Universidade Nova cria comissão para avaliar relação da Faculdade de Economia com as empresas

Campus de Carcavelos foi construído com financiamento de mecenas, que também apoiam cátedras da faculdade de economia. Reitor João Sáàgua garante que não foram colocadas em causa as liberdades de opinião e expressão no caso dos professores aconselhados a não identificar a faculdade em textos de opinião.

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Nuno Ferreira Santos

A Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa vai criar uma “comissão independente” para avaliar as suas relações com as empresas, em especial os mecenas que ajudaram a financiar a construção das suas actuais instalações em Carcavelos, no concelho de Cascais. O anúncio foi feito esta quarta-feira pelo reitor daquela universidade pública, João Sáàgua. O mesmo responsável garante também que, no caso dos professores que foram aconselhados a não identificar a faculdade em textos de opinião, “não foram colocadas em causa as liberdades” de opinião e de expressão.

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A Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa vai criar uma “comissão independente” para avaliar as suas relações com as empresas, em especial os mecenas que ajudaram a financiar a construção das suas actuais instalações em Carcavelos, no concelho de Cascais. O anúncio foi feito esta quarta-feira pelo reitor daquela universidade pública, João Sáàgua. O mesmo responsável garante também que, no caso dos professores que foram aconselhados a não identificar a faculdade em textos de opinião, “não foram colocadas em causa as liberdades” de opinião e de expressão.

A “comissão independente” anunciada por Sáàgua vai integrar elementos externos à universidade. Os resultados da avaliação que vai ser feita serão apresentados durante o mês de Setembro. A medida é apresentada pelo reitor da Universidade Nova de Lisboa como uma forma de “reforçar ainda mais a transparência das relações entre a escola pública e a esfera privada”, tendo sido anunciada depois de uma conversa com o director da faculdade, Daniel Traça, e o presidente do conselho científico, Miguel Ferreira.

Em causa estão as relações da Nova School Of Business and Economics (SBE), como agora é conhecida a faculdade de Economia, com empresas privadas que, por exemplo, apoiam várias cátedras na universidade. O campus de Carcavelos, inaugurado há dois anos, foi financiado por privados. A faculdade criou mesmo, para gerir o processo de angariação de financiamento e construção das instalações, uma fundação pública de direito privado, a Fundação Alfredo de Sousa, que nos seus fundadores integra ainda a Câmara Municipal de Cascais, o banco Santander, a Jerónimo Martins e Teresa e Alexandre Soares dos Santos.

As relações entre a Nova SBE e os parceiros privados ganharam centralidade nos últimos dias, quando veio a público que os professores da faculdade “foram instruídos a não assinarem artigos de opinião com o nome da faculdade”, segundo noticiou no final da semana passada a revista Sábado. A decisão terá sido tomada pelo Conselho de Catedráticos, um órgão informal, que não consta dos estatutos da instituição de ensino superior. Entretanto, a direcção da Nova SBE veio a público assegurar que a questão da identificação da faculdade em textos de opinião foi discutida internamente, mas não houve nenhuma decisão. Os professores da faculdade podem, por isso, continuar a assinar os artigos de opinião associando-se à instituição.

O tema causou polémica, com reacções de académicos e cronistas ao longo dos últimos dias, e acusações de limitações à liberdade de expressão e cedência às empresas privadas que são mecenas daquela instituição de ensino superior pública. De acordo com a Sábado, a tomada de posição do Conselho de Catedráticos teria como principal visada Susana Peralta, professora associada que semanalmente assina uma coluna de opinião no PÚBLICO. Em causa estavam alguns artigos críticos para com empresas privadas que são mecenas da Nova SBE, como o Novo Banco ou a EDP, empresa a que a docente tinha recentemente dedicado um texto.

"Muita preocupação"

No início da semana, o reitor da Universidade Nova de Lisboa, João Sáàgua, tinha afirmado ao PÚBLICO poder “garantir que nunca houve qualquer tentativa de captura dos interesses públicos pelos interesses privados”, ainda que não tenha tido “conhecimento da situação em causa”, uma vez que o reitor não participa nas reuniões dos órgãos das faculdades.

Esta quarta-feira, no comunicado em que anuncia a criação da comissão independente para avaliar as relações da Nova SBE com as empresas, o reitor admite “muita preocupação” com as notícias que vieram a público e diz ter falado com todos os intervenientes, incluindo Susana Peralta, nos últimos dias. Depois desse contacto, o reitor diz poder “assegurar que não estão, de modo algum, em causa as liberdades” de opinião e expressão.

O assunto foi também abordado, esta quarta-feira, pelo ministro da Ciência e Ensino Superior durante uma audição parlamentar. Questionado pelos deputados Luís Monteiro (BE) e Ana Mesquita (PCP), Manuel Heitor afirmou ter falado com o reitor da Universidade Nova de Lisboa aquando das primeiras notícias e ter ficado convencido que a lei “não foi posta em causa” com qualquer decisão tomada pela Nova SBE.