Just Like Us quer pôr turistas a dançar o vira, a fazer feijoada e a moldar cabeçudos
Alexandra despediu-se para criar a Just Like Us meses antes de a pandemia deixar o turismo em suspenso. Não desistiu porque, acredita, este turismo de experiências e pequenos grupos “é o caminho a seguir”. Focada no Minho e em Trás-os-Montes, quer partilhar as tradições do Norte para não deixá-las morrer.
Aprender a dançar o vira, a moldar cabeçudos, a fazer broa de milho ou a preparar uma feijoada em pote de ferro. Conhecer as vinhas, o novo velho barro negro de Bisalhães ou o dia-a-dia numa quinta transmontana. Na Just Like Us, projecto de turismo de experiências que Alexandra Sotto Maior acaba de lançar, a ideia é mesmo pôr as mãos na massa e experimentar na pele cada uma das vivências que marcam a identidade das duas regiões mais a norte do país, sempre com anfitriões locais.
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Aprender a dançar o vira, a moldar cabeçudos, a fazer broa de milho ou a preparar uma feijoada em pote de ferro. Conhecer as vinhas, o novo velho barro negro de Bisalhães ou o dia-a-dia numa quinta transmontana. Na Just Like Us, projecto de turismo de experiências que Alexandra Sotto Maior acaba de lançar, a ideia é mesmo pôr as mãos na massa e experimentar na pele cada uma das vivências que marcam a identidade das duas regiões mais a norte do país, sempre com anfitriões locais.
“Para mim não fazia sentido que fosse de outra forma, porque não quero só que encham a barriga ou que passem um bom momento, mas que as pessoas tenham consciência de como é que se vive e se trabalha; de tudo aquilo que está por trás do modo de viver de cada região”, conta Alexandra Sotto Maior, de 54 anos.
Natural do Porto mas filha de pai transmontano e de mãe minhota, desde “pequenina” que Alexandra “ficava grandes temporadas” com os avós paternos e há mais de 40 anos que passa férias com a família na zona de Braga. “Sempre gostei muito de conhecer [as raízes] e de partilhar com os meus amigos.”
Numa das experiências, é a própria Alexandra quem recebe os turistas em casa, para ensinar como se faz uma feijoada tradicional transmontana. “Geralmente, é feita ao final da tarde de um sábado e depois fica no borralho da lareira toda a noite, a cozinhar lentamente, num daqueles potes de ferro com três perninhas.” É terminada na manhã seguinte e servida ao almoço. “Quem já comeu nunca mais se esqueceu”, garante, transformando o “hobby de fim-de-semana”, feito para amigos, num projecto “mais a tempo inteiro”.
A ideia de deixar o emprego em marketing para lançar-se neste desafio já andava a ser matutado “há alguns anos”, conta, mas o nascimento do neto, no ano passado, foi o “incentivo” que faltava. “Comecei a pensar que ele nunca iria conhecer nada daquilo que para mim é natural, que fez parte da minha infância e que sempre dei como garantido.” Acredita que partilhar estas tradições com quem visita a região é também uma forma de “apoiar a economia local” e de “preservar as artes e ofícios em risco de extinção”.
Alexandra demitiu-se no início do ano, ainda sem saber que a pandemia de covid-19 viria a suspender o turismo um pouco por todo o mundo. Mas não desistiu. “Curiosamente, acho que, mais do que nunca, justifica-se esta opção de pequenos grupos e de experiências. Acho que este turismo de pequena densidade é o caminho a seguir.” A iniciativa foi entretanto certificada pelo selo Clean & Safe, atribuído pelo Turismo de Portugal.
Para já, a aposta é no mercado português, “como é óbvio”, e “talvez algum mercado espanhol”. “E vamos ver como isto se desenvolve.” A Just Like Us lança-se com oito experiências, cinco em Trás-os-Montes, uma “terra tão bonita mas que tem estado tão esquecida”, e três no Minho, região “muito mais virada à festa e ao convívio”. “Enquanto em Trás-os-Montes, o povo é muito reservado, o minhoto abre logo as portas e convida toda a agente a entrar, e as experiências também reflectem um bocadinho isso.”
Se em Trás-os-Montes há vida de campo, jantar nas vinhas, barro negro e feijoada, no Minho aprende-se a dançar o vira, a moldar cabeçudos e a tradição das romarias, ou a fazer broa de milho, que “o saber das mãos é diferente do que só com os olhos”.
No futuro, a ideia é incluir também programas no Douro, para apresentar o Norte de Portugal como um todo, excluindo os grandes centros populacionais. Mas como a região “já está um bocadinho massificada”, Alexandra confessa que ainda não encontrou “uma experiência com o mesmo cariz das outras”. Haverá ainda uma “experiência transversal”, que atravessa toda a região Norte.
A duração dos programas varia entre três horas e dois dias, alguns com estadia e refeição completa incluída, ainda que possam ser ajustados consoante os interesses dos clientes. Preços entre 35€ e 95€ por pessoa.