Somos o que os nossos pais e avós comeram?
O controlo de peso antes da gravidez não requer dietas restritivas, nem tão-pouco devem ocorrer de forma abrupta.
Crescemos a ouvir dizer que “somos o que comemos”, mas actualmente já se propõe que também somos o que os nossos pais e avós comeram. Porquê? Porque a alimentação saudável no período da preconcepção é realmente importante. Ao “passar a nossa melhor versão”, as futuras gerações irão usufruir de uma melhor saúde.
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Crescemos a ouvir dizer que “somos o que comemos”, mas actualmente já se propõe que também somos o que os nossos pais e avós comeram. Porquê? Porque a alimentação saudável no período da preconcepção é realmente importante. Ao “passar a nossa melhor versão”, as futuras gerações irão usufruir de uma melhor saúde.
Na primeira fase dos “primeiros 1000 dias” (o período pré-natal) a mulher, como não poderia deixar de ser, adquire o papel central. Muito embora o progenitor masculino seja determinante pela contribuição com “material genético”, ela é, efectivamente, a receptora para o desenvolvimento e o crescimento do feto, desde a preconcepção até ao nascimento, pretendendo-se que o ambiente seja o mais favorável possível.
É durante o primeiro trimestre de gestação que decorre o desenvolvimento do embrião e a formação da placenta e dos órgãos; durante o segundo trimestre regista-se o desenvolvimento dos órgãos e o início dos movimentos fetais e, finalmente, no terceiro trimestre, ocorre um rápido crescimento de todo o corpo e dos órgãos, e um aumento da gordura corporal. Daqui se depreende que o peso ao nascimento é um forte marcador da qualidade nutricional do ambiente in utero.
O estado nutricional pré-gestacional tem uma influência significativa na concepção, devendo o peso corporal estar adequado em relação à estatura.
A aferição mais usual desta relação é feita pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado pela divisão do peso (kg) pela altura em metros ao quadrado (m2). Durante a preconcepção, o IMC da mulher deve situar-se no intervalo de 18,5/24,9 kg/m2, considerando que valores abaixo ou acima desta faixa podem constituir risco para a saúde materna e/ou fetal.
Ainda há uns dias, em conversa com o professor Jorge Lima, em preparação para a “CUF Talks: A importância da nutrição na gravidez” — um webinar, para a população em geral, no qual vamos participar no dia 21 de Julho — reflectíamos que no actual cenário nutricional verifica-se que o excesso de peso em mulheres na idade reprodutiva representa um dos principais factores de risco para a gestação, sendo a prevalência de sobrepeso e obesidade bem superior aos casos de baixo peso. Por esta razão, recomenda-se a perda de peso, planeada e supervisionada, antes da gravidez, visando minimizar possíveis intercorrências clínicas como a diabetes gestacional, síndrome hipertensivo, tromboembolismo, parto prematuro, entre outros, mais frequentes nestes casos de sobrepeso ou obesidade.
O controlo de peso antes da gravidez não requer dietas restritivas, nem tão-pouco devem ocorrer de forma abrupta. As recomendações de uma alimentação saudável para mulheres que desejam engravidar e necessitam de perder peso preconizam uma alimentação equilibrada em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, moderação, prazer, e baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis.
A alimentação saudável caracteriza-se pela ingestão ideal de nutrientes, com o objectivo de manter o estado de saúde do organismo e o seu funcionamento da melhor forma possível. Não há uma dieta perfeita para todas as pessoas, embora existam normas que se aplicam à população em geral. A adopção de hábitos alimentares saudáveis promove o rendimento mental e intelectual, o equilíbrio emocional e o rendimento físico. Estão associados a uma menor incidência de doenças crónicas e a uma maior duração de um padrão de vida saudável.
Ter hábitos alimentares saudáveis não significa fazer uma alimentação monótona ou restritiva, sendo a variedade a recomendação fundamental para uma alimentação equilibrada. Quanto mais variada for a selecção dos alimentos, melhor será a escolha. Diferentes alimentos fornecem nutrientes distintos, o que potencia e enriquece o plano nutricional diário.
O principal factor determinante do crescimento fetal é o ambiente nutricional e hormonal em que o feto se desenvolve. O termo “programação metabólica” descreve um fenómeno através do qual a intervenção nutricional precoce, durante um período crítico e específico do desenvolvimento do feto, acarreta um efeito duradouro e persistente ao longo da vida do indivíduo, predispondo-o ou não a determinadas doenças.
A forma como a pré-grávida e a grávida se alimentam marca o desenvolvimento genético do feto e pode ser determinante para o proteger de várias patologias crónicas. A nutrição fetal é onde tudo começa. Os aportes nutricionais influenciam o desenvolvimento da estrutura e da expressão genética do feto no período que vai da concepção ao parto. Se esses efeitos serão positivos ou negativos dependerá da forma como a pré-grávida e a grávida agirem durante esta fase.
É importante ter boas indicações nutricionais, já que está provado que os primeiros dias após a concepção são talvez os mais importantes da programação genética. Assim, se tem em plano engravidar, não deve adiar a ida ao médico por receio de contágio pela covid-19. Saiba que os procedimentos e circuitos dos hospitais estão pensados para garantir a segurança das futuras mães e dos profissionais de saúde, por isso as consultas médicas e a realização de análises ou exames necessários no momento de preconcepção não devem ser adiados. Devem sim ser valorizados.
Cada vez há mais mulheres com tipos de alimentação diferentes, como vegetariana, vegana ou outras que também precisam de apoio, para que o período da preconcepção e a gravidez sejam bem-sucedidos, ressaltando a importância de uma alimentação correcta, desde a fase de preconcepção até ao parto e puerpério.