Um país pobre, um pobre país
Se a pandemia voltou a demonstrar a importância do papel do Estado na defesa do bem-estar dos cidadãos, o pós-pandemia vai continuar a acentuar esta importância, desta vez na economia.
Ainda antes de podermos perceber em toda a sua dimensão o futuro paupérrimo a que a pandemia nos condenou, a covid-19 fixou-se por Lisboa, para nos lembrar o presente paupérrimo de que não há milagre que nos salve e que é o nosso ponto de partida comum para o que aí vem.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Ainda antes de podermos perceber em toda a sua dimensão o futuro paupérrimo a que a pandemia nos condenou, a covid-19 fixou-se por Lisboa, para nos lembrar o presente paupérrimo de que não há milagre que nos salve e que é o nosso ponto de partida comum para o que aí vem.
Mesmo que o secretário de Estado Duarte Cordeiro, responsável pela coordenação da região de Lisboa e Vale do Tejo para o combate à covid-19, não considere que “o grosso do problema está” nos bairros pobres, é por de mais evidente que as fracas condições de habitação e a falta de resposta de uma rede de transportes para o tempo de pandemia terão contribuído, a par da inacção e erros das autoridades, para que o problema da covid subsista na região da capital.
Melhores condições de habitabilidade, uma rede de transportes colectivos mais capaz seriam dois problemas que estariam na agenda do Governo para tentar resolver e que a crise económica que aí certamente tornará mais complicado conseguir. Porque é preciso estar ciente de que, se a pandemia voltou a demonstrar a importância do papel do Estado na defesa do bem-estar dos cidadãos, o pós-pandemia vai continuar a acentuar esta importância, desta vez na economia.
Quando o dono de um restaurante, que hoje factura numa semana o que antes facturava num dia, perceber que os clientes não regressam a tempo de salvar o negócio, ou quando um trabalhador em lay-off entender que não há emprego para regressar, será para o Estado que eles se voltarão. E na cabeça de muitos vai estar que esse mesmo Estado foi capaz de, no início desta crise, correr a salvar a TAP e a EFACEC. Não entenderão por que o mesmo Estado não terá uma mão para lhes dar.
Daí que a gestão política destes casos seja crucial para que o Governo não crie a si próprio a situação insustentável de que, sendo este um país pobre, com recursos limitados, é também um pobre país moralmente, que é capaz de acorrer aos grandes, mas esquece os mais pequenos. Por muito maniqueísta que isto seja, o problema político é real.
As duas empresas têm razões estratégicas que justificam uma intervenção do Estado em nome de um bem comum. Mas, do que sabemos até agora, a TAP, com a gestão confusa do Governo na entrada de mergulho numa empresa condenada à crise, sem um plano visível de saída, tem tudo para se tornar um enorme sarilho político. Já a EFACEC, com uma nacionalização aprovada simultaneamente com um processo de reprivatização e sem declarações gongóricas a anteceder o gesto político, pode ter um destino bem diferente. Possam uns aprender com os outros.