Galamba: Portugal disposto a “metas ainda mais ambiciosas” no hidrogénio
No lançamento da nova Aliança Europeia para o Hidrogénio Limpo, o secretário de Estado da Energia diz que Portugal pode aumentar metas de produção para exportar mais para os países industrializados do Norte se as condições forem criadas.
A estratégia portuguesa para o hidrogénio está “perfeitamente alinhada” com a visão da Comissão Europeia para esta indústria e Portugal está disposto a ser ainda mais ambicioso nas metas de produção se houver um forte compromisso político europeu, garantiu esta quarta-feira o secretário de Estado da Energia, João Galamba, no lançamento da nova Aliança Europeia para o Hidrogénio Limpo.
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A estratégia portuguesa para o hidrogénio está “perfeitamente alinhada” com a visão da Comissão Europeia para esta indústria e Portugal está disposto a ser ainda mais ambicioso nas metas de produção se houver um forte compromisso político europeu, garantiu esta quarta-feira o secretário de Estado da Energia, João Galamba, no lançamento da nova Aliança Europeia para o Hidrogénio Limpo.
Portugal prevê a construção de pelo menos 2 gigawatts (GW) de electrolisadores até 2030 (dos quais 1 GW concentrados em Sines), estimando que parte do hidrogénio produzido possa ser exportada.
Se a Aliança Europeia conseguir “criar condições para o transporte de longa distância e para a comercialização do hidrogénio”, e se forem criados mecanismos de suporte financeiro para lançar a economia do hidrogénio, o país “pode ir além do objectivo inicial e comprometer-se com metas de produção mais ambiciosas que satisfaçam a procura europeia”, assegurou o governante português.
Galamba diz que o país quer “produzir grandes quantidades de hidrogénio e a um preço competitivo” e quer desempenhar “um papel relevante” na nova economia do hidrogénio, com “uma estratégia de industrialização” montada em torno desta forma de energia. Mas estes objectivos “só podem ser verdadeiramente alcançados no contexto de uma Aliança Europeia”, defende.
O vice-presidente da Comissão Europeia Frans Timmermans, e a a comissária europeia da Energia, Kadri Simson, anunciaram esta quarta-feira as novas estratégias europeias para a Integração dos Sistemas de Energia e para o Hidrogénio.
Europa na vanguarda
Além de acelerar a produção deste gás renovável a partir de electricidade solar e eólica, Bruxelas quer maior integração das redes e dos consumos energéticos. No futuro deverá ser possível, por exemplo, que o calor libertado numa fábrica ou num data center possa ser aproveitado para aquecer as casas que se situam na vizinhança.
Quanto ao hidrogénio, que hoje é usado quase exclusivamente como matéria-prima da indústria, espera-se que passe a ser usado como combustível nos sectores onde a electrificação não parece ser viável, como os transportes pesados, o transporte marítimo ou a aviação, e que possa ser incorporado nos processos industriais, para ajudar a despoluir actividades ainda muito dependentes dos combustíveis fósseis.
“Queremos manter a produção de aço na Europa, mas tem de ser aço verde” e isso só se consegue com a incorporação de hidrogénio verde no processo industrial, exemplificou Frans Timmermans, na conferência de imprensa desta quarta-feira, em que destacou o hidrogénio como “a chave” para uma Europa neutra em carbono até 2050, mas também para assegurar o crescimento económico e o emprego na região.
A Europa está na vanguarda desta “rockstar das novas energias”, mas as outras regiões do mundo não estão paradas e é preciso proteger a liderança, notou o vice-presidente da Comissão Europeia. As estratégias divulgadas esta quarta-feira “dão um sinal claro aos Estados, à indústria e ao mundo que queremos suportar a retoma [económica] com investimentos verdes”, assinalou a comissária Simson.
Mesmo assim, Timmermans admitiu que, “na fase de transição energética”, a Europa irá continuar a usar gás natural (e energia nuclear).
"Localização estratégica"
Na sessão online realizada durante a tarde, João Galamba voltou a assinalar que Portugal tem “condições únicas” para desenvolver a economia do hidrogénio, nomeadamente a possibilidade de produzir electricidade eólica e solar a preços muito competitivos, e uma “localização estratégica” que facilita a exportação, por navio, “para os principais locais de consumo”, ou seja, os países fortemente industrializados do Norte.
O governante português destacou o projecto que se prevê construir em Sines, com uma capacidade de produção de 1 GW, que deverá iniciar-se em 2022, e que Frans Timmermans reconheceu hoje, em entrevista ao PÚBLICO, ser um “bom exemplo do que precisamos de fazer” na Europa.
Sines, que é hoje o principal centro de energias fósseis do país (tem a refinaria da Galp e a central a carvão da EDP, que já está praticamente parada), poderá converter-se num cluster de projectos que abrangem a maioria dos elementos da cadeira de valor do hidrogénio, com produção, armazenamento, transporte, utilização na indústria e exportação, sublinhou João Galamba.
Este projecto industrial, baptizado como Green Flamingo, em que Portugal deverá estabelecer uma parceria com a Holanda, conta já com o interesse de mais de uma dezena de empresas (incluindo as portuguesas EDP, Galp e REN). O seu promotor é o holandês Marc Rechter, líder do grupo de energias renováveis Resilient Group. Rechter foi também convidado pela Comissão Europeia para o lançamento da nova Aliança para o Hidrogénio Limpo e será membro do seu conselho.
Aliança útil para a estratégia portuguesa
Em declarações ao PÚBLICO, o empresário reconheceu que a sua participação na Aliança como representante dos produtores de hidrogénio limpo “é muito relevante”. Reflecte “os resultados do trabalho” do Resilient Group a nível europeu, “incluindo o Green Flamingo”, mas também “será de grande valor acrescentado para Portugal na implementação da sua estratégia”.
Na nova Aliança vão juntar-se as autoridades nacionais, os representantes dos vários segmentos da indústria, do sector financeiro (através do Banco Europeu de Investimento) e de algumas entidades da sociedade civil, como a European Climate Foundation, de forma a desenvolver os melhores projectos e oportunidades de investimento. Rechter sublinhou que será um fórum importante “para dar voz às PME europeias”, que considerou “fundamentais” para acelerar a estratégia europeia do hidrogénio, por serem “mais ágeis e sem conflitos de activos históricos”, como os grandes players do sector energético.
Na estratégia hoje apresentada, e em que se reconhece que o preço do hidrogénio ainda não é competitivo face ao de outras tecnologias, a União Europeia estabelece o objectivo de alcançar pelo menos 6 GW de potência instalada de electrolisadores até 2024 (hoje essa capacidade é residual), de modo a produzir um milhão de toneladas de hidrogénio limpo.
Em 2030, a capacidade instalada já deverá ter subido para 40 GW, permitindo uma produção total de 10 milhões de toneladas.