Livros de activistas pró-democracia retirados das bibliotecas de Hong Kong
Lei de Segurança Nacional entrou em vigor na passada terça-feira. “Hong Kong vive, agora, numa sociedade orwelliana do século XXI”, denuncia o activista Joshua Wong.
Vários livros publicados por activistas de Hong Kong, como Joshua Wong ou Tanya Chan, foram retirados dos catálogos das bibliotecas de Hong Kong, poucos dias depois de entrar em vigor a Lei de Segurança Nacional aprovada por Pequim para a região administrativa.
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Vários livros publicados por activistas de Hong Kong, como Joshua Wong ou Tanya Chan, foram retirados dos catálogos das bibliotecas de Hong Kong, poucos dias depois de entrar em vigor a Lei de Segurança Nacional aprovada por Pequim para a região administrativa.
Numa pesquisa na base de dados da rede de bibliotecas públicas de Hong Kong, vários livros aparecem “sob revisão”. Foi o próprio Joshua Wong, uma das figuras do movimento de desobediência civil em 2014 e um dos mais conhecidos activistas pró-democracia, que denunciou o desaparecimento dos seus livros.
“Menos de uma semana após a implementação da Lei de Segurança Nacional, as bibliotecas públicas de Hong Kong começaram a colocar os livros em revisão e a suspender os empréstimos”, escreveu Wong no Twitter, mostrando uma imagem da pesquisa no site rede de bibliotecas da região.
O Departamento de Lazer e Serviços Culturais de Hong Kong, responsável pela gestão da rede de bibliotecas públicas da região, confirmou que vários livros foram retirados do catálogo enquanto é feita uma análise para apurar se as obras em questão violam ou não a lei imposta pela China.
“Entrou em vigor uma nova lei, portanto, as autoridades de Hong Kong estão a rever esses livros para determinar se estão ou não de acordo com a nova lei”, afirmou uma funcionária do Departamento de Lazer e Serviços Culturais de Hong Kong ao South China Morning Post. “Depois da nossa revisão, vamos actualizar o estado dos livros e determinar se podem ou não ser emprestados”, acrescentou.
A China justificou a imposição da nova legislação com a necessidade combater os crimes de “secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras”. A nova legislação prevê prisão perpétua para os condenados por estes quatro crimes e abre a porta a que vários casos sejam julgados na China.
Com a introdução da nova lei, a China garantiu que não iria interferir na liberdade de expressão da região autónoma. No entanto, todos os indícios apontam para o contrário e, nas universidades de Hong Kong, espaços onde sempre temas tabu em Pequim são discutidos abertamente, teme-se que a censura a livros e a imposição de uma educação “mais patriótica” exigida pela China seja a machadada final na liberdade de expressão.
Grupos de defesa dos direitos humanos e países como os Estados Unidos, o Reino Unido e os Estados-membro da União Europeia fazem eco das preocupações da oposição pró-democracia, que considera a lei é uma forma de silenciar as vozes críticas do regime de Pequim, a poucos meses de eleições legislativas na região autónoma, em que se previa uma vitória da oposição a Pequim. Os críticos consideram ainda que a legislação põe fim ao princípio “um país, dois sistemas” e que vai acabar com a autonomia do território.
No dia seguinte à nova lei entrar em vigor, mais de 300 pessoas foram detidas em Hong Kong por protestos e a polícia utilizou balas de borracha, canhões de água e gás pimenta para dispersar os manifestantes.
“Mais do que medidas punitivas, a Lei de Segurança Nacional também impõe um regime de censura”, afirmou Joshua Wong. “Embora os meus livros tenham sido publicados anos antes do movimento anti-extradição de Hong Kong, agora estão sujeitos à censura”, denunciou o activista. “Hong Kong vive, agora, numa sociedade orwelliana do século XXI”, rematou.