Guggenheim abre investigação sobre exposição de Basquiat depois das acusações de racismo
Chaédria LaBouvier, artista convidada a assumir a curadoria de Basquiat’s ‘Defacement’: The Untold Story, em 2019, diz que trabalhar com a curadora-chefe do museu nova-iorquino foi uma das experiências profissionais mais racistas da sua vida.
Depois de, no início da semana passada, os curadores do Museu Guggenheim terem enviado uma carta aos seus superiores, acusando a instituição de fomentar um “ambiente de trabalho desigual que permite o racismo, a supremacia branca e outras práticas discriminatórias”, a fundação abriu uma investigação independente para apurar as circunstâncias da exposição Basquiat’s ‘Defacement’: The Untold Story, que esteve patente em Nova Iorque entre 21 de Junho e 6 de Novembro do ano passado.
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Depois de, no início da semana passada, os curadores do Museu Guggenheim terem enviado uma carta aos seus superiores, acusando a instituição de fomentar um “ambiente de trabalho desigual que permite o racismo, a supremacia branca e outras práticas discriminatórias”, a fundação abriu uma investigação independente para apurar as circunstâncias da exposição Basquiat’s ‘Defacement’: The Untold Story, que esteve patente em Nova Iorque entre 21 de Junho e 6 de Novembro do ano passado.
A decisão responde a um dos apelos dos autores anónimos da carta, que fizeram referência ao facto de a artista negra Chaédria LaBouvier, convidada pelo museu a assumir a curadoria da mostra, não ter sido chamada a integrar um painel de debate sobre a exposição (a curadora, ainda assim, fez questão de marcar presença no evento público e, da plateia, acusou a instituição de desvalorizar as suas contribuições).
Num tweet publicado há sensivelmente um mês, LaBouvier salientou que não deixa de se sentir extraordinariamente “orgulhosa” por ter sido “a primeira curadora e criadora negra” na história do Guggenheim, argumentando, ainda assim, que trabalhar com Nancy Spector, a directora artística e curadora-chefe da fundação, foi “a experiência profissional mais racista da [sua] vida”. Spector – que, contactada pelo New York Times, não teceu qualquer tipo de comentário sobre esta polémica – iniciou, a 1 de Julho, um período sabático de três meses, embora o museu não tenha clarificado até que ponto esta ausência está directamente relacionada com as críticas dos trabalhadores.
Entretanto, e já esta segunda-feira, foi enviada uma segunda carta à administração, desta feita escrita por 71 antigos funcionários do Guggenheim e 100 actuais membros dos quadros. Nela, os signatários referem que a incapacidade do museu para criar “um ambiente de trabalho diversificado e equitativo” resultou “numa cultura interna que se recusa a assumir responsabilidade pela violência infligida sobre as pessoas negras, indígenas e de cor”. “O Guggenheim não pode dizer que é uma das principais instituições artísticas sem, em primeiro lugar, corrigir os seus erros e se comprometer com uma acção de mudança concreta”, destacam os autores.
Na carta, os trabalhadores sugerem 22 “orientações” ao museu, entre as quais, aponta o New York Times, “treino anti-racista” para todos os funcionários, uma “revisão do sistema de whistleblowers” do Guggenheim – na semana passada, os autores da primeira carta não assinaram o documento por medo de perseguição e represálias – e a criação de um posto na direcção com o papel específico de “promover a igualdade racial”.
Uma porta-voz do Guggenheim confirmou que a administração recebeu as várias cartas e Richard Armstrong, director do museu, clarificou que a fundação deseja, daqui para a frente, estimular “um diálogo aberto sobre mudanças importantes que precisam de ser feitas”. Num comunicado enviado esta quinta-feira aos trabalhadores, a direcção garantiu que está a “rever todas as suas estruturas e políticas” para “garantir que ninguém é maltratado, desrespeitado ou discriminado pelo que quer que seja”.
Citado pelo New York Times, Blake Paskal, que trabalhou no Guggenheim entre 2017 e 2019, defende que o museu “deve um pedido de desculpas” a Chaédria LaBouvier. Negro e gay, Paskal sustenta que se revê nas lutas com que se confrontou a artista e comissária e sublinha que, tal como a curadora de Basquiat’s ‘Defacement’, também teve uma relação profissional acrimoniosa com Nancy Spector.
Paskal lembra que, apesar da curta duração da sua passagem pelo Guggenheim, chegou a trabalhar à distância com Spector durante dois meses na organização dos eventos Summer of Know. Os dois só se terão conhecido pessoalmente na noite da inauguração do programa – uma noite que Paskal define como “uma das experiências mais desmoralizadoras” que teve “enquanto jovem profissional”. “A única coisa que me perguntou foi se eu era um estagiário. Durante aquele tempo todo, ela deve ter pensado que estava a trocar e-mails com uma pessoa branca”, diz.
Os funcionários que assinaram a mais recente carta endereçada à administração receberam a resposta da direcção com “optimismo cauteloso”. Numa nota, escrita esta quinta-feira, os trabalhadores sublinham que “o Guggenheim tem tudo a ganhar” com a criação de “medidas concretas e duradouras” que permitam a construção de um futuro baseado em “confiança”.