. Somos 1,6 milhões de pessoas e não os 1% de todas as faixas etárias que ainda não compreenderam a sua responsabilidade individual. Somos 1,6 milhões que estão preocupados com o seu futuro, que vêm as suas oportunidades de emancipação diminuir dia após dia seja pela precarização do emprego, pelo desemprego ou pela falta de oportunidades, ou ainda pelas dificuldades em aceder a uma educação de qualidade. Somos 1,6 milhões que veem o seu futuro, o futuro de Portugal, ser decidido sem que lhes seja dada oportunidade de participar nessa construção, mas que serão chamados a pagar os investimentos que agora se fazem por via das suas contribuições no futuro. Somos 1,6 milhões de pessoas e não um chavão que nos últimos dias tem servido para aglomerar todas as pessoas infetadas entre os 20 e os 40 anos na região de Lisboa e Vale do Tejo.
A necessidade de encontrar um culpado para um vírus que se instalou no nosso sistema sanitário, económico e social e que nos transcende a todos é inaceitável. No início da crise sanitária a culpa dos números elevados de mortes e infetados eram dos idosos dos lares, agora aponta-se a espingarda da culpa à juventude. Entretanto já foi apontada aos migrantes, aos trabalhadores da construção civil, às empresas de trabalho temporário. Hoje a juventude divide a guilhotina com as famílias socialmente desprotegidas que não tem condições habitacionais ou financeiras para fazer quarentena e com aqueles que utilizam os transportes públicos “apinhados” da região de Lisboa e Vale do Tejo. Mesmo depois das mesmas figuras que lançaram o boato sobre a juventude como novos polinizadores do vírus já o terem vindo desmentir.
Amanhã serão os presos porque o vírus também já chegou às cadeias e a benevolência da pandemia que levou à redução de algumas (poucas) penas já não será a mesma. E claro, os especialistas, o governo, os técnicos de saúde pública... que tem de saber todas as respostas, que não são claros nas suas indicações, que enterraram o turismo mas ofereceram a Champions. Chegará o dia também em que a culpa será inteiramente do Ministério da Educação porque o plano de retoma do ano escolar não agradará nem pode agradar a todos. Para o que nos estamos verdadeiramente nas tintas é para divisionismos e sensacionalismos, porque temos perfeita consciência que só juntos ultrapassaremos esta crise e que somos parte da solução, não do problema.
Propomos que se faça o mesmo escrutínio de grupo que se tem feito à juventude à classe política sobre Tancos, sobre a TAP, sobre o BES/Novo Banco, sobre a nomeação para governador do Banco de Portugal, sobre o caso Marquês, sobre onde irão ser investidos os 50 mil milhões que Portugal irá receber entre “ajuda” à situação económica e social que resultou da pandemia e o novo quadro plurianual da União Europeia. É necessário que não se desvie atenções do que realmente importa. Isso sim interessa aos jovens, discutir o futuro. E ainda ninguém nos perguntou o que queremos para o Portugal que iremos herdar.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico