Centenas de cientistas alertam que covid-19 também se transmite pelo ar
Mais de 230 cientistas de 32 países pedem à Organização Mundial de Saúde que reveja as recomendações.
Centenas de cientistas de todo o mundo defendem que há provas de que pequenas partículas do novo coronavírus presentes no ar podem infectar pessoas e pedem à Organização Mundial de Saúde (OMS) para rever as recomendações. Sistemas de ventilação em escolas, lares de idosos e empresas poderão ter de ser adaptados para minimizar a circulação do ar.
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Centenas de cientistas de todo o mundo defendem que há provas de que pequenas partículas do novo coronavírus presentes no ar podem infectar pessoas e pedem à Organização Mundial de Saúde (OMS) para rever as recomendações. Sistemas de ventilação em escolas, lares de idosos e empresas poderão ter de ser adaptados para minimizar a circulação do ar.
A informação foi avançada este domingo pelo New York Times que obteve acesso à versão inicial de uma carta aberta assinada por 239 médicos de 32 países, que inclui exemplos que mostram que a transmissão por via aérea do novo coronavírus é possível em espaços mal ventilados ou cheios. Deverá ser publicada no começo da próxima semana na revista médica Clinical Infectious Diseases, editada pela Universidade de Oxford.
De acordo com a OMS, o vírus SARS-CoV-2 (causador da covid-19) é transmitido maioritariamente através de contacto e pequenas gotículas respiratórias que depois de expelidas pelas pessoas (através de espirros ou tosse) não ficam no ar e caem rapidamente para o chão ou outras superfícies.
Os 239 médicos acreditam, porém, que a OMS apenas se refere a gotículas maiores e não está a considerar a possibilidade de pequenos aerossóis, que também são emitidos por pessoas, ficarem no ar.
“Sabemos desde 1946 que tossir e falar gera aerossóis”, explicou ao New York Times Linsey Marr, co-signatária da carta e especialista na transmissão aérea de vírus da Universidade Virgina Tech, nos EUA.
Embora a transmissão aérea seja possível, a OMS diz que apenas acontece em ambientes em que são geradas gotículas inferiores a 5 microns (um mícron é a milésima parte de um milímetro), por exemplo, alguns procedimentos médicos.
Marr argumenta, no entanto, que a maioria das experiências da OMS são realizadas em ambiente hospitalar onde há uma boa ventilação do ar. A especialista explica que na maioria dos edifícios “a taxa de renovação do ar é muito mais baixa, permitindo que o vírus se acumule no ar e represente um risco maior.”
Só que a OMS tem de saber gerir recomendações rigorosas que podem ser difíceis de cumprir. “A transmissão de aerossóis pode ocorrer, mas provavelmente não é assim tão importante”, disse ao New York Times Paul Hunter, membro do comité de prevenção de infecções da OMS e professor de medicina na Universidade de East Anglia, no Reino Unido. “Controlar a transmissão por via aérea não vai fazer muito para controlar a propagação da covid-19. Vai impor custos desnecessários, particularmente em países que já não dispõem de pessoal ou recursos suficientes”, explicou.
“É a coisa mais fácil do mundo dizer, ‘temos de seguir o princípio da precaução’ e ignorar os custos”, frisou ainda o especialista.
Caso a transmissão por via aérea venha a ser considerada um factor significativo, os especialistas notam que poderia ser necessário usar máscara no interior de espaço fechados, independentemente do distanciamento social.