Autoridades descodificaram chat global usado para planear assassinatos, vender droga e lavar dinheiro
Só no Reino Unido foram capturados 740 suspeitos de crimes desde Abril e apreendidas mais de duas toneladas de drogas, 77 armas de fogo e 59 milhões de euros.
As autoridades europeias conseguiram infiltrar uma plataforma de comunicação encriptada usada por milhares de criminosos em todo o mundo para vender drogas, organizar assaltos e planear assassinatos de grupos rivais. Durante dois meses a informação partilhada no serviço Encrochat foi usada para acompanhar actividades ilegais em segredo, permitindo detenções em vários países, incluindo França, Noruega, Países Baixos e Suécia. Só no Reino Unido, foram capturados 740 suspeitos de crimes desde Abril e apreendidas mais de duas toneladas de drogas, 77 armas de fogo e 59 milhões de euros (54 milhões de libras).
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As autoridades europeias conseguiram infiltrar uma plataforma de comunicação encriptada usada por milhares de criminosos em todo o mundo para vender drogas, organizar assaltos e planear assassinatos de grupos rivais. Durante dois meses a informação partilhada no serviço Encrochat foi usada para acompanhar actividades ilegais em segredo, permitindo detenções em vários países, incluindo França, Noruega, Países Baixos e Suécia. Só no Reino Unido, foram capturados 740 suspeitos de crimes desde Abril e apreendidas mais de duas toneladas de drogas, 77 armas de fogo e 59 milhões de euros (54 milhões de libras).
A informação foi avançada esta quinta-feira num comunicado conjunto entre as autoridades francesas e europeias, o Serviço Europeu de Polícia (Europol) e a Unidade de Cooperação Judiciária da União Europeia (Eurojust). “Uma parte importante da operação é que as mensagens foram lidas pelas autoridades, em tempo real, por detrás dos ombros dos emissores que não suspeitavam [da operação]”, lê-se no comunicado sobre a operação internacional.
Os criminosos perceberam o problema a 13 de Junho, com a empresa a enviar um alerta a pedir aos utilizadores para deitarem fora os telemóveis. Mas as autoridades já tinham acesso a muita informação e os servidores foram fechados. “Os polícias estão a ter um dia em cheio”, terá sido uma das últimas mensagens enviadas, de acordo com as autoridades do Reino Unido.
“Fomos capazes de prevenir dezenas de crimes graves, incluindo liquidações e tortura”, resumiu Andy Kraag, director do Serviço de Investigação Nacional dos Países Baixos, em comunicado. “Investigações actuais foram aceleradas, mas também encontrámos muitas provas para novas investigações”, continuou Kraag. “O que apenas víamos em filmes estava a acontecer debaixo do nosso nariz.”
Investigação demorou anos
A investigação começou há mais de três anos. Em 2017 a Gendarmerie (a guarda republicana francesa) começou a investigar telemóveis com a plataforma Encrochat ao descobri-la em vários telemóveis apreendidos em detenções de grupos de crime organizado. Os servidores ficavam em França, mas a empresa não estava registada no país.
Num dos vários sites (que já não estão disponíveis) a Encrochat descrevia-se como uma solução encriptada que “garantia anonimidade”. Os dispositivos, com preços a começar nos 1000 euros, não vinham com câmara, GPS, ou microfone, e apagavam automaticamente toda a informação caso alguém introduzisse a palavra-passe incorrecta duas vezes seguidas ou activasse um código de emergência. De acordo com o comunicado da Europol, “não havia associação de dispositivo ou de um cartão SIM com a conta do cliente.” Ao todo, o serviço teria mais de 60 mil utilizadores, segundo dados da Agência Nacional do Crime, no Reino Unido, que também participou na investigação.
Nos últimos anos estes telemóveis eram frequentemente encontrados em operações de detenções de tráfico de canábis e centros de lavagem de dinheiro. Dado o aumento da plataforma em todo o mundo, em 2019 as autoridades francesas abriram uma investigação conjunta com a Eurojust e as autoridades dos Países Baixos, com a Europol a juntar-se em 2020.
O comunicado no site da Europol não esclarece como é que as autoridades conseguiram aceder à Encrochat nem como ficaram escondidas tanto tempo. “Foi possível instalar um dispositivo técnico para ir além da criptografia e ter acesso à correspondência dos utilizadores”, é a única explicação. O PÚBLICO tentou contactar a Europol para mais informações, mas não obteve informação até à hora de publicação desta notícia.
A Encrochat não é pioneira no mundo do crime. Em 2018, por exemplo, Vincent Ramos foi detido pelo FBI por vender Blackberrys personalizados, encriptados para facilitar vendas de cocaína e heroína a cartéis de droga nos EUA. Há muito que os criminosos utilizam redes e serviços encriptados para comunicar, com a tecnologia a ser descrita como o motor da criminalidade organizada na União Europeia pela Europol.
“Embora as actividades da Encrochat tenham parado, esta operação complexa mostra o âmbito global da criminalidade grave e organizada e da conectividade de redes de crime que usam os avanços da tecnologia para cooperar a um nível nacional e internacional”, conclui o comunicado da Europol.