Criticado por violar confinamento, ministro da Saúde da Nova Zelândia demite-se

Primeira-ministra Jacinda Ardern perde um aliado de peso quando aumentam as críticas sobre a gestão da pandemia, depois da declaração de vitória sobre o vírus, no início de Junho.

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Primeira-ministra Ardern atrasou o máximo que pôde a demissão de Clark Loren Elliott / Reuters

Criticado por ter violado o confinamento imposto pelo Governo da Nova Zelândia, por causa da covid-19, David Clark abandonou esta quinta-feira o cargo de ministro da Saúde. A demissão já era exigida há algum tempo pela oposição e surge numa altura em que o executivo se encontra debaixo de fortes críticas, por terem sido detectados novos casos da doença, pouco tempo depois de a primeira-ministra, Jacinda Ardern, ter declarado que o vírus tinha sido erradicado do país.

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Criticado por ter violado o confinamento imposto pelo Governo da Nova Zelândia, por causa da covid-19, David Clark abandonou esta quinta-feira o cargo de ministro da Saúde. A demissão já era exigida há algum tempo pela oposição e surge numa altura em que o executivo se encontra debaixo de fortes críticas, por terem sido detectados novos casos da doença, pouco tempo depois de a primeira-ministra, Jacinda Ardern, ter declarado que o vírus tinha sido erradicado do país.

“Foi sendo cada vez mais claro para mim que a minha continuação no cargo era uma distracção à resposta do Governo, como um todo, à covid-19 e à pandemia global”, justificou Clark, que reconheceu ter feito um passeio até uma praia, em família, a 20 quilómetros de sua casa, em Abril, quando estava em vigor o mais alto nível de alerta na Nova Zelândia. 

O ex-ministro fez outra deslocação, até uma montanha próxima, para andar de bicicleta com a família.

Apesar das críticas, Jacinda Ardern tinha vindo a rejeitar a saída de Clark, sublinhando o seu papel decisivo na resposta do país à pandemia, vista pela comunidade internacional como uma das mais bem-sucedidas – a Nova Zelândia conta com cerca de 1500 infectados e 22 mortos por covid-19.

A primeira-ministra trabalhista acabou por aceitar a demissão, mas perdeu um aliado de peso para os próximos dois meses, que antecedem as eleições legislativas neozelandesas.

Três anos depois de se ter tornado na chefe de Governo feminina mais jovem do mundo (tem 39 anos, actualmente), Ardern continua a ser bastante popular, e conta como principais trunfos a resposta solidária ao tiroteio do ano passado, em Christchurch, e a gestão eficaz da crise do coronavírus.

Mas as polémicas e gaffes de alguns dos seus ministros levaram a oposição conservadora a dizer que há falta de talento no seu Governo, um argumento com potencial para prejudicar a sua campanha para a eleição de Setembro. 

“Ardern não tem confiança em mais ninguém”, disse o líder da oposição, Todd Muller.

Segundo as sondagens publicadas na semana passada, o Partido Nacional conseguiu reduzir alguma da desvantagem que tinha para o Partido Trabalhista, e há quem justifique essa recuperação com a identificação de novos casos de covid-19, alguns deles resultantes de falhas na imposição de medidas pelo Governo, segundo a Reuters.

No início de Junho, a primeira-ministra declarou vitória sobre o vírus, dizendo que tinha sido eliminado do país. Ainda assim, depois de levantar as restrições de isolamento social, alertou para a eventualidade quase garantida de serem detectados novos casos.

Poucos dias depois do anúncio de Ardern, duas mulheres vindas do Reino Unido foram autorizadas a fazer uma quarentena mais reduzida e acabaram por testar positivo para o vírus.

Para o professor de Ciência Política da Universidade Massey de Auckland, Grant Duncan, a oposição encontrou uma boa oportunidade para falar sobre a “incapacidade do Governo para cumprir o que prometeu” e sobre a “incompetência” de alguns dos seus membros.