Quem é Ghislaine Maxwell, a socialite britânica envolvida no caso Epstein?
Ghislaine sempre esteve habituada às luzes da ribalta - mas não desta maneira. A ex-namorada, melhor amiga e “faz tudo” de Jeffrey Epstein, foi detida esta quinta-feira por ser suspeita de ser cúmplice na rede de tráfico sexual de menores liderada pelo multimilionário. A polícia procurava-a há mais de um ano.
Ghislaine é a filha mais nova — e alegadamente a preferida — de Robert Maxwell, ex-magnata da imprensa britânica. Habituada a uma vida de luxo e sempre rodeada de figuras importantes, Ghislaine ficou desamparada depois da morte do pai, que ela tanto temia quanto adorava. Jeffrey Epstein tornou-se no seu substituto. Na quinta-feira, a socialite de 58 anos foi detida pelo FBI e acusada de recrutar raparigas, algumas com apenas 14 anos, para a casa de Epstein, onde foram vítimas de abuso sexual.
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Ghislaine é a filha mais nova — e alegadamente a preferida — de Robert Maxwell, ex-magnata da imprensa britânica. Habituada a uma vida de luxo e sempre rodeada de figuras importantes, Ghislaine ficou desamparada depois da morte do pai, que ela tanto temia quanto adorava. Jeffrey Epstein tornou-se no seu substituto. Na quinta-feira, a socialite de 58 anos foi detida pelo FBI e acusada de recrutar raparigas, algumas com apenas 14 anos, para a casa de Epstein, onde foram vítimas de abuso sexual.
Quem é Ghislaine Maxwell? É a filha do magnata britânico da comunicação social, Robert Maxwell, que tinha grandes planos para a filha predilecta. Nada era demasiado bom para ela mas nada que ela fazia era suficiente, conforme descreve The Sidney Morning. Desde cedo que Ghislaine ganhou o gosto pelo caro e pelo privilégio: a casa onde cresceu, em Oxford, era uma mansão italiana com 53 quartos; estudou no colégio interno Marlborough College e na Universidade de Oxford, lembra a New Yorker. Gosta de viajar em aviões privados, helicópteros e iates; e estava habituada a conviver com presidentes, primeiros-ministros e homens de poder. Robert Maxwell, magnata de origens humildes — teve o primeiro par de sapatos quando tinha 4 anos, diz a Vanity Fair —, sempre apostou na ascensão social dos filhos, sobretudo na de Ghislaine, de chegar a círculos onde ele mesmo desejava ver-se integrado. Sonhava até com criar uma aliança com a família Kennedy ao casar Ghislaine com John F. Kennedy, Jr..
Aos 21 anos, Robert Marxwell escolheu Ghislaine para directora do seu clube de futebol, o Oxford United, e deixou-a encarregue de uma empresa de brindes publicitários para empresas. No final dos anos 1980, Ghislaine fundou o Kit Kat Club, com o objectivo de unir as mulheres britâncias, nas áreas das artes, política e sociedade. A vida promissora da socialite mudou radicalmente quando o pai foi encontrado morto, em 1991, nas ilhas Canárias, depois de ter caído do seu iate de luxo, o Lady Ghislaine. Na altura, a jovem estava em Nova Iorque, representando os interesses do pai no New York Daily News, recorda a New Yorker. O tablóide tinha sido a última aquisição do império mediático de Robert Maxwell, que já detinha a editora Pergamon Press e o Mirror Group Newspapers — detentor de seis jornais britânicos como o Daily Mirror e o Sunday People.
Robert Maxwell desviou fundos do Mirror Group Newspapers — os valores mencionados variam entre os 500 e os 900 milhões de dólares —, deixando as consequências para a mulher e os filhos que herdaram um apelido manchado pelo escândalo. Nos documentos do pai, Ghislaine encontrou o nome Jeffrey Epstein, um financeiro que terá ajudado o seu progenitor em desvio de fundos.
Sem um futuro aparente na Grã-Bretanha aos 30 anos, Ghislaine mudou-se para Nova Iorque. Segundo o The Sydney Morning, um fundo fiduciário estabelecido no Liechtenstein dava-lhe um rendimento de cerca de 80 mil libras por ano (89 mil euros) e a socialite arrendou um apartamento no Upper East Side, por dois mil dólares por mês enquanto trabalhava na sua rede de contactos. Pouco tempo depois, começou uma relação com Epstein, de 38 anos.
