Covid-19. Médico alerta mulheres da Papuásia-Nova Guiné para evitarem engravidar nos próximos dois anos
Obstetra revela que os hospitais e clínicas do país recusam-se a atender mulheres grávidas devido à pandemia de covid-19, o que já resultou na morte de um bebé.
Um obstetra da Papuásia-Nova Guiné aconselhou as mulheres daquele país a não engravidarem nos próximos dois anos, revelando que o medo de transmissão do novo coronavírus tem levado os hospitais a recusarem atender mulheres grávidas — o que resultou já na morte de pelo menos um bebé, avança o diário britânico Guardian.
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Um obstetra da Papuásia-Nova Guiné aconselhou as mulheres daquele país a não engravidarem nos próximos dois anos, revelando que o medo de transmissão do novo coronavírus tem levado os hospitais a recusarem atender mulheres grávidas — o que resultou já na morte de pelo menos um bebé, avança o diário britânico Guardian.
Glen Mola, professor de obstetrícia e ginecologia da Universidade da Papuásia-Nova Guiné, explica ao Guardian que as enfermeiras têm mandado embora as mulheres grávidas que se dirigem aos hospitais e clínicas para consultas de vigilância da gravidez, pelo que aconselha as mulheres a adiarem as gravidezes até a pandemia da covid-19 passar.
O médico dá o exemplo de uma mulher de 20 anos, que sofria de pré-eclampsia, que perdeu o bebé e ficou cega depois de lhe ter sido recusado tratamento no hospital e em várias clínicas ao longo de quatro semanas, numa altura em que o país estava em confinamento devido à pandemia de covid-19.
Segundo Glen Mola, chegaram mesmo a recusar tratar esta mulher depois de ela ter desmaiado numa clínica enquanto aguardava para ser atendida, justificando a falta de apoio com o confinamento. “Claramente, a Marie (nome fictício) tinha tido pré-eclampsia durante as quatro semanas anteriores e agora teve complicações que causaram danos nos nervos oculares e cerebrais”, afirma o obstetra. “A sua cegueira será provavelmente permanente e o seu bebé também morreu devido à pré-eclampsia”, acrescenta.
O mesmo jornal revela ainda que o quartel militar da Papuásia-Nova Guiné, em Port Moresby, encontra-se em quarentena depois de terem sido identificados três casos de covid-19 (num militar da Papuásia-Nova Guiné, num militar australiano e numa mulher de 26 anos que tinha estado em contacto com um deles). No entanto, fontes locais revelam ao Guardian que as medidas de prevenção não estão a ser seguidas, o que gera preocupações relativamente à possibilidade de o surto se alastrar.
Embora a Papuásia-Nova Guiné tenha registado até agora apenas 11 casos de infecção pelo novo coronavírus, há receios de que as poucas infra-estruturas de saúde pública do país fiquem rapidamente sobrelotadas caso haja um surto.
Há mais de uma semana que a Papuásia-Nova Guiné não reporta novos casos de covid-19, mas as autoridades de saúde têm vindo a reunir esforços para averiguar se há infecções que não foram ainda identificadas. Em todo o país, cerca de dez mil pessoas foram submetidas a testes de diagnóstico à covid-19, principalmente em províncias onde foram registados casos positivos, incluindo na capital. O departamento de controlo de emergências da Papuásia-Nova Guiné garante que cerca de 300 pessoas mostraram ter anticorpos contra a covid-19.