Um dos contos de Uma Ida ao Motel e outras histórias, de Bruno Vieira Amaral

Chega nesta sexta-feira às livrarias o novo livro do Prémio José Saramago 2015, editado pela Quetzal. São trinta histórias e pode ler uma delas aqui: Wilson, Almada, Angola.

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Nuno Ferreira Santos

Wilson Júnior Barros. Wilson. Antes de tudo, o nome. Wil. Son. Gilson? Welson? Edson? Não. Wilson, «mas os amigos chamam-me Júnior ou Tika». Então, Wilson. «És de onde?» Pensa, Wilson, no que quer o teu colega saber. Quer saber se és de Lisboa? Amadora? Margem Sul? Não. Ele perguntou-te de onde és e isso, em linguagem de branco, quer dizer de onde vieste, de onde veio a tua família, os teus antepassados, os ramos e as raízes do teu embondeiro genealógico (se ele soubesse o que é um embondeiro). Que és dos subúrbios já ele sabe ou calcula. Os brancos são rápidos a fazer contas geográficas de cabeça. África é que lhes complica o raciocínio. Ainda não aprenderam a distinguir um cabo-verdiano de um guineense («são mais escuros, não são?»), um angolano de um moçambicano, nem estão preocupados com escalas de negritude.

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Wilson Júnior Barros. Wilson. Antes de tudo, o nome. Wil. Son. Gilson? Welson? Edson? Não. Wilson, «mas os amigos chamam-me Júnior ou Tika». Então, Wilson. «És de onde?» Pensa, Wilson, no que quer o teu colega saber. Quer saber se és de Lisboa? Amadora? Margem Sul? Não. Ele perguntou-te de onde és e isso, em linguagem de branco, quer dizer de onde vieste, de onde veio a tua família, os teus antepassados, os ramos e as raízes do teu embondeiro genealógico (se ele soubesse o que é um embondeiro). Que és dos subúrbios já ele sabe ou calcula. Os brancos são rápidos a fazer contas geográficas de cabeça. África é que lhes complica o raciocínio. Ainda não aprenderam a distinguir um cabo-verdiano de um guineense («são mais escuros, não são?»), um angolano de um moçambicano, nem estão preocupados com escalas de negritude.