Uma relação de interesses
Embora Ghislaine sonhasse com o casamento, este não estava nos planos de Epstein, que tinha um conhecido interesse por mulheres mais jovens. No entanto, acabaram por desenvolver uma relação de interesses, onde ambos tinham algo a ganhar, apontam os media internacionais. O magnata norte-americano apareceu na vida de Ghislaine numa altura particularmente vulnerável, garantindo-lhe estabilidade financeira e todos os luxos a que estava habituada. Na verdade, acabou por surgir como um salvador que Ghislaine venerava. Já a socialite britânica oferecia classe e contactos, algo essencial para Epstein, para além de lhe abrir os olhos para o mundo do luxo que este tinha na palma da mão. “Ele tinha o dinheiro mas não sabia o que fazer com ele. Ela mostrou-lhe”, conta uma das vítimas do financeiro, citada por diversos órgãos de comunicação social.
Quando Ghislaine se mudou para Nova Iorque, em 1991, Epstein vivia num apartamento com apenas um quarto. Segundo o The Sydney Morning, no ano seguinte, mudou-se para uma grandiosa casa no Upper East Side que custava 15 mil dólares por mês. Três anos depois, comprou uma das maiores casas privadas em Nova Iorque, que ocupava meio quarteirão. Epstein tinha também uma fazenda no Novo México, uma ilha privada nas Ilhas Virgens e uma casa em Palm Beach, na Flórida, que custou 2.5 milhões de dólares.
O trabalho da socialite britânica, que aparecia em todas as inaugurações, festas e jantares importantes em Nova Iorque, era gerir as propriedades de Epstein e a sua vida, profissional e pessoal. Euan Rellie, um banqueiro presente num dos muitos jantares que Ghislaine dava na residência de Epstein, descreve-a como parecendo “metade-ex-namorada, metade-empregada, metade-melhor-amiga e faz-tudo” do magnata, cita o The Sydney Morning.
Numa entrevista no programa Newsnight, o príncipe André, filho da rainha Isabel II, contou que conhecia Ghislaine desde a universidade e que foi ela quem o apresentou a Epstein, em 1999. Desde esse ano que os três fizeram diversas viagens juntos, incluindo no 40.º aniversário do príncipe e umas férias na Tailândia.
Durante a primeira investigação do FBI que levou à detenção de Epstein em 2008, o nome de Ghislaine não surgiu, apesar de aparecer em diversas mensagens, notas, registos de voos e outros documentos encontrados na casa do magnata. Mas, publicamente, ela foi associada aos crimes. Não há registo de Ghislaine ter visitado o financeiro durante os 13 meses que esteve preso. Depois disso, a socialite afastou-se de Epstein – não há fotografias dos dois e Ghislaine teve outros namorados. Entretanto, anunciou o lançamento do The TerraMar Project, em 2012, uma organização não-governamental dedicada à preservação dos oceanos. O projecto já caminhava a passos largos para a falência, quando, em 2019, Epstein foi preso. Uma semana depois, a organização fechou as portas.
Desde 2008 que testemunhos de alegadas vítimas de Epstein mencionavam Ghislaine, implicando-a no esquema de tráfico sexual de menores — alegadamente, a mulher recrutava as vítimas e encarregava-se de que tudo corresse bem entre essas vítimas e os agressores. Há relatos de que a “madame Epstein”, como uma das vítimas lhe chamava, normalizava os abusos ao tentar construir uma relação com as raparigas. Levava-as às compras, despia-se à frente delas, falava sobre sexualidade. Podia estar no quarto a ver as raparigas e Epstein ou até participava nos abusos.
Ghislaine, suspeita de ser cúmplice na rede de tráfico sexual de menores liderada por Jeffrey Epstein, desapareceu depois deste ter sido preso, em Julho de 2019. O financeiro foi encontrado morto na prisão, um mês depois. Então, a mulher já era procurada pela polícia, mas só foi detida nesta quinta-feira, em New Hampshire, EUA.
Texto editado por Bárbara Wong