Uma hora nobre para as escolas
Se, em Setembro, as escolas e os professores forem capazes de recuperar as aprendizagens perdidas com a pandemia, desenvolvendo as capacidades dos alunos sem descurar a recuperação de bases sólidas para aprendizagens futuras, terão prestado um enorme serviço ao país
O Ministério da Educação foi alvo de várias críticas sobre a forma como geriu a crise da covid-19. Para alguns, a exemplo do que acontece em outros países europeus, as escolas deveriam ter reaberto há muito. Para outros, o país precisava de saber há semanas o que iria acontecer na reabertura do ano escolar. É natural que num clima geral de tanta incerteza haja opiniões divergentes. O problema nestas equações é que, se o Governo tivesse feito tudo ao contrário do que fez, continuaria a haver críticas com a mesma legitimidade e a mesma naturalidade.
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O Ministério da Educação foi alvo de várias críticas sobre a forma como geriu a crise da covid-19. Para alguns, a exemplo do que acontece em outros países europeus, as escolas deveriam ter reaberto há muito. Para outros, o país precisava de saber há semanas o que iria acontecer na reabertura do ano escolar. É natural que num clima geral de tanta incerteza haja opiniões divergentes. O problema nestas equações é que, se o Governo tivesse feito tudo ao contrário do que fez, continuaria a haver críticas com a mesma legitimidade e a mesma naturalidade.
O Governo encara agora o próximo ano lectivo com uma atitude baseada na sensatez: como não sabemos qual o estado de gravidade da pandemia em Setembro, o melhor mesmo é o sistema educativo estar preparado para todos os cenários, incluindo o de manter o ensino à distância. E tão importante como criar cenários diversos que se ajustem a todas as probabilidades é criar ferramentas para que todos os alunos possam recuperar o tempo perdido no actual trimestre.
Dispor de mais 125 milhões de euros para reforçar as escolas com professores, auxiliares ou psicólogos é um bom princípio. Ter a coragem de desafiar essa vaca sagrada dos períodos de férias e aumentar o número de dias que os alunos passam na escola – seria bom também acabar com esse paradoxo que faz com que os nossos jovens sejam, na Europa, os que têm mais horas de aulas concentradas em menos dias – é fundamental. Concentrar prioridades nos grupos de risco e no abandono escolar é crítico. Mas a chave do sucesso desta estratégia está essencialmente na forma como as escolas e os professores vão gerir os currículos escolares deste período estranho e difícil.
É aqui que entra a principal mola do sistema: as escolas e os professores. Se é verdade que, como diz o secretário de Estado João Costa, “mais importante do que dar todas as páginas dos manuais é garantir que os alunos adquirem as capacidades”, convém que não se perca a ideia de que essas “capacidades” implicam exigência, estudo e aprendizagem. Não deixar nenhum aluno para trás, uma ideia implícita nas medidas anunciadas pelo Governo esta semana, implica, portanto, esse esforço hercúleo de “dar todas as páginas dos manuais”. Neste esforço, as escolas e os professores terão uma hora especialmente nobre a partir de Setembro. Se forem capazes de recuperar as aprendizagens perdidas com a pandemia, desenvolvendo as capacidades dos alunos sem descurar a recuperação de bases sólidas de conhecimento para aprendizagens futuras, terão prestado um enorme serviço aos alunos e ao país.