Obrador agradeceu a Trump por o ter recebido com “respeito e compreensão”
Donald Trump e Andrés Manuel López Obrador celebraram a assinatura de um novo acordo comercial e elogiaram-se mutuamente. Presidente mexicano agradeceu a Trump por “não ter tratado o México como uma colónia”.
Contrastando com as palavras hostis de Donald Trump no passado em relação aos vizinhos do Sul, quando chamou “violadores” e “assassinos” aos mexicanos, o Presidente do México teve uma recepção calorosa na Casa Branca na quarta-feira à noite e os dois líderes trocaram elogios, naquela que foi a primeira visita de Andrés Manuel López Obrador ao estrangeiro desde que tomou posse em Dezembro de 2018.
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Contrastando com as palavras hostis de Donald Trump no passado em relação aos vizinhos do Sul, quando chamou “violadores” e “assassinos” aos mexicanos, o Presidente do México teve uma recepção calorosa na Casa Branca na quarta-feira à noite e os dois líderes trocaram elogios, naquela que foi a primeira visita de Andrés Manuel López Obrador ao estrangeiro desde que tomou posse em Dezembro de 2018.
“A relação entre os Estados Unidos e o México nunca foi tão boa, apesar de, há pouco tempo, as pessoas estarem a apostar no contrário”, afirmou Trump nos jardins da Casa da Branca. “Tivemos discordâncias e há palavras que ainda não foram esquecidas, mas também conseguimos estabelecer acordos tácitos e explícitos de cooperação”, respondeu Obrador, sublinhando que os dois países decidiram “deixar de lado as diferenças, através do diálogo e do respeito mútuo”.
O tema da imigração, que tem ocupado um papel central na presidência de Trump, foi referido pelo Presidente norte-americano, no entanto, não houve hostilidade na abordagem ao tema, apesar da promessa de Trump construir um muro na fronteira com o México e das ameaças económicas ao vizinho do sul caso não fossem tomadas medidas para conter a imigração ilegal.
“O México ajudou-nos bastante a atingir números recordes, em sentido positivo, na nossa fronteira no sul”, afirmou Trump, referindo-se às medidas duras adoptadas por Obrador para conter a imigração para os Estados Unidos, que levaram a uma diminuição de 70% no número de migrantes a chegar à fronteira mexicana entre Junho do ano passado e Fevereiro.
AMLO, sigla com que o Presidente mexicano é conhecido, agradeceu a Trump por tê-lo recebido “com compreensão e respeito” e por “não ter tratado o México como uma colónia”. “Pelo contrário, honrou a nossa condição de nação independente”, afirmou.
Depois do encontro entre Andrzej Duda, Chefe de Estado da Polónia, e Trump, no final de Junho, tornou-se o segundo líder de um país estrangeiro a ser recebido na Casa Branca desde o início da pandemia. Estados Unidos e México são dos países mais afectados pela covid-19 (os EUA são o país com mais mortos e infectados, o México o 8.º com mais casos e o 5.º com mais mortes) e os dois líderes têm sido criticados pela gestão da pandemia, tendo ambos desvalorizado a gravidade da mesma.
Durante o encontro, Trump afirmou que os dois países estão a trabalhar em conjunto para combater o novo coronavírus e anunciou que os Estados Unidos enviaram 600 ventiladores para o México.
Novo acordo e presidenciais no horizonte
A visita de AMLO à Casa Branca, que continua esta quinta-feira, serviu para celebrar a assinatura de um novo acordo entre Estados Unidos, México e Canadá, o substituto do Acordo de Comércio Livre da América Norte (NAFTA), implementado em 1994, durante a Administração de Bill Clinton.
O novo tratado comercial foi assinado pelos três países em 2018, depois de mais de um ano de negociações, com ameaças de Trump abandonar o NAFTA pelo meio. Para Obrador, escreve o El País, a visita à Casa Branca para celebrar o novo acordo é um “balão de oxigénio”, perante as debilidades económicas que o país atravessa. O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, invocou conflitos de agenda para não marcar presença.
Ao lado do Presidente mexicano, Trump afirmou que o tratado assinado entre os três países é o “maior, justo e mais avançado comercial alguma vez alcançado por qualquer país, que trata uma enorme prosperidade aos trabalhadores americanos e mexicanos, bem como ao Canadá”.
No entanto, analistas ouvidos pelo New York Times e pelo Washington Post consideram que novo acordo apenas consiste numa pequena remodelação do NAFTA e que terá um efeito limitado na economia americana, impulsionando-a apenas cerca de 0,35%.
Ao discursar na presença de Obrador, Trump não deixou de ter em mente as eleições presidenciais deste ano, referindo-se aos mexicanos a viverem nos Estados Unidos como “pessoas muito trabalhadoras e incríveis”.
Em 2016, o Presidente conseguiu 28% dos votos da comunidade latina do país, mas os números estão em queda e, a menos de quatro meses das eleições, precisa de melhorar a sua visibilidade junto deste eleitorado. Esse era, aliás, um dos receios no México quanto à arriscada visita de Obrador, que poderia ser vista como uma espécie de apoio a Trump, apesar de os dois Chefes de Estado serem ideologicamente opostos.
“Algumas pessoas pensaram que as nossas diferenças ideológicas levariam, inevitavelmente, a confrontos. Felizmente, não foi o caso”, afirmou Obrador. “Nós não lutamos. Somos amigos, e vamos continua a ser”, acrescentou o Presidente mexicano aos jornalistas no final do dia.
O encontro entre Trump e Obrador não passou despercebido ao candidato do Partido Democrata às presidenciais, Joe Biden, que recorreu às redes sociais para recordar os ataques de Trump aos mexicanos durante a campanha de 2016.
Trump launched his 2016 campaign by calling Mexicans rapists.
— Joe Biden (@JoeBiden) July 8, 2020
He's spread racism against our Latino community ever since.
We need to work in partnership with Mexico.
We need to restore dignity and humanity to our immigration system.
That's what I'll do as President.
“Trump lançou a sua campanha de 2016 chamando violadores aos mexicanos. Desde então, tem espalhado o racismo contra a comunidade latina. Precisamos de trabalhar em parceria com o México. Precisamos de restaurar a dignidade e humanidade do nosso sistema de imigração. É isso que farei enquanto Presidente”, afirmou Biden.